AGO/13 – pág. 70
Júlio foi trabalhar na Alemanha, era uma oportunidade e tanto que a empresa lhe dava.
Chegou lá em meados de outubro, foi muito bem recebido, com educação e cordialidade.
Nos primeiros dias sentiu-se um pouco incomodado com o frio, bem diferente do que o brasileiro está acostumado, mas ele iria aos poucos se adaptar.
Júlio também se deparou com outras coisas diferentes: a comida, a limpeza e organização dos locais públicos, os horários noturnos (os jantares, festas e comemorações, começam cedo e terminam cedo, tipo 23 hs).
Porém o comportamento das pessoas era o que mais admirava, percebia neles uma consciência social que não estava acostumado, respeitavam o direito de outro em toda e qualquer situação: nas filas, no trânsito, nos ônibus, enfim, em qualquer lugar.
Num certo dia, esta maneira ética de viver daquele povo (que até então era exagerada para Júlio), o surpreendeu ainda mais.
Era uma manhã de dezembro e o frio incomodava, excepcionalmente naquele dia, o gerente de Júlio, um senhor com uma fisionomia descontraída, deu-lhe uma carona, pois eles teriam uma reunião um pouco mais cedo que o normal.
Chegaram na firma bem antes do horário e Júlio viu seu chefe passar pelo estacionamento inteiro e parar quase nos últimos lugares. O rapaz meio confuso perguntou a Herr Miller porque ele havia parado tão longe se os lugares perto da entrada estavam desocupados.
Foi aí que Júlio ouviu uma resposta que jamais sonhara ouvir:
– Nos aqui na empresa, quando chegamos cedo, costumamos deixar os primeiros lugares para as pessoas que chegam atrasadas e depois outra, é sempre bom andar logo pela manhã.
Então Júlio retrucou: – Mas o problema de estar atrasado é deles! Se acordarem mais cedo, como nós, não se atrasarão, o senhor não acha?
Ao que Herr Miller respondeu: – Veja, se eles estão atrasados é porque algo desagradável deve ter acontecido, um pneu pode ter furado ou o que é pior, um filho pode ter passado mal e a pessoa está vindo pra cá direto do hospital. Estas pessoas vão precisar dos lugares mais próximos, não seria justo de nossa parte privá-los desta gentileza, você não acha?
Júlio nunca havia pensado nisso e prontamente concordou com Herr Miller.
Nós brasileiros, de certa maneira pensamos como Júlio, pra que facilitar, os atrasados é que se virem. Mas… o que pode haver atrás de uma atraso?
“Que bom poder andar até lá sem ter que resolver nenhum problema grave!” Pensou Júlio.
Já que tudo parece estar mudando no Brasil que tal mudarmos nós também!
Pense nisto!