Mila Burns revela desafios dos imigrantes nos EUA

Mila Burns revela desafios dos imigrantes nos EUA

Mila Burns fala de desafios e do drama de brasileiros indocumentados nos EUA: “Uma jovem uma vez me disse que viver sem documentos é como viver em uma prisão sem paredes”. O comando do “Globo Notícia Américas” – direto de Nova York –, e o livro “Sorriso Negro”, que enfoca a vida e obra de uma das mais importantes sambistas e compositoras brasileiras, Dona Ivone Lara

Edição de novembro/2019 – p. 06

Mila Burns revela desafios dos imigrantes nos EUA

Mila Burns comanda na Globo Internacional o “Globo Notícia Américas” – direto de Nova York –, com entrevistas e informações sobre os imigrantes nos EUA. No dia 25 de outubro, a jornalista participou do “Painel de Mídia”, do “Focos Brasil Orlando”, em Orlando – evento promovido pela Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI) –, que teve a presença de destacados jornalistas, incluindo Paulo de Souza, Editor Chefe e CEO do “Jornal Nossa Gente”. Na ocasião, Mila lançou o livro “Sorriso Negro”, que enfoca a vida e obra de uma das mais importantes sambistas e compositoras brasileiras, a saudosa Dona Ivone Lara. Um encontro memorável, oportunidade em que explanou sobre os seus dez anos de trabalho na mídia brasileira, numa trajetória incansável junto aos cidadãos do mundo. “São muitos os desafios enfrentados pelos brasileiros residentes nos Estados Unidos. As realidades são diferentes, por exemplo, do brasileiro que mora em Orlando em relação aos brasileiros em Nova York e Miami. Mas desafios estão presentes em qualquer comunidade e tenho acompanhado isso pelo meu trabalho. A minha tarefa como jornalista é cobrir a comunidade brasileira, pontuar os fatos que envolvem os imigrantes de forma abrangente. A mídia construiu uma parceria importante com os brasileiros”, enfoca Mila.

Indagada sobre o ponto em comum entre os vários brasileiros que vivem nos Estados Unidos, a jornalista evidencia o que considera uma crise de identidade. “O não ser daqui nem de lá – o Brasil –, é o ponto crucial da questão. Não pertencer completamente a nenhum dos dois lugares é um desafio para o brasileiro fora do país, que de certa forma muda a sua identidade. Imagine não se sentir americano nem tão brasileiro mais. Para nós, da Globo, isso é um ponto fundamental, ao mesmo tempo em que vemos todas as várias comunidades brasileiras como iguais e merecedoras da nossa atenção”, enfatiza.


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Quanto aos brasileiros com status de indocumentados, na expectativa da legalização, Mila compara a uma prisão voluntária: “Anos atrás, em Washington, uma jovem brasileira muito talentosa me disse que viver sem documentos é como viver em uma prisão sem paredes. Ela tinha conseguido um emprego dos sonhos e não pôde seguir em frente porque não tinha um social security. Nunca me esqueci disso. São muitas vidas, sonhos e expectativas envolvidos em um processo de espera. São milhões de pessoas que aguardam mudanças nas leis para que possam se legalizar”, alerta a jornalista.

“Estou nos Estados Unidos a trabalho há onze anos e, confesso, houve momentos em que acreditei que haveria mudanças nas leis de imigração, abrindo chance para que pessoas indocumentadas pudessem se legalizar, mas isso não aconteceu, infelizmente. Veio o DACA, algumas oportunidades de mudanças de status, mas nada que fosse um caminho para a cidadania. E de repente houve uma estagnação”, lamenta. “Hoje a situação ficou muito mais difícil. E o imigrante que continua trabalhando duro, pagando impostos, colaborando com o país, não vê muita chance de mudança. Tudo é muito remoto no momento”.

E quanto ao sombrio futuro de 800 mil jovens imigrantes, que seriam beneficiados pelo DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals) – criado em 2012 por Barack Obama e revogado por Donald Trump –, que regularizou temporariamente a situação ilegal dos que chegaram aos EUA quando eram menores de idade, Mila foi contundente: “Era uma grande expectativa, mas ainda não sabemos o final. Em meados de novembro, a Suprema Corte dos Estados Unidos ouviu argumentos dos dois lados sobre a manutenção do programa e uma decisão final deve sair em junho de 2020. O ‘DACA’ foi um ponto importante para regularizar a situação desses jovens que precisam concluir seus estudos e trabalhar com regularidade no país, mas segue sendo uma incerteza. E hoje o que se tem são informações desencontradas”, fala com repúdio.

O Presidente Donald Trump tem sido um elemento complicador na questão dos imigrantes? Mila não hesita em responder, denotando que: o que ocorre hoje são resultados de uma promessa de campanha. “Durante a campanha presidencial, Trump fez uma lista de dez pontos que mudaria e enfatizou que levaria a imigração para níveis históricos. E ele está cumprindo com o que prometeu, por exemplo, na política reduzindo o direito de obter o visto no país, também dificultando o visto para pessoas com habilidades extraordinárias. Eu não posso dizer que esteja surpresa com o que vem acontecendo porque foram pontos que Trump levantou antes de se eleger”.

“Ficou mais difícil para a família trazer uma babá para trabalhar no país, como também dificultou a vinda de pais ao país. Sim, está muito difícil e as coisas se complicam com exigências e mudanças. E nada do que está acontecendo, como eu disse, é novidade. Os imigrantes são o alvo, o foco de um presidente que age com veemência, cumprindo com o que propôs em campanha”, complementa.

“Fui vítima de racismo”

Lembra Mila que o racismo que ocorre com brasileiros negros e homossexuais nos EUA é um fator preocupante. A jornalista revela que foi vítima de racismo na universidade Columbia, em Nova York, o que a deixou surpresa. “Durante o meu mestrado na ‘Columbia University’ uma pessoa me abordou dizendo que eu não pagava impostos. O preconceito contra estrangeiros, sobretudo latinos, é evidente. E o fato de eu ser professora, de ter feito Mestrado na ‘Columbia University’ é motivo de surpresa para algumas pessoas. Elas dizem, ‘parabéns, apesar de tudo você é professora’. E eu questiono o porquê do ‘apesar de tudo’. Eu estava em uma loja e o segurança me abordou pedindo para ver a minha bolsa. O fato de eu ser latina gera esse tipo de situação. Eventos que caracterizam o preconceito contra o imigrante. Aqui não existem privilégios, somos todos do mesmo tecido social”, alerta.

Consultada sobre o que mudou em sua vida, vivendo nos EUA, a jornalista foi enfática: “Eu mudei muito, o país me transformou. Esse tipo de experiência é importante porque você está sempre aprendendo. E falando nisso, no aprender, achava que o meu inglês estava perfeito quando o meu filho – Matias – de apenas três anos passou a me corrigir em algumas palavras em inglês”, sorri. “Os Estados Unidos são um país onde há oportunidades de formação acadêmica, aqui você tem muitas oportunidades de estudar. Fiz mestrado e doutorado com bolsas de estudos”.

Sobre o seu trabalho na apresentação do telejornal “Globo Notícia Américas”, que vai ao ar aos sábados, na Globo Internacional – com boletins durante a programação da emissora –, Mila Burns, capixaba, natural de Vitória, conta com equipe de correspondentes em pontos estratégicos –México, Chile, Canadá e EUA –, buscando informações relevantes junto aos imigrantes. “Trabalho com excelente equipe de repórteres. O ‘Globo Notícias América’ é feito com base nas demandas da comunidade e esse tem sido o nosso desafio diário”.

A jornalista também comemora o lançamento de seu livro, “Sorriso Negro”, sobre a vida e trajetória de Dona Ivone Lara, sambista e compositora renomada, que faleceu em abril do ano passo. “O livro aborda a carreira de uma mulher importante na música brasileira, que deixou um legado maravilhoso. Dona Ivone Lara tem uma história de vida incrível, que influenciou os movimentos negro e feminista apesar de ela não ter sido ativista. Apenas a sua existência, pela sua força e determinação, foi um ato de resistência”, enfoca.



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