Por que tantos desistem dos negócios na América?

Por que tantos desistem dos negócios na América?

Edição de julho/2016 – pág. 32

 

A quantidade de pessoas procurando estabelecer-se nos Estados Unidos cresce a cada dia. Desde aqueles que anunciam nas redes sociais a disponibilidade para quaisquer serviços, até os que se acham em condições de vir implantar o mesmo modelo de negócio que possuem ou possuíram no Brasil. O chavão é “sou um empresário bem-sucedido”. Evidentemente que, sem estar preparado para enfrentar um mercado altamente competitivo e aberto, as opções de negócios não aparecem como no Brasil, assim como a inibição da língua limita esses novos investidores a um pequeno nicho de mercado.

Pode-se enumerar algumas causas que os levam ao insucesso, no entanto, é difícil estabelecer a ordem das que mais afetam a decisão de recuar. Não existe um ranking que mostra qual causa é mais decisiva para a desistência da América, porém isso pouco vai acrescentar – ou diminuir – a pressão para o fracasso.


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Alguns fatores que fazem com que as pessoas desistam:

1. Língua

Não há como contestar que o brasileiro é inibido para expressar-se em inglês, principalmente se o assunto é negócio. O medo de trocar palavras e evitar erros de fonética implicam pouca oportunidade de fazer negócios em um mercado que entende a diversidade e respeita a etnia. Para superar isso, é importante estudar sempre e não ter medo de errar. Evidentemente que ter um bom produto para vender ou um serviço melhor e mais barato que os concorrentes faz com que o interesse pela negociação seja mútuo. Estudar e praticar são soluções para esse obstáculo.

2. Desconhecimento das leis

Extremamente usual é o brasileiro usar: “No Brasil, é assim” ou “É assim em qualquer parte do mundo”, mas não é. Este país tem leis muito claras e feitas para serem cumpridas. Achar que as leis daqui podem ser interpretadas como se faz no Brasil é certeza de problemas. Ademais, quando se trata de contrato, o brasileiro precisa ler, pois o contrato está acima de qualquer lei. O conselho é procurar cercar-se de profissionais quando for fazer negócios que envolvam contrato e saber, muito bem, se há leis que o protejam dos seus argumentos do que é certo ou errado. O modus operandi deve ser similar a qualquer outra concorrência no seu setor e nunca desprezar as leis como um diferencial para ganhar negócio.

3. Falta de pesquisa de mercado

O brasileiro – via de regra- já vem com a intenção formada do que fazer e no que se “meter” quando chegar à América. Sem orientação profissional e boa quantidade de opções para se estabelecer, vai direto naquilo que sonha ser a sua forma para ganhar o sustento no solo do Tio Sam. Porém, uma pesquisa, seja ela profissional ou pelo próprio interessado, pode “abrir os olhos” para não entrar em negócios ou empregos frustrantes. Boa opção é verificar negócios à venda naquilo que espera ser seu sustento. Por exemplo, se pensa em abrir ou comprar um dry-cleaning, vá conhecer quatro ou cinco deles que estão sendo vendidos e verifique os motivos disso. Essa é uma ótima oportunidade para descobrir o outro lado, bem como verificar a concorrência que enfrentará.

4. Falta de crédito

Além da obrigação de se legalizar diante das entidades federais, o brasileiro não dá importância para o fator de negócios mais importante nos Estados Unidos: o crédito. Falar de crédito não é pensar nos “equifax da vida”, mas sim falar na forma de administrar as finanças e compromissos comerciais. O crédito para negócios precisa ser baseado na reciprocidade com o cliente com quem está trabalhando ou com o fornecedor que está acreditando nesse negócio.

5. Pouca disposição para encarar o trabalho “from dawn to dust”

Culturalmente, pessoas que chegam aos Estados Unidos pensam em ter uma vida melhor, porém sem se subordinarem ao trabalho desde o nascer até o pôr do sol. Isso se deve ao estilo de vida que esse imigrante tinha, normalmente cercado de empregados ou em posições de gerenciamento em empresas ou, ainda, devido a ter possuído seus próprios negócios. Eles não querem sujeitar-se a uma vida de trabalho do nascente ao poente, mesmo que este seja só até entender como tudo funciona na América, onde o trabalho em si não é visto como “meio para atingir um fim”.

6. Achar desnecessário atualizar-se academicamente

Ao se achar “bem-sucedido” no Brasil, não entende como necessária a importância de se atualizar academicamente e voltar aos bancos escolares para um mestrado ou um curso complementar, estando no mercado sem ter nada a oferecer, além da vontade de mudar para um lugar melhor e mais seguro.

7. Escutar as pessoas erradas

Este tópico vem sendo um dos que eu mais insisto em artigos escritos no decorrer dos anos. O conselho do motorista da van ou do garçom do restaurante acaba sendo levado mais a sério do que o dos profissionais, que orientam como se estabelecer de forma concreta. Essa economia – deixar de pagar pela orientação profissional – será muito mais custosa quando descobrir que seguir o conselho errado o fez perder tempo e dinheiro, jamais repostos.

8. Agir como se estivesse no seu país

Facilmente entendido por seu aspecto empresarial ou empregatício, a atitude de agir, sem levar em conta a forma como as pessoas vivem socialmente e culturalmente na América, frustra o imigrante, pois ele sempre “agiu assim e deu certo”. Não é por acaso que vemos casos de pessoas deportadas por pequenos furtos, presas por beberem álcool acima do permitido ou envolverem-se em casos de “soliciting for prostitution” (quando uma policial disfarçada convence-os a tirarem dinheiro do bolso). Essas decisões frequentes e frustrantes levam-nos a serem banidos do convívio social da América.

9. Perseguir negócios não lucrativos

A análise de negócios na forma como a conhecemos no Brasil, em que o capital é o elemento mais importante para o sucesso de um empreendimento, esbarra na habilidade do negócio gerar resultados, no lugar de simplesmente capitalizá-lo e ter lucro. Esse tópico é extenso, vai da frustração do brasileiro em NÃO se satisfazer com um lucro de 10%, considerado alto para os moldes americanos, até o fato de esperar chegar à América e inventar um produto no qual ninguém “pensou antes”.

10. Desafiar regras de mercado

Mais uma vez a insistência em não contratar assessorias e buscar elementos sólidos para se estabelecer. A grande oferta no mercado americano, contrastando com a grande demanda no mercado brasileiro, culturalmente trazem pontos de decisão confusos para quem sempre achou que o cliente deve vir atrás dele, ao invés do contrário. Preço, como diferencial, e qualidade, como obrigação, são outros desafios do mercado americano que o brasileiro não consegue quebrar.

11. Decisões erradas para tirar visto

Lamentavelmente, esse comportamento de buscar quem vai falar o que se quer ouvir e não a verdade acontece muito. Incontáveis são os casos em que uma pessoa pula de advogado em advogado até encontrar um “facilitador” que falará o que ela quer ouvir, receberá seu dinheiro e o deixará na impossibilidade de estar legalmente estabelecido na América.

12. Saber a diferença entre “trabalhar e produzir”

Mais uma demonstração da cultura trabalhista embutida na mentalidade do nosso povo. As pessoas quando conseguem uma vaga de trabalho nos Estados Unidos pensam logo em cumprir horário de trabalho (não produzir). Ficam à disposição do chefe, no entanto, dificilmente têm a iniciativa de procurar produzir para o negócio ou empresa na qual trabalha, bem como evoluir e crescer. Assim, quando são substituídos, acham um absurdo porque não fizeram nada de errado. Esse comportamento é assunto para um artigo completo.

Todos os tópicos discutidos vêm contribuir para que as pessoas evitem tomar decisões inadequadas que poderiam ter sido evitadas com o planejamento correto. Mudar de país precisa ser avaliado de forma séria e profissional, não emocionalmente e por impulso.



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