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Um estado brasileiro na África?
AGO/14
A República de Cabo Verde completou 39 anos de independência. São nove ilhas e uma ilhota. Dez pontos de terra firme, perdidos no meio do Oceano Atlântico.
Esse punhado de ilhas, localizado a pouco mais de seiscentos quilômetros da Costa Africana, próximo ao Senegal, é o arquipélago de Cabo Verde. Das dez ilhas apenas uma, Santo Antão, pode se dizer que tenha cobertura vegetal. As demais têm pouca ou pouquíssima vegetação, sobressaindo apenas pedras e areia. Muita areia.
Uma delas, a Ilha de Boa Vista, só tem areia. É como um pão careca. Cruza-se toda a ilha e não se vê um “pé de pau” como se fala no Nordeste. Dizem que a areia dessa ilha é trazida pelos ventos que sopram do Deserto do Saara. Outra, a Ilha do Fogo, é o cone de um vulcão, que emerge do mar e sobe a quase três mil metros de altura, depois da linha d´água. As demais são ilhas “normais” com vinte ou trinta quilômetros de extensão. A maior delas, a Ilha de Santiago, onde fica a capital, a Cidade da Praia, tem 64 quilômetros de comprimento por pouca mais de 20 de largura.
O Arquipélago de Cabo Verde foi descoberto por Diogo Gomes, em 1460, a mando da Coroa portuguesa. Não foi encontrado nas ilhas qualquer sinal de presença humana anterior a essa data. Nada que indicasse que algum dia o homem tivesse colocado o pé ali.
Desde sua descoberta permaneceu sob o jugo português, até 1975, quando se deu a independência de Portugal. 5 de julho é o Dia de Cabo Verde.
Dizem os historiadores que a independência do Brasil em 1822 teria desencadeado uma “onda de liberdade” no Cabo Verde, querendo se tornar independente de Portugal para se anexar ao Brasil. Mas, para isso, era necessário a anuência e proteção do governo brasileiro.
Em 1824, na tentativa de buscar apoio para esse movimento de libertação, um grupo de caboverdianos da cidade de Assomada, no interior de Ilha de Santiago, decidiu ir ao Brasil pedir apoio ao novo governo brasileiro, para se tornar mais um estado desse novo e grande país que surgia ao Sul do Equador.
Esse grupo, composto por vinte ou trinta pessoas, nunca chegou ao seu destino. Todos foram massacrados por tropas portuguesas, ao chegar ao porto da cidade de Praia, a capital do arquipélago, de onde partiriam para o Brasil. (Essa historia me foi contada por historiadores da cidade de Assomada).
Pois bem. Esse é o país que completa 39 anos de independência, com mais acertos que erros e uma lição de “como governar” com escassez de recursos.
A República de Cabo Verde e a Republica da Guiné Bissau, constituíam uma unidade administrativa de Portugal, eram parte das Colônias Ultramarinas de Portugal. Com o advento da independência, ocorrida em 1973 na Guine Bissau e em 1975, no Cabo verde, o que era “uma colônia” se transformou em dois países.
Havia a intenção de permanecer unidos. Porem a historia incumbiu-se de demonstrar o contrario. Um lado era rico (a Guiné possui terras férteis, muita água doce, recursos minerais e florestais) e o outro era pobre. Muito pobre. Somente um punhado de ilhas, cada uma com menos que a outra.
A independência dos países africanos ocorreu, em sua maioria, na segunda metade do Século passado por ingerência direta da Organização da Unidade Africana – OUA (hoje apenas UA – Unidade Africana), com apoio expresso da antiga União Soviética.
Após a independência, cada novo país se alinhava politicamente a Moscou, instituindo governos de tendência comunista, com partido único e economia centralizada.
A estatização dos bancos, das indústrias, a regulamentação e centralização da economia e a supressão das liberdades individuais já preconizavam dias difíceis para essas economias.
Com a Guiné Bissau e o Cabo Verde não foi diferente.
A Guiné Bissau, “o primo rico” meteu-se em guerras internas, golpes e contragolpes, que levaram sua economia à ruína, ostentando hoje o titulo de um dos países mais pobres do mundo.
O Cabo Verde, que nada tinha, ficava “de pires” na mão aguardando a boa vontade dos países da cortina de ferro.
No inicio da década de 90 do século passado o Cabo Verde optou pelo regime democrático, desestatização e abertura da economia para o capital internacional e eleições diretas em todos os níveis.
Com eleições regulares, alternância de poder, um sistema transparente de governo, economia privatizada e um baixo nível de corrupção (baixíssimo, se comparado ao Brasil), o Cabo Verde deu a volta por cima.
Para um país que nada tinha para oferecer a seus jovens a não ser a possibilidade de ir embora (a população de Cabo Verde é estimada em 1,5 milhão de habitantes. Apenas 500 mil moram no Cabo Verde. Os demais estão espalhados pela Europa, Estados Unidos e Brasil. Boston, nos EUA, tem mais de 200 mil caboverdianos), agora assiste ao processo inverso. Todos os meses dezenas de cabo-verdianos, da diáspora, estão retornando ao país.
Problemas existem. Mas existe também a determinação de um povo em transformar um punhado de ilhas secas num lugar digno de se viver.
Esse é o país que completa 39 anos de independência política e que sonhou um dia em ser um estado brasileiro. Se aqueles bravos sonhadores tivessem conseguido seu intento, será que o arquipélago estaria melhor?
O Cabo Verde de hoje tem um lugar de destaque na concertação dos países africanos. Nos 39 anos de independência e 24 anos de independência econômica e social, o governo de Cabo Verde mostrou que a vontade dos homens, associada a um bom governo, supera todas as dificuldades e adversidades impostas pela natureza.
Altair Maia
Consultor Internacional
www.africanner.com
Skype: altair2001 / E-mail: altair2001@yahoo.com