Isa Tourinho mostra a força da mulher ao volante de caminhão

Isa Tourinho mostra a força da mulher ao volante de caminhão

Quem foi que disse que caminhoneiro é profissão para homens truculentos? Nada disso! A brasileira Isa Tourinho já percorreu 48 estados americanos, adora dirigir ouvindo pop rock e não sente solidão nas estradas

Edição de setembro/2018 – p. 18

Isa Tourinho mostra a força da mulher ao volante de caminhão

A vida do caminhoneiro é pontuada de aventuras e desafios, de alegria e tristeza. Ser caminhoneiro significa passar por dificuldades, viver longe de casa transportando o progresso do país, e agregando histórias interessantes para contar. E se você, leitor, acredita que apenas homens truculentos comandam o volante de caminhão, está cometendo um equívoco: têm mulheres exercendo com maestria a profissão pelas estradas do mundo. Em Orlando, Isa Tourinho, baiana “arretada” de Salvador, pisa firme no acelerador, percorrendo as rodovias de vários estados americanos, levando cargas importantes, numa escalada quase que ininterrupta de trabalho. E tem um diferencial na boleia do seu caminhão, contrariando a preferência de a maioria da classe: “eu não gosto de ouvir música sertaneja, as letras são entediantes. Quando estou dirigindo ouço apenas o pop rock”, ressalta. “Nas horas de folga toco bateria e guitarra. Adoro a Rita Lee”.

Isa Tourinho já percorreu 50 estados americanos – 48 vezes a trabalho e duas outras ocasiões a turismo –, e diz que ainda não conheceu o Alaska. “Eu adoro dirigir, é minha paixão. Antes de trabalhar com caminhão, transportava turistas com Van, indo para Miami, Tampa e outras cidades da Flórida. O curioso é que quando estava nas rodovias, via os caminhões passando por mim e pensava: ainda vou dirigir um caminhão”, lembra.


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E deu certo. Desafiando os inconvenientes, Isa colocou em prática o seu plano de ideias e tirou licença para dirigir caminhão. Há quatro anos é caminhoneira nos EUA, transportando cargas comerciais para vários Estados. “No início tive um caminhão-baú em sociedade com um amigo. Eu carregava trator e outras cargas comerciais, obedecendo à logística de transportes. A minha primeira carga foi de Houston para Nova Iorque, não esqueço”, comenta. “Eu trabalho em média setenta horas semanais, e já fiquei até quarenta dias na estrada, mas depois descansei quinze dias”.

Indagada sobre atuar no mercado de trabalho liderado por homens, Isa Tourinho foi contundente: “Vivo em um país liberal. Os Estados Unidos permitem que a mulher trabalhe, sem discriminação. Aqui a mulher faz o que quer. E depois outra, o volante comercial não é só para homens. E se tenho algum tipo de problema na estrada com o caminhão, recebo ajuda dos meus colegas. O Caminhoneiro é unido nesse país”, enfatiza.

Dentre os fatos inesperados que marcaram a sua trajetória nas rodovias americanas, Isa lembra-se de quando transportou carga da Flórida a Nova Iorque, o que gerou alguns transtornos no caminho, exigindo que tivesse calma para contornar o imprevisto nas ruas de Manhattan. “Foi uma loucura (sorri de si mesma). Não me avisaram que as ruas de Manhattan eram estreias demais em alguns pontos. Imagine, eu dirigindo um caminhão com muita dificuldade, tentando manobrar em espaços muito estreitos. Foi um sufoco quando cheguei ao túnel do Harlem, a polícia veio atrás e o trânsito parou. Não prestei atenção na placa que informava a altura da ponte e o meu caminhão não conseguia passar embaixo. Foi um caos, eu suava no volante, mas a polícia me ajudou muito. Eles estão lá para nos auxiliar”, informa.

Truck stop e roubo de cargas

Quanto ao roubo de carga, além de inúmeros problemas enfrentados pelo caminhoneiro no Brasil, Isa Tourinho disse que nos EUA a situação é bem diferente para os profissionais do volante. “Jamais seria caminhoneira no Brasil, é muito perigoso. Aqui, nos Estados Unidos, é seguro. Nunca ouvi história sobre roubo de cargas ou outro tipo de assalto. Os postos de parada para caminhões – truck stop – são ótimos, com boas acomodações, mais parecendo um hotel cinco estrelas, e isso traz segurança ao caminhoneiro”.

“Mas confesso que quando estou no truck stop, não me sinto à vontade. Não consigo dormir direito porque sinto falta do banheiro da minha casa, da minha privacidade (sorri). Adoro o meu banheiro, o meu chuveiro, nada os substituem. E o melhor de tudo é voltar para a minha casa e desfrutar das coisas que eu gosto na intimidade”, revela a caminhoneira.

Indagada sobre a paralisação dos caminhoneiros no Brasil, que alavancou a força de uma categoria e mergulhou o país no caos, Isa não hesitou na resposta: “A meu ver, a categoria errou ao trocar a paralisação pelo óleo diesel. O motivo foi errado, deveriam ter parado pela gestão pública. Questionar para onde vai o nosso dinheiro, as mordomias no alto escalão do governo, enquanto a população sofre. Deveriam ter reivindicado a diminuição do salário dos deputados, isso sim seria importante. A questão diesel aos poucos volta ao que era antes, compreende?”

“Estou distante, mas acompanho as coisas que acontecem no Brasil. Precisamos orar pelo Brasil para que o país tenha um futuro melhor a partir das próximas eleições. Do jeito que as coisas andam por lá, nada vai para frente. O meu futuro já está traçado. Trabalhei muito para isso, mas não posso me esquecer dos brasileiros que estão lá, no Brasil, passando por situações difíceis com uma Economia instável, o dólar subindo de forma desordenada, o que acaba encarecendo as coisas”, desabafa Isa.

Segundo Isa Mourinho, quando consultada sobre a solidão nas estradas, disse que o seu jeito alegre de ser supera os momentos que poderiam resultar em tristeza. “Eu acho que não sofro desse mal, a solidão. Estou sempre muito bem, sorrindo, evidente que vez em quando bate uma saudade de casa, mas isso não é tristeza. Não deixo me abater, jamais. Sou uma pessoa do bem, alegre”, determina.

Indagada sobre o ritual da estrada, se leva consigo amuleto para espantar agouros ou algo parecido, Isa rebateu essa possibilidade, enaltecendo o nome de Deus. “Não acredito em energia negativa ou energia positiva, como também não levo objetos para garantir o meu bom dia na estrada. Nada disso. Acredito em Deus, e quando acordo ou quando vou dormir eu agradeço a Deus por tudo. Faço a minha oração. É ele quem me dá força para seguir em frente”, exalta a sua fé.

O sistema de transporte cargas, explica Isa, tem toda uma logística através de um agente que programa os locais de entrega – cidades e Estados – para onde será encaminhado o carregamento. “Posso estar em determinada cidade e receber um telefonema para pegar outra carga e transportá-la para outra localidade. Tenho que seguir a logística”.

“Também posso recusar a transportar determinada carga, como, por exemplo, armas e explosivos. Paga-se muitíssimo bem por essas cargas, mas não vale o risco porque qualquer acidente eu coloco a minha vida em perigo. O dinheiro é muito bom, irrecusável, mas a minha segurança está acima de tudo. Explodiu, a sua vida já era”, assegura Isa.

Opinando sobre a Comunidade Brasileira na Flórida, a caminhoneira disse o seguinte: “Conheço muita gente do meu país na Flórida. Estou nos Estados Unidos há vinte quatro anos e participo das atividades promovidas pelos brasileiros. Sempre que posso, quando não viajo, participo dos eventos maravilhosos. Adoro o meu país e também amo a minha gente”, finaliza.

A caminhoneira que adora ouvir Rita Lee e que toca guitarra e bateria nas horas de folga contesta a expressão, “mulher é sexo frágil”. Nada disso, ela é destemida e demonstra coragem no volante de seu caminhão, deixando evidente que a mulher é uma grande força. “Somos fortes e não frágeis, imagine (rebate cantando trechos da música de Erasmo Carlos, Mulher (Sexo Frágil). “Adoro quando o Erasmo (Carlos) canta, ‘dizem que mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda. Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que força está com elas…”.



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