A Mostra “Oh, I Love Brazilian Women”, composta por obras de 12 artistas, todas brasileiras, será exposta no “Espaço Apexart” em Manhattan, Nova York. É uma denúncia ao assédio a brasileiras no exterior, aponta a curadora paulista Luiza Testa
Da Redação
Antes mesmo de ser exibida em janeiro, no “Espaço Apexart” em Manhattan, Nova York, a Mostra “Oh, I Love Brazilian Women”, composta por obras de 12 artistas, todas brasileiras, pensada e organizada pela tradutora e curadora paulista Luiza Testa, promete polemizar. E após permanecer exposta no MASP (Museu de Arte de São Paulo), agora a exposição segue para os EUA, numa critica ao assédio às brasileiras, principalmente no exterior. Segundo Luiza, a exposição representa uma soma de “machismo e xenofobia.”
Após residir por 18 meses em Nova York, a curadora revela que só se deu conta da sexualização de brasileiras quando começou a compartilhar a experiência com outras mulheres.
“O que é brasil? O que vem na sua cabeça quando você pensa no Brasil? Rio? Praias paradisíacas? Carnaval? Mulheres lindamente bronzeadas deitadas em Copacabana com biquínis sensuais? Eu diria que essas são as imagens que vêm à mente quando as pessoas pensam no Brasil, o lugar de onde fico feliz em dizer que venho”, conta.
“Essa imagem estereotipada foi construída no imaginário das pessoas desde a década de 1960, quando o governo brasileiro passou a anunciar mulheres lindas, sensuais e bronzeadas de biquíni em suas campanhas de divulgação do Brasil como destino turístico internacional. O objetivo era atrair pessoas de países desenvolvidos para viajar e gastar dinheiro com o Brasil, e o que melhor para divulgar a imagem ‘exótica’ que o Brasil tem do que as mulheres nacionais nos cartazes”, acrescenta.
“Insinuação sexual”
“Você é brasileira? Nossa, eu adoro mulheres brasileiras”. Mesmo quem nunca saiu do Brasil já deve ter ouvido essa frase, dita por um gringo a uma mulher brasileira, em claro tom de insinuação sexual”, diz a curadora.
E essa mesma frase, “Oh, I Love Brazilian Women”, aparece em inglês na obra da paulistana Santarosa Barreto, exposta há três anos no MASP, e agora dá nome a exposição que será inaugurada em janeiro na Apexart, em Nova York – um espaço de arte sem fins lucrativos localizado em Manhattan, Nova York.
“Oh, I Love Brazilian Women” tem obras de Arissana Pataxó (BA), Benedita Arcoverde (PE), Brenda Nicole (SP), Camilla D’Anunziata (RJ), Fernanda Sternieri (SP), Juliana Manara (Londres), June Canedo (Nova York), Lenora de Barros (SP), Micaela Cyrino (SP), Milena Paulina (SP), Santarosa Barreto (SP) e Vitória Cribb (RJ).
Além do assédio contra brasileiras, as 12 artistas que compõem a Mostra abordam temas como HIV, violência doméstica e pandemia de coronavírus, sempre de uma perspectiva de gênero. Explica Luiza Testa que, assim, as obras discutem a violência de gênero contra brasileiras para além do assédio:
“Muitas vezes essas mulheres estão fora do Brasil ilegalmente, e dependem financeira e emocionalmente dos companheiros. São diversas barreiras – financeira, de ilegalidade, da língua – que aumentam a condição de vulnerabilidade”, explica.
Uma das artistas, Juliana Manara, por exemplo, vive em Londres e se inspirou no dado de que três em cada quatro brasileiras vivendo na cidade são ou já foram vítimas de violência doméstica para criar a obra “Our bodies, Ourselves”.
“A gente cresce ouvindo isso, mesmo sem sair do Brasil. ‘Adoro mulheres brasileiras’ é o nome da exposição porque soa muito familiar mesmo, eu ouvi diversas vezes enquanto morava fora. A gente demora para entender o que de fato significa, qual é a insinuação por trás disso, mas sabe que tem algo nessa frase que não soa bem”, explica a curadora.