Muito além dos limites
Raphael Nishimura, da paraescalada - Foto: divulgação

Muito além dos limites

Atleta da paraescalada, o paulistano Raphael Nishimura encarna o espírito de superação esportiva

Muito além dos limites

por Luiz Humberto Monteiro Pereira

humberto@esportedefato.com.br

Quem vê Raphael Nishimura circulando pelas ruas paulistanas dificilmente imagina que se trata de um atleta. Portador de distonia muscular, o paulistano de 36 anos apresenta graves problemas na coordenação dos movimentos e se movimenta com dificuldades. “Como sou acostumado a lidar com a distonia desde pequeno, para mim é como se eu tivesse uma vida normal”, explica Raphael, que é formado em Designer de Interface, tem MBA na área de gestão da tecnologia da informação, pós-graduação na área de indicadores financeiros e trabalha atualmente em um grande banco. Em 2007, em busca de uma atividade física que complementasse sua fisioterapia, descobriu a escalada esportiva. E nunca mais parou. Em 2012, tornou-se vice-campeão do Mundial de Paraclimbing, na França. “Não existia nenhuma expectativa de chegar às finais, mas acabei me tornando o primeiro sul-americano a ir às finais de um campeonato mundial e conquistar uma medalha”, relembra.


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De lá para cá, participou de outras competições com bons resultados, como o quarto lugar no Mundial de Escalada de Gijon, na Espanha, em 2014. Temporariamente afastado dos treinos e competições enquanto se recupera de uma fratura na clavícula, se dedica à divulgação da escalada esportiva através do blog Escalango (https://escalango.com). “A ideia do blog é divulgar meu projeto ParaClimbing Brasil, que busca a inclusão de pessoas com deficiência física no esporte, e também mostrar detalhes da vida de um escalador amante da natureza, mas que vive na selva de pedra!”, explica Raphael, que também faz palestras sobre a busca por motivação e a importância da determinação para superar os desafios.

Esporte de Fato – Como a distonia muscular surgiu na sua vida? E como convive com ela?

Raphael Nishimura – A doença se manifestou quando tinha 8 anos. Iniciou pela perda dos movimentos do braço direito e depois coluna, perna, pescoço e se espalhou para o corpo todo. Fui me acostumando a superar as limitações físicas e levar a vida normalmente. É óbvio que tenho dificuldades de locomoção, de pegar coisas pesadas… Mas, de resto, é tranquilo. Não tem nenhum problema.

Esporte de Fato – Como se iniciou na escalada esportiva?

Raphael Nishimura – Iniciei no final do ano de 2007, a convite de um amigo que trabalhava comigo. Ele me falou que a escalada poderia ajudar muito na parte física. Como muito de nós, fui “picado” pelo bicho da escalada e nunca mais parei. No começo era só um hobby e uma fisioterapia. Em 2011, comecei a competir, como uma forma de incentivar as outras pessoas com deficiência física a praticar esportes – e até mesmo a escalada.

Esporte de Fato – O que achou da inclusão da escalada esportiva como categoria olímpica, no Jogos Tóquio 2020?

Raphael Nishimura – Foi um passo muito importante para a inserção do esporte no meio social. No Brasil o esporte é pouco conhecido e sempre ligado ao risco de vida. Com a divulgação maior do esporte, as pessoas irão conhecer as modalidades e diferenças da escalada esportiva. Tenho esperança de ter um atleta brasileiro nos Jogos Olímpico. Mas, se for analisar de uma forma racional, as chances são muito pequenas. Não temos muitos incentivos e não temos atletas que apenas se dedicam a escalar. Infelizmente a paraescalada não estará presente nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio.

Esporte de Fato – Como acredita que a escalada esportiva possa se desenvolver como esporte no Brasil?

Raphael Nishimura – Precisamos que as empresas invistam nos atletas para que eles possam se dedicar apenas aos treinamentos e competições. E ter workshops com treinadores de países onde a escalada já faz parte da cultura, para conseguirmos obter experiências que ajudem a conseguir melhor desempenho nos campeonatos.

Esporte de Fato – Quais são as características da modalidade de escalada esportiva que você pratica?

Raphael Nishimura – A modalidade dificuldade é a mais conhecida, pois é a que mais aparece na TV. Seria a escalada mais curta e mais técnica. Mas também tenho praticado bastante a escalada tradicional, que é mais longa e requer horas na pedra. As competições de paraescalada são divididas da seguinte forma: cadeirantes, amputados de braço, amputados de perna, deficientes visuais e as demais deficiências físicas e mentais. Cada grupo compete entre si e, antes da competição, é feito uma avaliação médica para definir em qual grupo você irá competir. Não há diferença na contagem de pontos, pois cada grupo reúne atletas com deficiências semelhantes.

Esporte de Fato – O que diria para um jovem deficiente físico que quisesse se iniciar na escalada esportiva hoje?

Raphael Nishimura – Eu diria para se dedicar e se divertir com esse esporte. Além da parte física, a escalada proporciona um imenso bem estar psicológico. Acredito que, em um futuro próximo, a paraescalada será incluída nos Jogos Paraolímpicos.

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