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Morte – Libertação do homem para a vida transcendente
NOV/2016 – pág. 34
“Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, se renova, dia a dia” – Paulo (II Coríntios, 4:16)
O significado de “corromper”, como mostra o dicionário, é “tornar podre, estragar, infectar, desnaturar”. Neste sentido é que Paulo utilizou o verbo citado. Ainda que o homem exterior (no seu corpo físico) corrompa-se, isto é, torna-se doente, vai perdendo as forças físicas; o interior (o Espírito) desse mesmo homem deve se renovar, ou seja, crescer em conhecimentos, em experiências, aprender, evoluir. O corpo envelhece, definha e morre, mas o Espírito não sofre essas consequências da idade e, ao contrário, deve renovar-se, progredindo sempre.
Um dos pontos básicos dos ensinos de Jesus, e que ao longo do tempo foi bastante esquecido e mesmo deturpado e a Doutrina Espírita recorda e explica com propriedade, é a consciência de nossa dimensão espiritual.
O Mestre informou aos discípulos várias vezes sobre os acontecimentos que precederiam sua morte no corpo físico, esclarecendo-lhes sobre a vida espiritual, mas eles não conseguiram entender. Posteriormente, após a crucificação, Jesus volta em Espírito, primeiro aparecendo à Madalena, depois aos discípulos na estrada de Emaús e depois aparece a todos em reunião, demonstrando a continuidade da vida. Só aí foi possível, da parte deles, compreender melhor a questão. Além das do Mestre Jesus, tantas outras demonstrações da vida no plano espiritual nos têm sido proporcionadas, mas a maioria das pessoas parece não se interessar em conhecer, nem examinar o assunto. É provável que esse comportamento esteja relacionado com o medo que a maioria tem da morte. Allan Kardec, no cap. II, do livro “O Céu e o Inferno” reflete sobre a causa do temor da morte. Esse temor – diz ele – é um efeito da sabedoria da Providência e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido acerca das condições da vida futura. À proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui.
A Doutrina Espírita muda inteiramente a maneira de se encarar o futuro, que deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais uma teoria, porém o resultado da observação. Allan Kardec realizou uma pesquisa psicológica exemplar sobre o fenômeno da morte. Por anos seguidos falou a respeito com os Espíritos daqueles que haviam passado para o outro lado da vida e agrupou esses pronunciamentos, de acordo com a condição evolutiva deles: os mais evoluídos, aqueles em condições medianas e Espíritos atrasados, sofredores, em dívida com a Lei Divina. Essas comunicações integram a 2.a parte do livro “O Céu e o Inferno”, possibilitando-nos aprofundar a compreensão sobre a passagem que todos faremos deste para outro plano da vida.
Para Victor Hugo, morrer não é morrer, mas apenas mudar-se. Quando o Júri de Atenas condenou Sócrates à morte, sua mulher correu aflita para a prisão, gritando-lhe: “Sócrates, os juízes te condenaram à morte”. O filósofo respondeu calmamente: “Eles também já estão condenados”. Mas é uma sentença injusta – ela insistiu. E ele perguntou: “Preferirias que fosse justa?” A serenidade de Sócrates era o produto de um processo educacional.
A Educação para a morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. Visa ajustar-nos à realidade da Vida, que não se resume no pequeno período que vai do berço ao túmulo, mas abrange o antes e o depois desses fatos.
Não existe uma morte igual à outra. Cada consciência é um universo. A morte não faz milagres. Continuamos a ser o que somos. Quanto mais virtudes e maior cultivo de espiritualidade legítima; mais paz, mais felicidade, mais luz.
Quanto maiores os vícios, o egoísmo, e o apego à Terra; mais sofrimento, mais desequilíbrio e mais trevas. A qualquer momento, aqui ou no Além, o Espírito pode mudar o rumo do seu destino.
José Argemiro da Silveira
Autor do livro: Luzes do
Evangelho, Edições USE