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Jovens difíceis
SET/14 – pág. 58
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo: revolta sempre os corações honestos; mas a dos filhos com relação aos pais, tem um caráter ainda mais odioso; é sob esse ponto de vista especialmente que vamos encará-la para analisar-lhe as causas e os efeitos.” (Item 9, cap. 14, do Evangelho Segundo o Espiritismo)
Muito se fala no problema da “crise da adolescência”. É bom refletir sobre a contribuição da Doutrina Espírita para o assunto.
Os filhos, antes de serem filhos dos pais terrenos, já eram filhos de Deus. A carne procede da carne, mas o Espírito não procede do Espírito. Este vem ao plano físico para evoluir. O fato de o Espírito renascer nesta, ou naquela família, obedece a planejamento cuidadoso efetuado no plano espiritual. Ele pode renascer numa família por questões de afinidade, para realização de tarefas em conjunto, mas pode ocorrer também que espíritos inimigos, reencarnem no mesmo lar exatamente para tentarem a reconciliação. Para desfazer a inimizade, para acabar com estas desavenças que impedem o progresso espiritual. Pode acontecer, ainda, de um determinado casal aceitar receber como filhos Espíritos menos evoluídos, com a finalidade de auxiliá-los na evolução espiritual.
A maneira como a criança é recebida no lar, os exemplos, a educação que recebe são fatores importantes para o seu encaminhamento na vida, mas a bagagem que o Espírito traz, o seu grau evolutivo, muito influirá no seu comportamento, na atual existência. Diz Emmanuel: “Compadece-te dos filhos que pareçam diferentes de ti. Aceita-os como são e auxilia a cada um deles na integração com o trabalho em que se façam dignos da vida que vieram viver. Ampara-os sem imposição e sem violência. Antes de te surgirem à frente por filhos de teu amor, são filhos de Deus, cujo Amor Infinito vela em nós e por nós. Ainda mesmo quando evidenciem características inquietantes, abençoa-os e orienta-os, quanto possível, a fim de que se mantenham por esteios vivos de rendimento do bem no Bem Comum”. (1)
E Herculano Pires, sobre o assunto, considera: “O amparo dos pais não pode ser dado por meio de imposição e autoritarismo, sob pena de deixar de ser amparo para se transformar em tirania. Os pais só poderão ampará-los se tiverem amor suficiente para compreendê-los e ajudá-los sem exigências. Esta é também uma hora de aprendizado para os pais. E só o amor verdadeiro pelos filhos pode socorrê-los”. (1)
Ouvimos, numa palestra, a narração do seguinte fato, contado como verídico: Um senhor adentra o consultório de um psiquiatra, invade sua sala e diz ao médico: Dr., estou para dar um fim em minha vida, mas resolvi, como último recurso, lhe pedir ajuda. Meu filho, jovem de 18 anos, se rebelou contra mim e a mãe dele; não nos obedece, não estuda e não trabalha, e, o pior, ultimamente se envolveu com drogas. Está vendendo utensílios de nossa casa para adquirir a droga. O que fazer? – O médico, sem se alarmar, indagou-lhe: Há quanto tempo você não conversa com seu filho? – Há muito tempo, pois ele não dá condições de diálogo. O médico volta a indagar: Qual a última vez que você abraçou seu filho? Há muito tempo, pois se nem sequer conversamos. O médico sugeriu: Vá para sua casa, abrace seu filho, diga-lhe que o ama, e quer ajudá-lo, apesar de tudo. Se você não conseguir abraçar o filho, vai treinando, abraçando árvores. Nós só gostamos de abraçar aqueles que correspondem ao nosso afeto. Como o relacionamento com o seu filho não está bom, ele pode não lhe corresponder ao abraço. Assim, vai treinando, abraçando árvores, que também não correspondem, e quando abraçar seu filho não se desapontará se ele não lhe retribuir. O consulente achou estranha a orientação, mas resolveu tentar. Algum tempo depois, encontrou seu filho, em sua casa, na companhia de outro jovem que lhe vendia a droga. Aquele homem, numa crise de desespero, foi ao encontro do filho e o abraçou; aproximou-se do companheiro do filho e o abraçou; sua esposa adentra a sala e ele também a abraça, de sorte que sua esposa, seu filho, e o companheiro deste, perceberam que algo importante estava ocorrendo ali. Era um esforço muito grande daquele homem, tentando a solução de um problema que parecia insolúvel. E começaram a chorar, emocionados. A situação criada acabou por sensibilizar o jovem, filho do casal, que, dali por diante, procurou mudar de vida.
Herculano Pires tem razão quando acentua que “os pais só poderão ampará-los se tiverem amor suficiente para compreendê-los e ajudá-los, sem exigências”.
(1) Na Era do Espírito – Francisco C. Xavier e J. Herculano Pires (item 8).
José Argemiro da Silveira
Autor do livro: Luzes do
Evangelho, Edições USE