Fraude no Conselho de Emigrantes, às barbas do Itamaraty

A última acusação de fraude nas eleições do Conselho de Representantes das Comunidades Brasileiras, mais conhecido como CRBE, publicada no blog betomoraes.com e reproduzida pelo jornal da comunidade emigrante brasileira Brazilian Voice (Leia aqui) reabriu uma questão arquivada às pressas, há um ano e meio, pelo Itamaraty e pelos próprios titulares desse Conselho.


Mas é chegado o momento do próprio ministro Antonio Patriota, da chefe da Casa Civil, Gleisi Helena Hoffmann, e da presidente Dilma Roussef dedicarem cinco minutos de atenção a esse órgão que, no atual formato, compromete a própria política brasileira da emigração. Ou o governo cria alguma coisa realmente legítima para os emigrantes ou sairá desprestigiado, pois a cada semana se acumulam informações demonstrando a ineficácia desse Conselho e a maneira como vem sendo utilizado por alguns de seus membros por interesses meramente pessoais.

A questão das fraudes não é nova. Já havia sido levantada no online do jornal O Globo, quando algumas pessoas, nos EUA, desejosas de votar para um candidato ao CRBE, descobriram com surpresa que alguém já votara por elas, utilizando o número de seu passaporte, CPF, RG e outros tipos de identificação que os emigrantes deixam ao se inscrever numa associação, fazer um requerimento, abrir um crédito ou enviar dinheiro para a família.


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Agora, a denúncia feita pelo mineiro Antonio José Candido, ex-emigrante sem papéis nos EUA retornado a Goiás, é esclarecedora. Ele presenciou a venda de um pacote de nomes, cerca de 1500, com todas as informações de cadastro deixadas na empresa Pão de Queijo Brasileiro, em Marlboro, Massachusetts.

A empresa não existe mais e seus ex-proprietários não foram localizados mas o testemunho de Antonio José Cândido, justamente por confirmar suspeitas, não pode ser ignorado, nem colocado embaixo do tapete e muito menos minimizado pelo Itamaraty.

Caso o Itamaraty faça o papel do avestruz, não querendo assumir a responsabilidade por eleições não seguras, isso só servirá para desmoralizar ainda mais, algo que não conseguiu se impor junto aos emigrantes.

Usando de minha recente titularização no CRBE, depois de uma vergonhosa e antidemocrática tentativa de alguns membros de me expulsarem por delito de opinião, e me reconhecendo como porta-voz de todos quantos querem uma transformação do CRBE num órgão realmente representativo dos emigrantes e não tutelado por diplomatas, enviei um pedido ao Itamaraty para investigar a denúncia. É caso de sindicância ou inquérito.

Entretanto, denúncias de fraude indireta tinham também sido levantadas pelo ex-titular do CRBE Khaled Haymour, pelo Líbano. Expedientes os mais diversos foram utilizados para obter votos, sejam jantares ou festas. Khaled formalizou a denúncia ao Itamaraty mas não teria obtido qualquer resposta e qualquer medida de investigação, preferindo diante disso renunciar.

O clima assumiu feições de distribuição de mordomias, quando o Itamaraty ofereceu aos titulares e suplentes do CRBE a possibilidade de serem Consules Honorários, caso vivam em cidades sem embaixada e sem consulado. Que representatividade podem ter tais pessoas, quando se sabe que todos os votos reunidos por todos os candidatos ao CRBE totalizaram apenas 0,02 % da população brasileira emigrante ? Entretanto, a atual política de emigração permite que embaixadas possam ser seduzidas por alguns candidatos a Consul Honorário, sem representarem na verdade os emigrantes da região.

Nesta altura, se o governo não intervir, o CRBE poderá ser comparado com uma miniatura do clima de interesses pessoais, benesses, mordomia e vaidades pessoais que animam muitos setores da nossa República.

O CRBE não tem verba para funcionar, o que já bastaria para demonstrar sua ineficácia, mas possui alguns membros mecenas. E tais mecenas financiam viagens de alguns membros e do presidente licenciado do CRBE. A intenção pode e imagino deve ser boa, mas constitui um perigoso desvio pela ascendência econômica que tais mecenas passam a ter sobre seus favorecidos. Se o Itamaraty não dá verba para o CRBE funcionar, não pode também permitir, por uma questão de imparcialidade, o custeio de viagens de membros do CRBE por membros ou terceiros.

E o que dizer de alguns membros que por terem acesso ao Itamaraty se julgam diplomatas ? Sem se falar nos Conselhos de Cidadãos, recentemente recriados com os mesmos genes da época FHC, que são um faz-de-conta decidido, no final, pelo Consul ou representante diplomático local.

Correm rumores de que a falada IV Conferência Brasileiros no Mundo será em julho ou antes de julho e que a Funag já prepara o temário, convidados e o encontro em geral. Mas e os emigrantes nisso ?

Não seria melhor o Itamaraty fazer o I Encontro dos Diplomatas no Mundo, já que é o Itamaraty quem dita a política da emigração e se faz de emigrante, sem o ser, e tutela e enquadra os líderes emigrantes, quando outros países mostram ser necessária uma política independente dos emigrantes, sem sujeição ao Ministério das Relações Exteriores ?

A Televisão Monde francófona coloca numerosos anúncios diariamente convocando os emigrantes franceses para a eleição dos deputados emigrantes que legislarão pelos emigrantes na Assembléia Nacional, enquanto os franceses do Exterior se arregimentam numa entidade pública equivalente a um órgão institucional emigrante.

O que o Brasil espera ? Vai continuar aplicando a política paternalista e ineficiente junto aos emigrantes, quando o próprio PT, no seu congresso internacional em Londres, se pronunciou, como temos defendido, por um órgão institucional emigrante sem a tutela do Itamaraty ?

Está na hora dos emigrantes, considerados um mero mercado de associações comerciais e religiosas, dizerem um basta e exigirem do governo uma Secretaria de Estado para os emigrantes, sem qualquer tutela, e terem seus representantes no Parlamento.

Sem isso, tudo não passa de uma brincadeira, na qual se misturam fraudes, negócios, mordomias, consules honorários escolhidos na base da camaradagem e a feira de vaidades, no nome indevido dos emigrantes.

PS – o autor convida os emigrantes residentes em Nova Iorque e arredores para o encontro promovido pelo jornal Brazilian Times, dia 2 de Março, 18h30, na Casa do Brasil, em Nova Iorque, 43 Street número 4, no qual defenderá mais uma vez uma política de emigração sem tutela do Itamaraty e uma transição do atual CRBE para um órgão institucional emigrante, criação de parlamentares emigrantes e um amplo conselho de emigrantes tudo sem a tutela do Itamaraty. Nosso lema – assim como emigrante não é diplomata, os diplomatas devem deixar de querer se fazer de emigrantes.

Rui Martins , jornalista, escritor, líder emigrante, membro titular eleito do Conselho de Emigrantes CRBE.

Fonte: Correio do Brasil



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