“Projeto Amaridades” resgata história de nossos pais e avós

“Projeto Amaridades” resgata história de nossos pais e avós

O “Projeto Amaridades”, idealizado por Sandra Tello, lançado em Orlando, busca na memória de idosos fatos que marcaram e que se transformam em grandes histórias, publicadas em site e livro

Edição de janeiro/2018 – p. 17

A trajetória de vida de cada um de nós reserva momentos especiais. Fatos que traduzem histórias pontuadas de situações inesquecíveis – lembranças que estão em nossos corações e que podem ser resgatadas de forma muito especial. O “Projeto Amaridades”, lançado em dezembro do ano passado em Orlando, retrata experiências contadas pelos idosos – pais, avós e bisavós –, rebuscando o que há de mais precioso no âmago de cada uma dessas pessoas, transformando depoimentos que serão postados em site e publicados em livro. Uma ideia genial, criada por Sandra Tello – colombiana com coração brasileiro –, a partir do relato emocionante de sua mãe, Lúcia, no exato momento em que parou para prestar atenção naquele rosto sofrido, de olhar melancólico. “A minha mãe guardava na memória uma história de vida das mais incríveis. Hoje as pessoas estão focadas em resultados, mas se esquecem da importância da trajetória”, relata Sandra.

“Trabalhei em empresa multinacional de petróleo e viajei o mundo a negócios. Participei de exaustivas reuniões, de decisões importantes, ostentando uma vida corrida, sem paradas”, lembra Sandra Tello. “E foi nesse interim que acabei me separando e fui morar com a minha mãe – Lúcia. Eu tinha o apoio dos meus irmãos, que cuidavam de minha mãe quando eu precisava viajar porque ela tinha sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral), e precisava de cuidados”.


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Diz Sandra Tello que em 2016, aconteceu uma grande virada na sua vida profissional: “fui demitida da empresa, meu filho também estava desempregado e os meus irmãos se mudaram para os Estados Unidos. De repente me vi sozinha, com a minha mãe doente e sem emprego. Tudo mudou, mas não fiquei com medo e nem fiquei angustiada. Eu tinha certeza de que ia ser feliz”, enfatiza.

“Voltei a fazer yoga, reencontrei minhas amigas, deixando de lado aquela vida agitada de quem vive os encargos de multinacional. Voltei para mim mesma”, diz. “Quando você está em uma empresa multinacional, trabalhando apenas com homens, o seu comportamento é frio, racional. Tinha abandonado a minha essência. E quando deixei a empresa, passei a repensar a minha vida”, reforça Sandra Tello.

Primeiro passo para projeto vitorioso

“Voltei a escrever textos, e passei a realizar trabalhos voluntários, auxiliando pessoas. Trabalhei numa ONG e no projeto ‘ABC do Coração’, entidades voltadas para causa social. E foi nesse período de mudanças que passei a prestar atenção na minha mãe. Percebi que ela estava cabisbaixa, calada, encarando a velhice, o que é muito triste. De repente vi a velhice de minha mãe, as suas limitações e isolamento. A sensação de se chegar ao fim. Eu precisava fazer alguma porque minha mãe que sempre foi uma mulher alegre e falante”, acrescenta Sandra.

“Conversei com minha mãe e falei da vontade de escrever um livro. Aos 58 anos de idade eu descobri a essência da minha mãe porque passei a ouvir as suas histórias. Foi a partir daí que descobri o quanto ela é uma mulher incrível. Eu não a conhecia, mesmo vivendo tantos anos ao seu lado. Foi então que passei a escrever sobre ela, relatando suas experiências dolorosas, suas emoções. E pensei: como alguém pode guardar tudo isso no coração?”

Amaridade - Jornal Brasileiro em Orlando, Florida, EUA

Constelação Familiar

“O que me ajudou muito nesse processo, que deu origem ao ‘Projeto Amaridade’, foi frequentar a ‘Constelação Familiar’, onde você trabalha com a energia de pessoas. Ela trata das relações sistêmicas, de qualquer organização, seja família, empresa, enfim. Há três leis básicas da Constelação familiar que são imprescindíveis: primeiro, todos têm direito a pertencer. Qualquer exclusão gera desequilíbrio, seja na empresa ou na família”, enfoca Sandra.

“A segunda Lei é tratar a ordem de chegada, honrar quem veio primeiro e isso inclui a relação com os nossos pais, avós e bisavós. Temos de respeitar quem tem vivência. São pessoas sábias e honradas, seja no âmbito familiar ou empresarial, temos de respeitar quem tem mais tempo. Na sociedade os idosos têm de ser respeitados”, orienta.

“Na terceira questão é o equilíbrio entre o dar e o receber. E o presente mais sagrado que recebemos de nossos pais é a vida. É o receber a energia e passar adiante. Numa empresa você não pode dar mais do que recebe”, alerta.

Lembra Sandra Tello que durante suas experiências através da “Constelação Familiar”, “eu resgatei as memórias do meu pai, que morreu vítima de assalto quando eu tinha dezenove anos. Isso trouxe um problema sério porque algo foi excluído de mim. Tomei consciência da minha família, dos meus irmãos, dos meus pais. Despertei para o valor do idoso, do seu reconhecimento. E foi a partir desse processo, após ter feito o curso de ‘Fluxonomia em 4D’, que aborda o lado cultural e o nosso conhecimento, que desenvolvi o projeto sobre o idoso, apresentado em Brasília – em 2017 –, e que as pessoas gostaram”, fala com entusiasmo.

“A minha mãe se transformou depois dos seus relatos, tornou-se uma pessoa feliz ao colocar para fora as suas experiências de vida, que foram temas para o meu livro. O resultado foi tão positivo que com a ajuda de meu irmão – o web designer Ernesto Tello –, montamos um site e nasceu o ‘Projeto Amaridades’, hoje um sucesso. Os filhos passaram a prestar a atenção nos pais, nos avós e bisavós, buscando suas histórias, resgatando memórias incríveis e a transformando em livros e relatos postados no site”.

Olhar especial para os idosos

O ‘Projeto Amaridade’ faz com que os filhos prestem atenção nos idosos e que busquem em cada um deles as suas respectivas trajetórias de vida. O resultado tem sido muito positivo, segundo Sandra, porque todos que tomaram conhecimento do projeto têm entrado em contato querendo publicar no site histórias de seus pais. “Eu explico a metodologia de como buscar essas histórias, de como falar com os idosos. São várias as histórias que tenho recebido, então as reescrevo, a partir dos dados que me são passados, e depois as publico no site”, explana Sandra Tello. “Têm pessoas que gravam os depoimentos, então eu os transcrevo e os publico no site”.

No caso de pais ou avós falecidos, avisa Sandra Tello que as histórias podem ser resgatadas através de depoimentos dos demais membros da família, que narram os fatos, formando um todo. “Um tio ou uma sobrinha, por exemplo, têm dados que vão contribuir para montar a história da pessoa falecida. É o valor do resgate da memória e essa homenagem aos nossos idosos merece todos os nossos esforços”.

Sandra Telo é natural da cidade de Bogotá, na Colômbia, mas diz que seu coração é brasileiro. Ela reside no Rio de Janeiro. “Estou no Brasil há vários anos – desde 1975 –, quando meus pais se mudaram para cá. O meu pai trabalhava na rede de hotéis Intercontinenetal, trabalhando em vários países, inclusive, nos Estados Unidos, mas ele optou em morar definitivamente no Brasil”, lembra Sandra Tello.



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