Outubro Rosa: Os cuidados preventivos ao câncer de mama

Outubro Rosa: Os cuidados preventivos ao câncer de mama

O médico Frank Yanez alerta sobre a incidência da doença que mais acomete as mulheres em todo o mundo, sendo 1,38 milhões de novos casos e 458 mil mortes

Dr Yanez

O mês de outubro é dedicado à prevenção do câncer de mama. Uma campanha mundial em alerta ao avanço da doença que já lesou mulheres em vários países. E para falar sobre o assunto, o médico Frank Yanez foi consultado e ele dá dicas importantes sobre os exames preventivos. Americano, nascido em Chicago, Yanez é filho de cubanos. O pai imigrou-se para os EUA, onde atuou como médico em Chicago; sua irmã também é médica e trabalha como pediatra em Chicago. Frank é médico de família em Kissimmee/Orlando há mais de oito anos. Além de atuar junto à comunidade local, também é um dos pioneiros no atendimento a turistas. Segundo ele, os brasileiros – assim como os hispanos -, têm uma cultura diferente, pois procuram por um atendimento em que a relação médico-paciente seja mais humanizada.

NG – O senhor está empenhado em um novo projeto de atendimento ao turista, poderia dizer-nos algo sobre isso?

FY – Tenho participado de algumas conferências e estou em contato com hospitais no Brasil, como o Albert Einstein e Sírio Libanês, assim como tenho conversado com médicos brasileiros de várias especialidades. Nós estamos olhando para o futuro, para atendimentos globalizados, nos quais poderemos nos conectar e trocar experiências, bem como formular um tratamento multidisciplinar em qualquer parte do mundo. Este é um projeto médico que, se colocado em prática, estará ao alcance de todos os pacientes. Isso que me move: ´O que posso oferecer mais, como poderei contribuir?´ Quero conectar a prática médica aos artifícios tecnológicos que já dispomos e, assim, oferecer ao paciente um atendimento de excelência. É um projeto voltado para o futuro, tenho certeza que trará muitos benefícios e conforto aos pacientes. Porém, hoje estou aqui por outra causa. Este mês, estamos envolvidos na conscientização e prevenção do Câncer de Mama.


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NG – O senhor acha que hoje em dia a mulher está mais vulnerável ao câncer de mama?

FY – No início do século passado, a maioria das mulheres casava-se por volta dos 15 anos, antes mesmo da primeira menstruação e, tão logo essa ocorria, engravidava. No decorrer da vida reprodutiva, elas tinham vários filhos que amamentavam por longos períodos, diminuindo, assim, sensivelmente, o número de episódios menstruais que tinham durante toda a vida. Hoje não é raro encontrar meninas que menstruam aos 11 ou 12 anos; a menopausa está cada vez mais tardia; e o número de filhos, muito menor. Essa nova realidade torna as mulheres mais vulneráveis à ação dos hormônios femininos, o estrógeno e a progesterona, que exercem impacto importante no aparecimento do câncer de mama, doença diagnosticada atualmente em mulheres cada vez mais jovens, cuja incidência tem aumentado significativamente nas últimas décadas.

NG – Como o câncer de mama se desenvolve?

FY – O câncer de mama é um tumor maligno que se desenvolve como consequência de alterações genéticas em algum conjunto de células da mama, que passam a se dividir descontroladamente. Ocorre o crescimento anormal das células mamárias, tanto do ducto mamário quanto dos lóbulos mamários. O câncer da mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo, sendo 1,38 milhões de novos casos e 458 mil mortes pela doença por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

NG – Em que região da mama, ele ocorre?

FY – Mamas são glândulas cuja principal função é a produção do leite, que se forma nos lóbulos e é conduzido até os mamilos por pequenos canais chamados ductos. Quando as células da mama passam a dividir-se de forma desordenada, um tumor maligno pode instalar-se, principalmente nos ductos e, mais raramente, nos lóbulos.

NG – O câncer de mama também pode atingir os homens?

FY -A proporção de câncer de mama em homens e mulheres é de 1:100, ou seja, para cada 100 mulheres com câncer de mama, um homem terá a doença.

NG – Quais são os tipos de câncer de mama?

FY – Existem diversos tipos e subtipos de câncer de mama. No geral, o diagnóstico para o tipo de câncer de mama leva em conta alguns critérios: se o tumor é ou não invasivo, seu tipo histológico, avaliação imunoistoquímica e seu estádio (extensão).

NG – O senhor poderia nos falar um pouco a respeito de cada um desses critérios?

FY – Sim, vamos começar definindo “tumor invasivo” e “tumor não invasivo”: um câncer de mama não invasivo (in situ) é aquele que está contido em algum ponto da mama, sem se espalhar para outros órgãos – a membrana que reveste o tumor não se rompe e as células cancerosas ficam concentradas dentro daquele nódulo. Já o câncer de mama invasivo acontece quando essa membrana se rompe e as células cancerosas invadem outros pontos do organismo. Todo câncer de mama in situ tem potencial para se transformar em um câncer de mama invasor.

Quanto à avaliação “imunoistoquímica” para o câncer de mama: ela nos diz se aquele tumor tem os chamados receptores hormonais. Aproximadamente 65 a 70% dos cânceres de mama têm esses receptores, que são uma espécie de ancoradouro para um determinado hormônio. Existem três tipos de receptores hormonais para o câncer de mama: o de estrógeno, o de progesterona e o de HER-2. Esses receptores fazem com que o determinado hormônio seja atraído para o tumor, ligando-se ao receptor e fazendo com que essa célula maligna se divida, agravando o câncer de mama.

Quanto ao “tipo histológico”, os mais básicos são:

  • carcinomaducta in situ: o tipo mais comum de câncer de mama não invasivo. Ele afeta os ductos da mama, que são os canais que conduzem leite. O câncer de mama in situ não invade outros tecidos, nem se espalha pela corrente sanguínea; mas pode ser multifocal, ou seja, pode haver vários focos dessa neoplasia na mesma mama. Caracteriza- se pela presença de um ou mais receptores hormonais na superfície das células;
  • carcinomaductal invasivo: também acomete os ductos da mama e caracteriza-se por um tumor que pode invadir os tecidos que os circundam. O câncer de mama do tipo ductal invasivo representa de 65 a 85% dos cânceres de mama invasivos. Esse carcinoma pode crescer localmente ou se espalhar para outros órgãos por meio de veias e vasos linfáticos. Caracteriza-se pela presença de um ou mais receptores hormonais na superfície das células;
  • carcinoma lobular in situ: origina-se nas células dos lobos mamários e não tem a capacidade de invasão dos tecidos adjacentes. Ele representa de 2 a 6% dos casos de câncer de mama;
  • carcinoma lobular invasivo: também nasce dos lobos mamários e é o segundo tipo mais comum de câncer de mama. Esse carcinoma pode invadir outros tecidos e crescer localmente ou espalhar-se. Geralmente, apresenta receptores de estrógeno e progesterona na superfície das células, mas raramente a proteína HER-2;
  • carcinoma inflamatório: raramente apresenta receptores hormonais, podendo ser chamado de triplo negativo. Ele é a forma mais agressiva de câncer de mama – e também a mais rara. O carcinoma inflamatório apresenta-se como uma inflamação na mama e, frequentemente, tem uma grande extensão. O câncer de mama do tipo inflamatório também começa nas glândulas que produzem leite. As chances dele se espalhar por outras partes do corpo e produzir metástases são grandes;
  • doença de Paget: um tipo de câncer de mama que acomete a aréola ou mamilos, podendo afetar os dois ao mesmo tempo. Ele representa de 0,5 a 4,3% de todos os casos de carcinoma mamário, sendo a forma mais rara. Caracteriza-se por alterações na pele do mamilo, como crostas e inflamações – no entanto, também pode ser assintomático.

Por último, vamos falar sobre o “estadiamento” da doença:

O câncer de mama é dividido em quatro estádios ou estágios, conforme a extensão da doença, que vai do 0 ao 4:

  • estádio 0: as células cancerosas ainda estão contidas nos ductos, por isso o problema é quase sempre curável;
  • estádio 1: tumor com menos de 2 cm, sem acometimento das glândulas linfáticas da axila;
  • estádio 3: nódulo com mais de 5 cm que pode alcançar estruturas vizinhas, como músculo e pele, assim como as glândulas linfáticas. Mas ainda não há indício de que o câncer espalhou-se pelo corpo;
  • estádio 4: tumores de qualquer tamanho com metástases e, geralmente, há comprometimento das glândulas linfáticas. No Brasil, cerca de 60 a 70% dos casos são diagnosticados em estádio 3 ou 4.

NG – Quais são os fatores de risco para o câncer de mama?

FY – Os principais fatores de risco para o câncer de mama são:

  • histórico familiar;
  • idade: as mulheres entre 40 e 69 anos são as principais vítimas de câncer de mama, porque a exposição ao hormônio estrógeno está no auge com a chegada dessa idade. A partir dos 50 anos, particularmente, os riscos entram em uma curva ascendente;
  • menstruação precoce: se a primeira menstruação ocorre por volta dos 9 ou 10 anos de idade é porque os ovários intensificaram a produção do hormônio cedo e, assim, o organismo ficará exposto ao estrógeno por mais tempo no decorrer da vida;
  • menopausa tardia: a lógica nesse caso é a mesma do caso acima, enquanto a menstruação não cessa, os ovários continuam a produzir o estrógeno, deixando as glândulas mamárias mais expostas ao crescimento celular desordenado;
  • reposição hormonal: muitas mulheres procuram a reposição hormonal para diminuir os sintomas da menopausa. Mas essa reposição, principalmente de esteroides – como estrógeno e progesterona, pode aumentar as chances de câncer de mama. Como alternativa à reposição hormonal, é indicada a prática de exercícios físicos e dieta balanceada;
  • colesterol alto: o colesterol é a gordura que serve de matéria prima para a fabricação do estrógeno. Dessa forma, mulheres com altos níveis de colesterol tendem a produzir esse hormônio em maior quantidade, aumentando o risco de câncer de mama;
  • obesidade: o excesso de peso é fator de risco para o câncer de mama, principalmente após a menopausa, porque – a partir dessa idade – o tecido gorduroso passa a atuar como uma nova fábrica de hormônios;
  • ausência de gravidez: mulheres que nunca tiveram filhos têm mais chances de ter câncer de mama devido à ausência de amamentação. Quando a mulher amamenta, ela estimula as glândulas mamárias e diminui a quantidade de hormônios, como o estrógeno em sua corrente sanguínea;
  • lesões de risco: já ter apresentado algum tipo de alteração na mama não relacionada ao câncer de mama também pode aumentar as chances do surgimento de tumores. Dessa forma, pequenos cistos ou calcificações encontradas na mama, ainda que benignos, devem ser acompanhados com atenção;
  • tumor de mama anterior: pacientes que já tiveram câncer de mama têm mais chances de apresentar outro tumor. Nesse caso, o câncer de mama é chamado de câncer recidivo, ou um câncer de mama que sofreu uma recidiva.

NG – Quais são os sintomas?

FY – Em geral, o primeiro sinal da doença costuma ser a presença de um nódulo único, não doloroso e endurecido na mama. Outros sintomas, porém, devem ser considerados, como a deformidade e/ou aumento da mama, a retração da pele ou do mamilo, os gânglios axilares aumentados, vermelhidão, edema, dor e a presença de líquido nos mamilos.

NG – Como é feito o diagnóstico de câncer de mama?

FY – A mamografia é o exame mais indicado para detectar precocemente a presença de nódulos nas mamas. O exame clínico e outros exames de imagem e laboratoriais também auxiliam para estabelecer o diagnóstico de certeza.

Apesar de a maioria dos nódulos de mama ter características benignas, para afastar qualquer erro de diagnóstico, deve ser solicitada uma biópsia para definir se a lesão é maligna ou não, e seu estadiamento (análise das características e da extensão do tumor).

NG – Quais os tratamentos do câncer de mama?

FY – Os tratamentos podem ser classificados em:

  • terapia local: visa tratar um tumor no local, sem afetar o resto do corpo. A cirurgia e a radioterapia são exemplos de tratamentos locais;
  • terapia sistêmica: refere-se a drogas que podem ser administradas por via oral, ou diretamente na corrente sanguínea, para atingir as células cancerosas em qualquer parte do corpo. A quimioterapia, a terapia hormonal e a terapia-alvo são exemplos de terapias sistêmicas;
  • terapia adjuvante e terapia neoadjuvante: os pacientes com doença detectável após a cirurgia são, muitas vezes, submetidos a algum tipo de tratamento (quimioterapia, hormonioterapia ou terapia-alvo) adicional para impedir uma recidiva. Esses tratamentos são denominados de “terapia adjuvante”, que tem como objetivo destruir as células remanescentes. Alguns pacientes podem precisar de algum tipo de tratamento, como quimioterapia ou terapia hormonal, antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o tumor e permitir uma cirurgia menos invasiva, o que é denominado terapia neoadjuvante.

De maneira geral, é importante dizer que, hoje, o tratamento é muito individualizado, portanto, cada caso será estudado particularmente. Lembre-se: cada caso é um caso!



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