Tips, por favor!

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Brasileiros e a importância da gorjeta nos Estados Unidos

Edição de agosto/2018 – p. 14 e 22

Se você é recém-chegado nos Estados Unidos já percebeu o famoso potinho, normalmente próximo do caixa dos restaurantes, com a palavra Tip escrita. Em tradução livre, tip significa gorjeta, e é um costume nos Estados Unidos: a tip não é opcional e você deve dar a gorjeta pelo seu serviço sempre. No Brasil, a gorjeta é vista muitas vezes de uma forma pejorativa. Em terras americanas, entretanto, qualquer prestação de serviço já se espera o oferecimento da tip por parte do cliente.

Há dois anos trabalhando como garçom, Clodomir conta que muita gente acaba esquecendo de acrescentar a gorjeta porque acha que o valor já vem incluído na conta. “Como no Brasil a cultura da tip é diferente, o cliente às vezes não nota que a conta vem ser o serviço incluído”, conta Clodomir Temóteo, descontraído. Ele conta ainda que muitos clientes questionam sobre o pagamento da gorjeta. “É comum que as pessoas perguntem para gente, na hora de dar a tip, ‘a gorjeta vai pra você?’, justamente porque no Brasil a gorjeta na verdade vai para o estabelecimento. Aqui não: se a gente não ganhar a gorjeta a gente basicamente não ganha salário. A gente trabalha pela gorjeta”, explica.


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Clodomir Temóteo, que trabalha como garçom no Gilson’s Restaurant, em Orlando, na Flórida (Foto: Jornal Nossa Gente)

O Gilson’s restaurant é muito popular tanto pela comunidade brasileira residente na Flórida Central, quanto pelos turistas que visitam a região e americanos que gostam da culinária brasileira. Gilson Marçal, proprietário do estabelecimento, explica como tenta minimizar o não pagamento da gorjeta aos funcionários. “Quando é uma mesa até quatro pessoas, a gente não inclui a tip. Porque o brasileiro não está acostumado a deixar, né? O americano, quando vem, seja duas pessoas ou mais, eles já sabem e já deixam a tip, porque aqui nos Estados Unidos, todo mundo vive de gorjeta. Eles estão acostumados e isso é de praxe para eles”, relata o empresário. Gilson conta ainda que, para mesas com muitas pessoas, é comum que os clientes até deixem a mais. “Quando é mesa com mais quatro pessoas, a gente já inclui os 18% e avisa o cliente. Ai se alguém reclama, como já aconteceu, a gente tira sem problema. Mas a grande maioria deixa os 18% e depois ainda dá mais, porque gostam muito do nosso serviço”, destaca.

Gilson Marçal, proprietário do Gilson’s Restaurant, em Orlando (Foto: Jornal Nossa Gente)

Geyse Dias vem aos Estados Unidos pelo menos duas ao ano. Ela lembra que, por pura falta de atenção, já passou por um aperto em um restaurante na Flórida. “Meu marido e eu estávamos viajando pela primeira vez para os Estados Unidos, uns 5 anos atrás. Planejamos tudo, pesquisamos tudo, mas nunca vimos nada em relação a tip. Eis que fomos a um restaurante em Key West, pagamos a conta e saímos. A garçonete, que tinha sido um amor durante todo o atendimento, voltou correndo atrás da gente reclamando que não tínhamos dado gorjeta. Ficamos assustados e até com vergonha. Aprendemos a lição”, conta a administradora.

Geyse e marido, Arnoud, em Key West, na Flórida (Foto: arquivo pessoal)

Assim como Geyse, vários dos nossos conterrâneos esquecem de fazer o acréscimo do valor e acabam passando por situações constrangedoras. Por isso, separamos umas dicas para você saber como dar a gorjeta apropriada e evitar estresse:

1. Tip não é opcional: tenha sempre umas notas de valores mais baixos para dar a gorjeta por serviços menores, especialmente em hotel, e programe a gorjeta como parte dos seus custos de viagem.

2. Garçons e garçonetes em restaurantes: para este serviço, a tip varia entre 10 e 20% do seu consumo. É claro que seu grau de satisfação influencia e, por isso, o percentual é aberto para a escolha do cliente. Existem lugares em que a tip de 18% também está disponível.

3. Barman: para aqueles locais em que você senta no balcão e pede um drink, a gorjeta varia entre 10 a 15% do consumo. Como normalmente nesses lugares o contato ser maior, é comum que se pague até mais do que 15% de gorjeta.

4. Para mesas com muita gente: na grande maioria dos estabelecimentos, quando a mesa possui mais de 4 ou 5 pessoas, o valor da gorjeta já vai incluindo na conta. Nestes casos, é comum que seja incluído 15 a 18% de gorjeta e é a única situação em que a tip já vem incluída.

5. Carregador de mala no hotel: para este serviço, a gorjeta normalmente é de USD$ 1.00 ou USD$ 2.00 por mala. Ou, em muitos casos, oferece-se 5 dólares pelo serviço todo.

6. Camareira: a cultura da tip nos EUA basicamente está inserida em todos os segmentos, especialmente quando se trata de serviços relacionados ao turismo, hospitalidade e hotelaria. Para o caso das camareiras, é comum que se deixe pelo menos 1 dólar por dia.

7. Faça as contas: nos restaurantes dos Estados Unidos, especialmente quando se usa cartão de crédito ou débito para realizar o pagamento, sempre tem um espaço onde você escreve o valor da tip e o valor total da conta. Você precisa calcular por conta própria e preencher a notinha. Caso queira dar o valor em dinheiro e pagar a conta em cartão, basta deixar o espaço da tip vazio e deixar as notas no final.

Gilson, que já está no mercado gastronômico há bastante tempo, também dá a dica. “Orlando é uma cidade turística, então seria interessante que as pessoas conhecessem sobre como funciona a cultura do local. As pessoas que prestam serviço, como camareiras, barman, eles têm o salário deles mas o que faz o faturamento destes profissionais mesmo, especialmente os garçons, é a gorjeta. Eles ganham o valor da hora mínima, então gorjeta é muito importante para eles e muitas pessoas que visitam os EUA não sabem disso”, reforça o empresário. Para Clodomir, a importância está também na valorização dos profissionais. “É fundamental para as pessoas que elas reconheçam o trabalho, não só dos garçons, mas de todo mundo que trabalha pela tip aqui nos Estados Unidos. Quem está aqui trabalha muito e, se a gente fica sem gorjeta, a gente fica sem pagamento”, afirma o garçom.

O desafio #TipTheBill

Uma iniciativa nascida nos Estados Unidos está ganhando força nas redes sociais. O #TipTheBillChallenge (desafio gorjeta no valor da conta, em tradução livre) estimula frequentadores de bares e restaurantes a pagaram 100% do valor da conta aos garçons e garçonetes como forma de incentivo ao trabalho destes profissionais.

Post no Instagram da usuária que pagou, em gorjeta, o valor referente à conta. (Foto: Instagram)

O desafio vem após uma discussão que divide opiniões por aqui: trabalhadores que recebem gorjeta possuem salários abaixo dos que exercem outras funções, justamente porque a tip é algo bastante comum no país. Um exemplo é o estado de Nova York, onde o salário mínimo é de US$ 15 por hora. Para os trabalhadores que recebem gorjeta, o valor cai para US$ 8.75 por hora, porque já se espera um faturamento maior advindo da tip. Trazendo para a realidade local, no estado da Flórida, onde o salário mínimo é de US$ 8.25 por hora, restaurantes e estabelecimentos que têm a mão de obra que tradicionalmente recebe gorjeta, os salários chegam a US$ 5 por hora.

A tag #TipTheBill já foi usada 36 mil vezes no Twitter, e várias fotos mostrando contas pagas em que o valor da gorjeta é igual ao valor do consumo também foram publicadas na rede social, reforçando a campanha que já fez muitos garçons e garçonetes muito felizes em várias partes dos Estados Unidos.



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