Quando a rede social torna-se execrável

Quando a rede social torna-se execrável

Existem muitos perigos na Internet como a exposição fácil a conteúdos impróprios, exaltando à violência, o racismo, ideais extremistas e a pornografia. A inversão de funcionalidade da rede social leva pessoas ao escracho. O “Jornal Nossa Gente” conversou com psicólogos sobre a questão

Edição de julho – pág. 06 e 08

Com a abrangência das redes sociais – Facebook, YouTube, WhatsApp, Twitter, Instagram, entre outras –  as pessoas ficaram mais próximas, compartilhando amizade e trocando informações, utilizando-se de mecanismos que rompem fronteiras e transpõe inconvenientes. Um passo decisivo no mundo virtual, atingindo patamares inimagináveis em tempos passados, o que às vezes nos surpreende com o imediatismo dos acontecimentos. A praticidade com o uso benéfico da Internet traz resultados proveitosos mediante ao que consideramos síndrome do mundo moderno. Tudo deve acontecer “ontem”. Entretanto, há um lado obscuro nessa engrenagem de favorecimentos, quando disseminamos boataria e difamação, levando ao escracho quem quer que seja. A inversão de funcionalidade da rede social a tornou execrável, causando perplexidade de psicólogos, sociólogos e das vítimas de uma guerra eletrônica que fulmina o alvo com um simples toque dos dedos. Aonde vamos parar?

Os dispositivos incriminadores de condutas virtuais errôneas tornaram-se frequentes com a difusão de vídeos degradantes, imagens depreciativas, além de mensagens e comentários ofensivos à honra, compartilhados pelos aloprados seguidores. Não dúvida que a Internet é uma “terra” sem lei, sem pudores ou discernimento, no que se refere a comportamento – casamento, relacionamentos, mulheres, homens, perguntas e respostas. E neste universo sensacionalista, contaminado pela maledicência, pelo critério proeminente, a liberdade de expressão é uma ameaça.


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O lado negro da força – utilização inadequada da rede social – toma proporções estarrecedoras. A vulnerabilidade no software fornece um ponto de apoio para o criminoso interagir. Somos surpreendidos por comentários ardilosos e imagens captadas pelo celular, postadas sem respeito mínimo, protagonizadas por figuras notórias, celebridades ou cidadãos comuns, na maioria das vezes, em situação extremada, expostos ao ridículo. É o prazer mórbido de sacrificar o outro, de atirá-lo à cova dos leões.

Os boatos têm sido multiplicados com o uso de trolls (perfis falsos nas redes sociais) e de haters (oportunistas que utilizam perfis falsos na internet para propagar ódio). São eles que difundem sandices. O criminoso entra em contato com a vítima em uma sala de bate-papo para estabelecer uma relação ao longo do tempo. O oportunista aproveita a situação para cometer um crime. Outro exemplo: membros de organização criminosa usam mensagens ocultas para se comunicarem em um fórum público para planejarem atividades ou discutirem sobre localizações para lavagem de dinheiro.

Recentemente o ator Fábio Assunção foi vítima de exposição degradante nas redes sociais, após se envolver em uma confusão na festa São João do Arcoverde, no estado de Pernambuco, Região Nordeste do Brasil. Em vídeo que circulou nas redes sociais é possível ver o ator alterado, discutindo com um grupo de moradores locais. Em outra postagem o artista aparece dentro de um hospital, e, posteriormente, em uma viatura policial, aos murros e xingos. As imagens causaram a indignação dos colegas da Globo e dos admirados do artista, pela falta de respeito à sua pessoa e trajetória profissional. Não é novidade que Fábio luta incessantemente para se libertar do álcool e da dependência química.

Aos 72 anos, a atriz Betty Faria resolveu tomar um banho de mar e foi à praia de biquíni, no Rio de Janeiro. Sem perceber, foi fotografada em vários ângulos e suas fotos foram postadas indevidamente nas redes sociais. Comentários maldosos não pouparam a idade e a privacidade da veterana estrela de novelas, chamando-a de “velha”, entre outros insultos como “velha baranga, sem espelho”. Inconformada pela hostilidade, Beth respondeu: “Então querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que me envergonhe de ter envelhecido? E a minha liberdade?”, indaga ressentida.

A invasão de “Nude selfie” – popularmente conhecido por Nude – tornou-se um caso de polícia no WhatsApp. O número de vítimas de “nude selfie” e “sexting” – compartilhamento de fotos íntimas em sites e aplicativos de smartphone, mais que dobrou nos últimos anos. Garotas entre 14 e 15 anos são flagradas nuas e suas fotos são postadas nas redes sócias, para o tormento dos pais. A maior preocupação relacionada a essa prática de compartilhamento é que, uma vez on-line, perde-se completamente o controle da foto ou do vídeo íntimo publicado. Isso também acontece com figuras notórias. O jogador Ronaldinho Gaúcho – lembra disso? – teve o seu vídeo íntimo postado no Youtube e viralizou no mundo virtual.

Predadores online

Outro fator preponderante e que os pais devem estar atentos é quanto ao Perfil acessado pelo filho nas redes sociais. Os pedófilos, os aliciadores de seitas religiosas, os incentivadores ao uso de drogas e da compra de armas, agem sorrateiramente, com perfis ilusórios. São perspicazes e utilizam fotos condizentes à idade de suas vítimas, para se aproximar e persuadi-las, farejando o momento crucial de atacá-las. As crianças são as maiores vítimas dos predadores online, que abordam com temas sexuais nas conversas, para paulatinamente reduzir suas inibições no assunto. Há, inclusive, relatos de mães que se passaram pela filha menor de idade com intuito de desmascarar os usurpadores e de entregá-los à polícia. É imprescindível que os pais orientem as crianças e adolescentes sobre os perigos de falar com pessoas estranhas nas redes sociais.

É importante ressaltar que facilmente o criminoso online consegue obter senhas, números de cartões de crédito, informações de login do Facebook, etc. Uma vez que o hacker recebe toda esta informação, ele pode fazer praticamente qualquer coisa, incluindo a obtenção de uma linha de crédito no nome da vítima, fazer compras com os números dos cartões ou simplesmente alterar as informações das contas de mídias sociais.

Outro detalhe cruciante: os hackers utilizam kits de ferramentas para ajudá-los na missão de invadir dispositivos móveis em uma abordagem conhecida como man-in-the-middle. Este tipo de ataque busca interceptar dados enviados digitalmente e também pode ser executado via aplicativos maliciosos. Os predadores online se apropriam de arquivos de fotos e cobram para devolvê-las.

O estigma da maldade

 

As situações catastróficas disseminadas nas redes sociais é preocupação de psicólogos, sociólogos e de pais das vítimas, pelo requinte de crueldade das ações cibercriminosas. Segundo a psicóloga Keli Rodrigues, o comportamento tem que manter dentro da ética e não focar na destruição do próximo. “Todas as relações sociais devem pulsar entre competição e cooperação”, enfoca. Inclusive, uma recente pesquisa realizada pela Universidade de Maryland dos Estados Unidos, levantou questão polêmica sobre as redes sociais ao indagar o seguinte: “Será que o Facebook e outros sites de relacionamento virtual podem acelerar o surgimento da fobia social e a depressão?”

De acordo com Luciana Ruffo, do “Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática” da PUC de São Paulo, quando uma pessoa já tem predisposição ou apresenta sintomas de que não está bem, as redes sociais podem ser uma facilitadora. “São canais que trazem prazer e preenchem uma lacuna na vida da pessoa como a falta de contato com outros seres humanos. Com isso, é possível que a rede contribua para que o usuário permaneça mais tempo isolado e faça deste ambiente virtual sua fuga”, comenta.

Para Fernando Ferraz, CEO da “Geek Sky Marketing” – que atua no Brasil -, “a rede social traz benefícios para empresas, entretanto, o lado deficiente do uso desse importante instrumento de interligação, compromete o seu funcionamento pleno. É necessária a atenção de todos os usuários, pois são cerca de dois bilhões de pessoas conectadas, o que representa um perigo iminente. E o que poderia ser favorável, vem se transformando em problema social, destruindo carreiras e causando constrangimento à família”, reforça.

Alcoólico e dependente químico

Alcoolismo e drogas são fatores que têm colaborado de forma desfavorável para exposição de pessoas – inclusive celebridades – nas redes sociais. Este o caso envolvendo Fábio Assunção, que teve a sua privacidade devassada, quando na sua visita à festa de São João do Arcoverde, no estado de Pernambuco, Região Nordeste do Brasil. O ator estava completamente alterado, vítima de chacotas e imagens degradantes. Afinal, o alcoolismo é uma doença? O que leva pessoas a perder o controle e mergulhar em um abismo obscuro? Para esclarecer pontos de incógnita quanto ao alcoólico e o dependente químico, o “Jornal Nossa Gente” conversou com a psicóloga Samira Saoud, em Orlando.

Samira Saoud
Samira Saoud

“O alcoolismo é uma doença genética que leva o indivíduo ao uso contínuo. É uma vergonha pública, o fundo do poço, o que representa a exteriorização de um trauma. A pessoa bebe para amenizar a sua dor. E o que leva o indivíduo a isso? O ambiente familiar pode influenciar como também o fator genético. O alcoólico faz o uso da bebida com intenção de se intoxicar, pois a sensação de euforia, de alegria e de relaxamento o induz à busca progressiva pelo álcool. O organismo fica tolerante a determinada dose, então é preciso aumentar o consumo, cada vez mais. Isso causa danos ao fígado e ao cérebro. O pensamento fica focado em beber e todas as atividades estão voltadas para o álcool”, alerta a psicóloga.

“O alcoólico e o dependente químico mudam de personalidade porque estão doentes, precisam de ajuda. Eles mentem, manipulam e roubam a própria família. E as consequências são desastrosas, pois perdem o emprego, cai o seu rendimento e descuidam da aparência porque ficam com baixa estima. Às vezes é preciso atingir o fundo do poço para entender que precisam de ajuda. Nos Estados Unidos o governo tira os filhos de mães entregues ao vício”, ressalta Samira Saoud. “A família, no caso, precisa entender que se facilitar para o alcoólico ou para o dependente químico, pagando fiança, quando vão para prisão, ou mesmo tentando socorrê-los de forma prejudicial, vão complicar ainda mais a situação. Acontece que o indivíduo continuará na zona de conforto e vai repetir a dose porque sabe que a família o socorre. Ele fica impossibilitado de se levantar e vai continuar no vício”.

“A família deve impor um limite saudável e buscar tratamento com psicólogo para o devido acompanhamento. É um processo lento e que requer do profissional respeito ao paciente. Tem que ter amor e entender que se trata de um processo minucioso. Não se pode tirar a droga ou o álcool bruscamente. O organismo ressente é e necessária cautela durante o tratamento”, avisa Samira.

A psicóloga sugere que frequentar reuniões de grupos de apoio – “Grupo Alcoólicos Anônimos” -, pode trazer estrutura à família. Samira, inclusive, citou o “Grupo Familiar Al-Anon”, que é um programa de “Doze Passos” para familiares e amigos de alcoólicos. Seus membros compartilham suas experiências nas reuniões de grupo e buscam forças e esperança na tentativa de resolver seus problemas comuns. “Os familiares não podem desistir e devem procurar um caminho de ajuda. O alcoolismo é um suicídio lento. Quando você pergunta ao paciente qual a sua droga, a resposta é enfática: Se não tem álcool, qualquer coisa serve, o que tiver. O vício leva ao isolamento e o indivíduo se sente culpado e com vergonha. Muitas vezes o uso de álcool começa aos quatorze anos de idade. O cenário é terrível”, aponta.
Lembrou Samira Saoud que muitas das vezes os próprios pais incentivam os filhos ao uso de drogas. “Eu estive em uma festa de adolescente no Brasil, realizada em um castelo. Tudo muito luxuoso, mas o que me causou espanto foi que drogas eram servidas aos convidados em bandejas. Havia ´Open Bar´ a disposição para consumir bebidas alcoólicas”, fala surpresa. “Os pais da aniversariante incentivavam ao consumo de drogas, o que me deixou estarrecida. Algo revoltante”, confessa.

No caso específico do ator Fábio Assunção, quando consultada, a psicóloga considera que, “além de um bom ator, ele é um bom fingidor”, alfineta. “Geralmente este tipo de comportamento transtornado é muito comum em homens. Como eu disse anteriormente, o indivíduo exterioriza um trauma de infância, algo que ocorreu em família, então bebe e expõe o que não pode falar”, finaliza.



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