No front em combate à covid nos EUA, enfermeira brasileira relata momentos sombrios na pandemia

A enfermeira Stefannia Ezzi fala dos desafios e empenho no combate ao coronavírus

 

Enfermeira de alto padrão – especializada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) –, em hospital dos EUA, atuando em Orlando, a brasileira Stefannia Ezzi faz relato impressionante no front em combate à Covid-19. Integrante da FEMA (Federal Emergency Management Agency), conta do aprendizado nas dificuldades com a doença

 

Da Redação


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Ela atua no front de combate à Covid-19, auxiliando pacientes em estado crítico da doença, driblando os inconvenientes de um momento grave em que o mundo atravessa com a pandemia. Enfermeira de alto padrão – especializada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) –, em hospital de Orlando, a brasileira Stefannia Ezzi também integra a FEMA (Federal Emergency Management Agency), órgão do governo federal em ação às catástrofes e eventos emergenciais que ocorrem nos EUA. Uma missão árdua, mas exercida com dedicação, em trajetória avassaladora – incansável –, desde março de 2020, passando por hospitais de Nova York e do Texas. “Agora a situação está um pouco melhor, após as vacinas, comparado ao mês de janeiro deste ano, com menos mortes, felizmente. Isso traz um pouco mais de tranquilidade às famílias e aos profissionais da saúde”, informa Stefannia.

 

Convocada para hospital de Nova York – “Em abril do ano passado, fui convocada para trabalhar no hospital de Nova York, no auge da doença, quando a situação era gravíssima, e Orlando estava mais calma na ocasião. Fiquei dois meses lá, e foi uma luta, pois ainda era tudo muito novo em relação ao vírus, não tínhamos equipamentos necessários para atender o contingente de pacientes infectados. São poucos os enfermeiros com especialização em UTI, e trabalhávamos ininterruptamente, sem folgas, com a gravidade de casos de contaminação, de intubação e gente morta”, relata.

“Depois fui convocada para o hospital do Texas, com o agravamento de casos lá, e como faço parte da FEMA, estou disponível às solicitações do governo. É uma área militar do governo federal, e atuamos em catástrofes e situações de emergência. Então fico lá e cá (Orlando). O Texas, no momento, teve expressiva melhora nos casos de covid, então permaneço em Orlando. O estado do Texas saiu do colapso na saúde para a abertura de cem por cento do comércio, inclusive, com a população saindo às ruas  sem máscara. Lá não é obrigatório o uso de máscara”, ressalta a enfermeira.

 

A luta para salvar vidas – Quanto aos percalços do combate à Covid-19, disse Stefannia que a doença, “pegou todos de surpresa”. “No início, quando se falava do vírus na China (Wuhan), não se dava tanta importância porque era uma situação bem longe de nossa realidade. No entanto, com a propagação do vírus pelo mundo, com as contaminações em crescente, nos Estados Unidos, a coisa mudou. No começo foi aterrorizante, trouxe um grande desgaste aos profissionais da área. Presenciei muitas cenas tristes, de famílias em desespero porque não puderam se despedir de seus entes queridos. E quando o paciente estava em estado terminal, ligávamos para a família, que  se despedia através do vídeo. Olha, foi muito comovente”, se emociona.

“Vivíamos uma montanha russa: o paciente apresentava melhoras e, pouco tempo depois o seu estado piorava. Era uma luta para driblar a morte, e eu fiz tudo ao meu alcance para salvar o paciente, mas era muito complexo. Saía do meu plantão deixando o paciente bem, no dia seguinte, quando voltava ao trabalho, ele não estava mais lá, tinha falecido”, lamenta.

“Para que as pessoas entendam a gravidade da covid, na UTI, em condições normais, morre um paciente por semana. Com o vírus, morreram até quatro pacientes em uma noite. Era assustador ver caminhão frigorífico estacionado ao lado do necrotério do hospital, onde corpos eram armazenados. Isso trouxe desgaste emocional. Durante o pico da pandemia, trabalhei 21 dias seguidos, sem folgas”, conta.

 

Observando pacientes – Ao ser indagada sobre a lição deixada pela Covid- 19, o aprendizado, apesar de eventos trágicos, Stefannia Ezzi foi enfática: “Aprendi que um vírus desconhecido pode jogar por terra tudo aquilo que pensávamos que sabíamos. Tive de estudar, tentar entender, fiz o que podia, mas Deus sabe de todas as coisas. As pessoas diante da doença, ficaram mais em casa, focaram na família. Pararam para pensar que família e amor realmente valem a pena. Lembro-me de famílias no hospital querendo ver o seu ente querido, mas impedida, devido ao alto índice de contaminação. As famílias  ficavam do lado de fora do hospital cantando músicas gospel, em oração. Alguns ficam embaixo das janelas, onde estavam os pacientes”, recorda.

“Foi um reset na vida de todos nós, e no mundo. E o que vale a pena?  Dinheiro? Trabalho? Tudo isso foi tirado de nós. Temos de ser gratos à saúde, à família. A família não se sentava junta para comer, estavam todos distantes. Pais que não sabiam o que acontecia com os seus filhos na escola. Estavam ocupados demais com o trabalho, compreende? Foi um ensinamento para todos nós”, aponta.

 

Fazendo Mestrado – “E todas às vezes que eu colocava o avental, era como se eu fosse para o campo de guerra. Inclusive, um amigo que estava comigo em Nova York, trabalhando no hospital, disse que aquela situação era pior que qualquer guerra. Não conseguíamos fazer o paciente melhorar. O meu amigo tinha estado na guerra a trabalho, e contou que as condições da covid eram piores que às condições do campo de guerra onde esteve. E o pós-trauma existe. Ficam sequelas de lembranças terríveis”, complementa.

“Hoje, com vinte e cinco por cento da população da Flórida vacinada, as condições são bem melhores. E as pessoas devem se vacinar, é a única forma de conter o vírus. Os imunizantes que estão sendo aplicados foram passados por vários testes, cientistas do mundo estão empenhados na mesma causa, de combate ao vírus. Sei que existem aqueles que resistem à vacina, mas é preciso vacinar. É a única luz no fim do túnel”, orienta.

 

Mais alta patente

Há 15 anos nos EUA, Stefannia Ezzi no momento está fazendo mestrado, Masters, e se formará como Nurse Practitioner, em alguns meses. É a mais alta patente que um profissional de Enfermagem pode atingir, podendo ter consultório – auxiliando, inclusive, o médico a prescrever medicamentos, entre outras atividades. E quanto à especialização em Unidade de Terapia Intensiva, disse que estudou Enfermagem e se formou nos EUA – depois tirando licença para trabalhar na área. Foi atuar em Cardiologia, posteriormente transferida para UTI, quando se especializou no setor.

 



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