Sacando as rolhas

Sacando as rolhas

A tecnologia está cada vez mais presente no mundo do vinho, melhorando todos os processos que envolvem sua produção, como o controle da saúde dos parreirais, exatidão na hora da colheita, controle de irrigação, dentre outros. Porém, o vinho é uma bebida milenar e suas raízes vindas do “Velho Mundo”, onde muitas das práticas antigas são mantidas. Esse tradicionalismo muitas vezes ocorre por puro saudosismo, sem verdadeira motivação fática. E apesar desse conservadorismo persistir no meio e ser até bem recebido pelos aficionados da área, a tecnologia tem sido extremamente benéfica, não só para a qualidade da bebida, mas também para quem a produz e, consequentemente, ao consumidor. Um dos maiores exemplos desse duelo entre tradição e inovação está em um dos elementos mais icônicos do vinho: a rolha

Edição de março/2018 – pág. 36

Sacando as rolhas

A forma como um vinho é lacrado é o fator mais importante para o controle de qualidade do produto depois de engarrafado. As opções para o lacre estão cada vez mais diversificadas – vamos da velha e boa rolha de cortiça, como as novas rolhas sintéticas, as roscas de alumínio, tampas de vidro e até as tampinhas estilo de garrafas de refrigerantes. Mas essas rolhas mais tecnológicas são de boa qualidade? Isso não é para vinhos mais baratos? Para todas as demais perguntas relacionadas as diferentes formas de lacre comumente encontradas no mercado, fizemos um resumo, descrevendo a utilidade e melhor uso de cada tipo de rolha.

Rolhas de cortiça

Essas são as rolhas tradicionais. Elas podem ser um dos principais motivos pelos quais os vinhos de guarda mais raros e de maior qualidade vão melhorando com os anos, já que, por serem naturais e não totalmente sólidas, elas permitem que o oxigênio entre em contato com o líquido dentro da garrafa, mesmo que em pequena escala, fazendo com que essa mínima oxidação traga o melhor do vinho à tona.


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Porém ao mesmo tempo que ela faz que um vinho bom se torne melhor, ela pode ser a ruína desse mesmo vinho especial. A cortiça vem de uma árvore, logo é natural, sendo assim muito suscetível a doenças. Inclusive, um dos principais motivos de um vinho não estar bom é por uma doença na cortiça chamada TBA (ou TCA), que afeta o líquido que está em contato com ela (a chamada doença da rolha). Outro motivo de impacto no produto de garrafas vedadas com rolhas de cortiça é a maneira como a garrafa é mantida. Para que a rolha não resseque, é ideal que a garrafa seja guardada deitada, fazendo com que o líquido encoste na rolha, melhorando ainda mais a vedação.

Esta é uma das razões para se cheirar a rolha logo quando a garrafa é aberta: ao fazê-lo, você verifica a saúde da bebida – esse ato é um certo tipo de termômetro do vinho. Apesar de não ser tão simples distinguir todas as falhas da bebida apenas no olfato, uma rolha pode dizer muito de um vinho. Esse ainda é o nosso tipo preferido, já que o processo de abertura de uma garrafa com um saca-rolha manual é muito mais romântico: aquela ansiedade pra ver como a rolha está, cheirá-la e guardá-la como uma lembrança do momento que a garrafa foi aberta, com quem você tomou e onde, são alguns dos principais motivos que tornam essa bebida tão apaixonante. Fora que rolhas de cortiça são ótimos itens de coleção e decoração.

Tampa de rosca (Screwcap)

As tampas de rosca são uma das inovações mais recentes do mundo enológico, e são atualmente as preferidas de várias vinícolas do Novo Mundo, uma vez que seu uso traz a vedação total da garrafa. Ou seja: ela não permite a entrada de oxigênio. Isso torna a tampa de rosca a escolha ideal para vinhos feitos para serem tomados jovens. Vale aqui um breve esclarecimento: vinhos de guarda são aqueles cujo suco se beneficia do contato gradual com o oxigênio. Vinhos para consumo imediato (ou quase imediato) são aqueles que a qualidade do suco já está em seu primor, e o contato com o oxigênio, que aparece gradativamente em vinhos fechados com rolhas de cortiça, pode estragar o vinho, o tornando oxidado num nível acima do ideal. Por isso rótulos do Novo Mundo estão preferindo esse tipo de tampa, porque o estilo dos vinhos é comumente de bebidas de consumo imediato. Além disso, essa maneira é bem mais barata que as outras opções de vedação.

Rolhas sintéticas

As rolhas sintéticas, à primeira vista, parecem representar o melhor dos dois mundos, uma vez que elas ainda permitem o uso de um saca-rolhas comum para sua retirada, mantendo vivo o romântico ritual de abertura de uma garrafa de vinho, bem como permitem a entrada gradativa de oxigênio. Além disso, elas são extremamente econômicas, e apesar de sintéticas, são em maioria, feitas de material biodegradável. A contrapartida fica por conta da vedação, já que elas não se “ajustam” com o tempo, como as rolhas de cortiça, que acompanham o movimento de expansão/contração da garrafa. E se forem simplesmente mal colocadas, elas irão permitir a entrada de oxigênio em excesso, o que já vimos que pode ser extremamente maléfico para o vinho. Por fim, elas costumam ser mais difíceis de se remover, já que não tem a mesma textura da cortiça. Porém seu uso não é sinônimo de má qualidade, é apenas uma das opções disponíveis para os produtores. Na hora da escolha, leve em consideração que um vinho de baixa qualidade será de baixa qualidade independente da forma de vedação escolhida.

Vino-Seal

Vino-Seal é a tampa de vidro, não tão comumente encontrada no mercado uma vez que essa é uma das formas mais caras de vedação de uma garrafa. Entretanto, esse custo vem com o benefício já observado nas tampas de rosca, onde não há entrada de oxigênio pós-vedação ou possibilidade de qualquer tipo de contaminação química. Além disso, o Vino-Seal é reutilizável e, convenhamos, tem sex-appeal: poder ver a coloração da bebida na garrafa através da tampa é uma das maiores inovações do mundo enológico. Infelizmente, não só o custo do material é alto, mas também sua adaptação no processo de engarrafamento – nem todas as garrafas (ou máquinas de engarrafamento) se ajustam bem ao uso dessa tampa, o que gera a necessidade de adaptação de maquinário e mão de obra, elevando o preço final do produto.

Crown-Caps

Essas são as famosas tampinhas de refrigerante, que normalmente precisam de um abridor de garrafas, em vez de um saca-rolhas. Essas tampas são utilizadas somente para vinhos espumantes. A famosa rolha que estoura da garrafa, fazendo aquele pop inconfundível, é colocada numa fase mais tardia do processo, normalmente após 18 meses de maturação, substituindo a crown-cap. Se as rolhas fossem colocadas imediatamente apos a produção, o CO2 produzido na garrafa iria empurrá-las pra fora – o que não ocorre com as tampinhas de cerveja. Porém, onde fica o glamour de abrir uma garrafa de champagne vedada dessa forma? Por isso (e acreditem, somente por isso), a maioria dos produtores ainda fazem essa substituição. E claro, existem alguns champanhes de guarda, que se beneficiam com o contato progressivo e controlado com o oxigênio, apenas possível com rolhas de cortiça, mas esses são casos raros – a maioria dos espumantes fabricados hoje em dia são para consumo imediato. E por isso, algumas casas mais inovadoras estão prezando pela economia e praticidade das tampinhas de cerveja.

Esses são apenas alguns exemplos de vedação disponíveis e os mais usados. Não deixe com que os avanços tecnológicos no mundo dos vinhos te deem receio de experimentar novidades. Existe espaço para todos e, sem dúvida, essas inovações estão aí para aprimorar a experiência que é consumir uma boa garrafa de vinho. Saúde!



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