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Uma amiga de muitos anos permitiu que eu me referisse ao seu recente artigo no Orlando Sentinel, intitulado “Enfoquemo-nos na Saúde Mental e em ajudar o próximo” (2/6/13). Therese Murphy convida-nos a não esquecer os falecidos em dezembro, em Newtown/Connecticut, a mobilizarmo-nos para que não só as leis sobre o uso de armas mudem, mas também aquelas que têm a ver com o sistema de saúde mental e as nossas próprias atitudes. Corajosamente, a minha amiga Therese admite sofrer, toda a sua vida, de uma depressão maior. Sou testemunha: depois de muitos anos de atenção médica, ela continua com terapia e tentando melhorar. Com ela, sofrem sua família e amigos.
No seu artigo, Therese espera que mais e mais a saúde mental seja vista como a saúde física: ou se é saudável ou se tem uma doença (isso mesmo: “doença”). Concordo que, hoje em dia, ainda existe bastante desconforto em falarmos abertamente sobre esse tema. Quero juntar-me a ela e reconhecer publicamente quanto orgulho e respeito eu sinto por todos aqueles que sentem qualquer tipo de problema psicológico ou psiquiátrico, que o reconhecem e que pedem ajuda (o que pode ser bastante complicado visto que o próprio problema pode obstruir nossa capacidade de reconhecê-lo e aceitá-lo).
Podemos ter ou criar o melhor sistema de Saúde Mental, mas, se continuarmos a ter vergonha de abordar o tema ou de admitir que um membro da nossa família sofre de problemas mentais, não adianta ter seguros ou programas de assistência, porque ninguém quer por os pés lá. Da mesma maneira que vamos ao médico ou ao dentista para exames anuais, eu visualizo uma sociedade na qual se façam consultas anuais do “coração para cima”.
Essas 28 pessoas não morreram em vão se tentarmos adotar uma atitude que contribua para a eliminação de qualquer estigma sobre a saúde mental; se ajudarmos (sem julgar) aqueles a nossa volta que demonstrem sinais de estresse; se incluirmos, com compaixão e compreensão, essas pessoas nos nossos círculos, em vez de as afastarmos de nós. Não foi o que aconteceu em Connecticut. Em geral, esses assassinos sofrem de grande alienação e solidão. Os problemas de saúde mental não discriminam: não importa a idade, etnia, fé, homem ou mulher. Todos são vulneráveis. Todos merecem o melhor. Talvez não possamos evitar outra chacina, mas cada um de nós pode criar um mundo melhor.
Rosario Ortigao, LMHC, MAC
Conselheira de Saúde Mental
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