Ponto de equilíbrio
Lutador Gabriel Guarino, campeão pan-americano de kung fu – Foto: Divulgação

Ponto de equilíbrio

Campeão pan-americano de kung fu e em preparativos para o mundial na China, o fluminense Gabriel Guarino se divide entre as pesquisas acadêmicas e o esporte

por Luiz Humberto Monteiro Pereira

humberto@esportedefato.com.br

Aos 24 anos, o niteroiense Gabriel Guarino anda com a agenda cheia. Concilia os estudos de seu doutorado em Direito, onde prepara sua tese sobre Mediação de Conflitos, e as pesquisas que faz como bolsista da Capes com os preparativos para o 7º Campeonato Mundial de Kung Fu, na China, em novembro, onde se classificou para representar o Brasil na categoria espada. “Em algum momento, vou conseguir unir os dois mundos, da pesquisa na área de Direito e a arte marcial”, imagina. Atual campeão brasileiro e pan-americano, sua rotina alterna dar aulas e treinar em Niterói e no Rio. Até aulas de balé clássico foram recentemente incorporadas aos seus hábitos. “A dança é algo muito diferente da arte marcial, mas que eu descobri que é também muito complementar”, explica Gabriel, que recorreu a uma página de financiamento coletivo para custear sua viagem ao Mundial na China.


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Esporte de Fato – Como o kung fu surgiu na sua vida?

Gabriel Guarino – Comecei a praticar com onze anos. Um amigo da escola praticava e me convidou a conhecer a academia, que era do lado da minha casa. Eu tinha 1,40 metro, era meio gordinho e não conhecia nada de artes marciais. Ele parou meses depois e eu continuo até hoje. Foi o aprendizado sobre a cultura chinesa que me manteve ligado. É uma arte marcial muito completa, tem a prática de meditação, a parte de postura, de desenvolvimento corporal, de luta de contato, de defesa pessoal… Mas o trabalho com as armas brancas do kung fu sempre foi o que mais achei legal.

Esporte de Fato – Como você definiria o kung fu?

Gabriel Guarino – Kung fu significa “treinar muito” em chinês, e é um termo aplicado a diversas artes marciais chinesas. Pratico o wushu tradicional. Wushu significa “arte marcial” em chinês. No conceito tradicional, o wushu é um conjunto de técnicas de ataque e defesa cujo treino se baseia no que a gente chama de taolu. O taolu é uma sequência de movimentos, como se fosse um combate no ar, similar ao katá do karatê, cuja ideia é aumentar a precisão de movimentos, a força e a explosão, para o lutador aprender a golpear no ar para depois poder fazer a aplicação na luta. No kung fu tradicional, o treino começa no taolu e termina no combate livre, onde se usa equipamentos de proteção, já que é a parte de contato mesmo. Eu pratico um estilo tradicional, o Garra de Águia, muito voltado para chutes altos e para um trabalho de imobilização com as mãos. Há uma infinidade de estilos tradicionais. Para virar faixa preta, é necessário aprender a usar uma grande gama de armas brancas. As principais são o bastão, a lança, o facão e a espada reta chinesa, mas há outras como nunchaku, leque, bastão de três seções e pá de monge. Hoje as armas não são usadas nas lutas, mas apenas nas apresentações de taolu. O wushu moderno é uma compilação dos estilos tradicionais.

Esporte de Fato – Quais são seus objetivos no esporte?

Gabriel Guarino – Eu era faixa marrom e havia diminuído os treinos por causa dos estudos. Mas depois que me formei em Direito na UFF. em 2015, resolvi dar aulas de kung fu. Voltei a treinar de maneira intensa para fazer o exame da faixa preta e voltar a competir em 2016 – em 2012, eu já havia competido e fui vice-campeão brasileiro em uma categoria desarmada. Consegui ser campeão estadual, classifiquei para o campeonato brasileiro e fui campeão na categoria espada, a minha especialidade. Com isso, participei das seletivas internacionais e fui primeiro lugar no pan-americano na categoria espada, na Costa Rica. No brasileiro do ano passado, fiquei em primeiro lugar em espada e em segundo em luta desarmada. Meus objetivos são intensificar minha participação nas competições internacionais, como o Mundial na China, em novembro. Quero continuar me graduando para além da faixa preta e continuar aprendendo. A competição não é o meu objetivo. É o local onde posso viver o mundo das artes marciais.

Esporte de Fato – Como é sua rotina de treinamentos?

Gabriel Guarino – Segundas e sextas de manhã tenho um treino longo de duas horas de kung fu tradicional, que envolve luta, meditação e técnica, com sequências de movimentos. Nas segundas e sextas à tarde, faço um treino funcional de fortalecimento. Terças e quintas pela manhã tenho treino específico de competição, com as armas. E nas terças e quintas à tarde, faço aulas de balé clássico no Centro de Dança Niterói, como parte do treino de fortalecimento específico. Sábado é treino livre. Quarta e domingos são dias de descanso.

Esporte de Fato – Como surgiu a ideia de introduzir o balé como parte de seus treinamentos para o kung fu?

Gabriel Guarino – Um amigo que é professor de balé me perguntou se eu queria praticar. Fui experimentar com o objetivo de dançar, mas percebi que as aulas começaram a me ajudar muito na execução dos movimentos do kung fu. O balé trabalha com o desenvolvimento de força isométrica e de sustentação de perna que fez com que os movimentos do kung fu se tornassem muito mais precisos e a qualidade das bases evoluísse muito. O balé virou uma parte necessária e intensa do meu treino de kung fu. A dança também ajuda a trabalhar sua mente de uma forma muito interessante.

Esporte de Fato – Quais são as suas próximas competições?

Gabriel Guarino – Semana que vem embarco para o Campeonato Brasileiro de Kung Fu, em Cuiabá, onde vou disputar quatro categorias de competição de forma. O kung fu tem dois tipos de competições. Um é a competição de luta, onde o atleta calça a luva e “cai no tapa” com outros atletas, e outra é a competição de taolu, que a gente chama de forma, onde o atleta tem de executar sequências de movimentos, como se fosse uma coreografia marcial, onde os jurados avaliam a qualidade dos movimentos, expressão corporal, etc. Esse ano eu estou competindo só na parte de forma – até porque é uma exigência de que, quando se torna atleta de nível internacional, o lutador escolha uma categoria para se dedicar, por conta do preparo que é bem específico. As quatro categorias de taolu de que vou disputar são leque, paca ou meia lua, espada, além do desarmado. Depois virá o 7º Campeonato Mundial de Kung Fu em Emei Shan, China, em novembro. Na volta, terei V Festival Garra de Águia Lily Lau e Cultura Chinesa, em São Paulo, também em novembro.

Esporte de Fato – Quais são seus patrocinadores?

Gabriel Guarino – Sou patrocinado pela Serviços Marítimos Continental, que me ajudou a custear as competições. E também tenho alguns apoios de suporte em Niterói que permitem que eu possa treinar, fazer fisioterapia e me alimentar, como a Academia Corpo Capacitação Física, o Centro de Dança Niterói, a Clínica Fred Soares e o Restaurante Santa Ceia.

Esporte de Fato – Você criou um projeto de financiamento coletivo para custear sua viagem para representar o Brasil no 7º Campeonato Mundial de Kung Fu, que vai acontecer na China, em novembro deste ano. Como anda o projeto?

Gabriel Guarino – Está em andamento, no link https://www.vakinha.com.br/vaquinha/guarino-na-china-gabriel-no-mundial-de-kung-fu. Já consegui custear metade das despesas e acredito que consiga atingir a minha meta. Tenho conseguidos muitos feedbacks positivos e estou bastante confiante!

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