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O samaritano generoso
“Pois vai, e faze tu o mesmo” – Lucas, X:37
Edição de fevereiro/2019 – p. 26
O samaritano generoso
No Evangelho de Lucas, Cap. X, v.25-37, Jesus conta a parábola do Bom Samaritano que, por atender a um necessitado na beira do caminho, é indicado como modelo e exemplo a ser seguido. Um sacerdote e um Levita também passaram pelo local e não deram assistência ao homem ferido e o samaritano, que era o estrangeiro desprezível aos olhos dos judeus ortodoxos, tido e havido por eles como herege, socorreu o necessitado, e assim foi apontado pelo Mestre como padrão aos que desejarem trabalhar por sua evolução espiritual.
Jesus ensina com toda clareza, que para a evolução espiritual não basta memorizarmos textos das escrituras. O que é preciso, o que é essencial é pormos em prática, vivenciarmos a lei de amor e de fraternidade que Ele nos veio revelar e exemplificar. Allan Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, coloca como lema da Doutrina Espírita “Fora da Caridade não há Salvação”. A bandeira sectarista das religiões apegadas ao velho exclusivismo é substituída pela bandeira cristã do “amai-vos uns aos outros”. Chega mesmo a esclarecer que não devemos dizer “Fora da verdade não há salvação”, porque cada qual interpretando a verdade a seu modo, esse lema serviria para perpetuar na Terra as lutas religiosas, que são a própria negação da religião. A caridade, pelo contrário, a todos une e a ninguém condena, como ensinou o apóstolo Paulo.
Qual o verdadeiro sentido da palavra “caridade”, segundo Jesus a entendia? Resposta: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”. Comentando essa resposta, que encontramos na pergunta 886 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec anotou: “A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores”.
No livro “O Homem Novo”, J. Herculano Pires registra:
“Compreendida conforme a compreendia Jesus, e de acordo com a bela definição do apóstolo Paulo, a Caridade foi o escudo do Espiritismo, na batalha sem tréguas da sua propagação. Em vão se ergueram contra a nova doutrina todas as forças dominantes do mundo. À maneira do Cristianismo, que venceu pela força do amor, o Espiritismo foi dobrando todas as resistências, através da prática da caridade, em todas as suas formas de manifestação. Desde a caridade de uma palavra de compreensão e estímulo, até a concretização das campanhas humanitárias e das instituições de assistência ao próximo.
“Tão grande, porém, é ainda a inferioridade humana, que até mesmo no meio espírita encontramos dificuldades para a verdadeira colocação do problema espiritual da caridade. Muitos o interpretam em termos materiais, apegados ao conceito de caridade como esmola, e outros, em contraposição, condenam o aspecto material da caridade, apegando-se apenas ao conceito de caridade como ajuda espiritual, através de conselhos ou preces. A caridade, entretanto, é como a luz, que, sendo única, manifesta-se por variadas formas”.
E mais adiante, conclui o saudoso Herculano: “Distribuir recursos aos pobres, dar esmolas, ou construir abrigos, asilos, hospitais, orfanatos, são formas objetivas da caridade, que enobrecem quem as pratica, mas nunca devem ser motivo de orgulho e vaidade, porque as formas objetivas são meios de conduzir nosso Espírito às manifestações mais puras da caridade, que constituem suas formas subjetivas. Se em vez de utilizarmos daquelas como meios, delas nos servirmos como fins, interrompemos o processo natural do desenvolvimento da caridade em nós mesmos, e acabamos por destruir os germens divinos em nossos corações. É por esse motivo que fundadores e diretores de instituições caridosas acabam, muitas vezes, necessitando de caridade”.
Referência bibliográfica: PIRES, J. Herculano. O Homem Novo. Edições “Correio Fraterno”