História escrita à bala

História escrita à bala

Na pistola de ar de 10 metros, o paulistano Felipe Wu conquista a primeira medalha brasileira nos Jogos Rio 2016

por Luiz Humberto Monteiro Pereira

jogoscariocas@gmail.com

O paulistano Felipe Wu conquista a primeira medalha brasileira nos Jogos Rio 2016 - Foto: Wander Roberto/Exemplus/COB
O paulistano Felipe Wu conquista a primeira medalha brasileira nos Jogos Rio 2016 – Foto: Wander Roberto/Exemplus/COB

Agora, quando os repórteres vierem me entrevistar, vão lembrar da medalha de 2016 e não somente daquela de 1920”. Apesar do jeito normalmente contido, é com humor que o paulistano Felipe Wu avalia a importância da medalha de prata na pistola de ar 10 metros, conquistada no dia 6 de agosto, primeiro dia de competições nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. A referência à “medalha de 1920” é relativa às conquistas nos Jogos da Antuérpia – ouro com Guilherme Paraense na pistola rápida, prata com Afrânio da Costa na pistola livre e bronze por equipes na pistola livre –, que foram as primeiras medalhas olímpicas brasileiras e as únicas do tiro esportivo conquistadas pelo Brasil em Olimpíadas. Isso até o estudante de engenharia aeroespacial na Universidade Federal do ABC, aos 24 anos, finalizar a competição no Parque Olímpico de Deodoro com 202,1 pontos. Foi superado apenas pelo vietnamita Xuan Vinh Hoang, com 202,5 pontos. “Eu era o mais novo desta final e espero ainda ter outras grandes finais pela frente”, avalia Felipe.


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A trajetória até a final não foi fácil. Na fase classificatória, Felipe chegou a estar na 25ª posição. Recuperou-se e chegou à final, na sétima posição. A cada tiro, a torcida brasileira gritava seu nome. “Quando estava de cabeça baixa, eu ouvia os gritos dos torcedores e isso foi muito bom”, ressalta o atleta que, no início deste ano, ela estava na 44ª colocação no ranking da Federação Internacional de Tiro (ISSF), mas chegou às Olimpíadas do Rio como líder do ranking mundial após vencer duas etapas do Mundial da categoria em 2016. Para conseguir essa arrancada, teve de trancar a faculdade. “Pretendo retomar as aulas da faculdade de Engenharia em setembro, pois gosto de estudar”, explica.

Felipe começou a praticar tiro aos 8 anos, por incentivo dos pais, que são treinadores da modalidade. Mas só começou a levar a sério aos 11 anos. Até a preparação para o Pan de Toronto em 2015, quando foi ouro, treinava em um estande de tiro improvisado no quintal de sua casa, no bairro paulistano do Itaim. Nos preparativos para as Olimpíadas do Rio, Felipe enfrentou dificuldades financeiras. Suas armas são importadas e uma caixa de munição custa R$ 400 – ele usa uma por treino. As despesas são bancadas com a ajuda da bolsa pódio do Ministério do Esporte e também do programa de apoio ao atletas de alto rendimento das Forças Armadas. Como terceiro-sargento do Exército, recebe para se dedicar exclusivamente aos treinamentos. “Sendo civil, eu não posso ter arma de fogo até os 25 anos, por causa da lei do desarmamento. Como militar, posso ter arma a partir dos 18 anos”, complementa. O fato de ter batido continência quando hastearam a bandeira brasileira durante a entrega da medalha rendeu alguma polêmica. De acordo com Comitê Olímpico Internacional, esse tipo de ação é proibida e pode determinar a retirada da medalha. Mas é pouco provável que ocorra alguma punição.

Durante a competição olímpica, Felipe enfrentou problemas físicos. “O ombro doeu desde o início da prova, mas a fisioterapeuta do COB me ajudou no período entre a fase classificatória e a final. Atleta está acostumado a competir com dor”, minimiza. Ele acredita que sua medalha pode ajudar o tiro esportivo a superar o estigma de que a modalidade seja violenta. “Espero que este resultado mude a mentalidade das pessoas. Nossa confederação é uma das únicas que não tem patrocínio, porque as pessoas ainda ligam muito o tiro esportivo a outras questões”, torce.

Felipe namora Rosane Budag, que também faz parte da equipe brasileira de tiro esportivo nos Jogos Rio 2016 – na categoria carabina de ar 10 metros, ela terminou na 50ª posição. Juntos há dois anos e meio, receberam autorização do COB para dividirem o quarto no apartamento da equipe de tiro esportivo na Vila Olímpica – pelas regras da entidade, homens e mulheres não compartilham quartos. “Mas não dividimos a cama, tudo tem hora certa e esse não é o momento. Ir a uma Olimpíada já é fantástico. Poucas pessoas têm a chance que eu e a Rosane estamos tendo, de irmos juntos”, festeja.

Felipe Wu volta a competir nas Olimpíadas às 9 h da manhã do dia 10 de agosto, nas finais da pistola livre 50 metros. “Eu sou realista, meu foco são os 10 metros. É onde tenho os melhores resultados. Mas a partir do dia 7, passei a só pensar nos 50 metros”, pondera o mais novo medalhista olímpico brasileiro. “Vou começar a comemorar mesmo a partir do dia 10”, avisa.

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