Livro questiona distanciamento entre formação cultural de Brasil e EUA

Livro questiona distanciamento entre formação cultural de Brasil e EUA

‘Herança Compartilhada’ reúne artigos de estudiosos e fotos dos 2 países.
Brasilianista Dain Borges, um dos autores, fala sobre herança agrária.

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‘Herança Compartilhada’ busca questionar o
distanciamento entre a cultura de Brasil e EUA
(Foto: Divulgação)

O senso comum costuma querer apontar mais diferenças do que semelhanças na história e na formação cultural dos Estados Unidos e do Brasil. Entretanto, um livro lançado nesta quarta-feira (21) em São Paulo busca questionar o distanciamento entre a cultura dos dois países, refletindo não tanto sobre as diferenças, mas sobre as semelhanças. “Herança Compartilhada” é uma coletânea de seis artigos de escritores brasileiros e americanos e apresentar fotos de comunidades culturais de EUA e Brasil que buscam desfazer alguns mitos.

O norte-americano Dain Borges, professor associado de História na Universidade de Chicago e estudioso do Brasil é autor de um dos artigos, no qual versa sobre a herança agrária dos dois países. “A visão que os brasileiros têm de seu passado é da herança agraria é do latifúndio. A pequena e a média propriedades, que têm uma parte tão grande na história dos EUA, quase não têm lugar na historia brasileira. Há quase tantos pequenos fazendeiros e sitiantes no Brasil quanto nos EUA, mas eles são quase invisíveis”, diz o estudioso.

Borges cita o mito do cowboy norte-americano e o relaciona aos rodeios realizados no Brasil. “Uma medida da força do mito agrário no Brasil é que os rodeios do Brasil são quase do tamanho do publico de futebol brasileiro. Nos EUA, o rodeio é muito pequeno, tem um publico muito restrito, quase do tamanho do publico que assiste ao futebol nos EUA [que é bem menor]”, explica. “Curiosamente, o rodeio, que muitos brasileiros imaginam como uma forma cultural americanizada, tirada do bang-bang, de Hollywood, acabou prosperando mais nos Brasil que nos EUA.”


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O historiador ainda lembra que ambos os países tiveram seu interior desbravado por uma corrida pelo ouro – em Minas Gerais, no Brasil, e na Califórnia, nos EUA – e que nas duas nações há uma eterna dificuldade do pequeno proprietário constituir um patrimônio familiar que dure. “No ensaio, abordo as diferenças politicas e sociais da perpétua precariedade da pequena propriedade.”

Interesse pelo Brasil
Borges começou a estudar o Brasil na pós-graduação, devido a um interesse pelas obras de Machado de Assis e pelo cinema brasileiro. Ele aponta, entretanto, uma nítida diferença entre sua geração de brasilianistas – estudiosos do Brasil no exterior – e a de seus professores.

“Aquela geração se identificava muito com o processo politico do Brasil e quase unicamente com questões de desenvolvimento econômico e politico. A minha geração era um pouco mais focada na história de temas. A diversidade de temas já é muito mais característica da geração mais jovem, dos meus alunos, brasilianistas muito mais voltados para questões culturais do Brasil”, afirma o professor, que acredita que o livro seja um reflexo disso.

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A fotógrafa Denise Camargo foi para Nova York para fazer fotos com seu olhar sobre o estrangeiro. (Foto: Divulgação)

“O livro é muito diverso, discordamos entre nós. É um livro-debate, que traz perspectivas muito diferentes. Em certo sentido é também uma documentação através de fotografias das semelhanças e diferenças culturais utilizando o olhar do outro, que descobre a sociedade, a outra cultura, reconhecendo-se”, explica Borges.

A publicação surgiu após um projeto de quatro anos feito em parceria entre o Consulado dos EUA em São Paulo, o Sesc-SP e o Senac-SP, no qual foram promovidos encontros acadêmicos e intercâmbios entre comunidades brasileiras e norte-americanas. A edição é bilíngue, e foi organizada pelo jornalista Matthew Shirts e por João Kulcsár, professor de fotografia e coordenador do Centro de Estudos Brasil-Estados Unidos do Senac-SP.

Além de Borges, os outros autores de artigos são o escritor Roberto DaMatta, que fala sobre a relação inversa entre as duas culturas; o professor Antonio Pedro Tota, que fala sobre o efeito de Nelson Aldrich Rockefeller no Brasil; o pesquisador Barry Moreno, que fala sobre os processos migratórios dos dois países; o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, que trata da evolução do jornalismo no Brasil e nos EUA; e o historiador Jeffrey Lesser, que trata dos imigrantes nos dois países.

Fonte: g1.globo.com



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