Guilherme Canaes: A música, aonde quer que ela esteja

Guilherme Canaes: A música, aonde quer que ela esteja

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JAN/2017 – pág. 50 e 51

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Jazz, Pop ou Heavy Metal? Se o assunto é música, seja ela ao vivo ou em estúdio, o engenheiro de som é um só. Guilherme Canaes, engenheiro de som, produtor musical e músico é um dos mais renomados profissionais do mundo da música.
Versátil, seu nome está diretamente ligado a bandas e artistas brasileiros de Heavy Metal, como Angra, Shaman e Mindflow. Junto a artistas internacionais, realizou trabalhos com os alquimistas do Symphony X, além de Blaze Bailey e Jerry Lee Lewis entre muitos outros de igual renome. Na música Pop internacional, gravou medalhões como George Benson, além de uma lista quase sem fim de grandes nomes.


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Com mais de trinta anos de profissão, ganhador de um Latin Grammy, Guilherme Canaes continua vinculando seu nome a grandes produções, a exemplo do novo álbum de Paulo Ricardo ou do filme “Elis” – cinebiografia com direção de Hugo Prata e roteiro de Luiz Bolognesi, Hugo Prata e Vera Egito. O filme, “Elis”, ganhou três prêmios no Festival de Gramado, como os de melhor filme pelo júri popular, melhor atriz para Andréia Horta e melhor montagem para Tiago Feliciano.
Com os muitos recursos tecnológicos existentes hoje, o processo de produção musical também acompanhou essa evolução, o que significa que contar com profissionais como Guilherme, aonde quer que você esteja, hoje é uma realidade. Guilherme, em seu estúdio localizado em São Paulo, oferece seus serviços de mixagem baseado no envio de arquivos pela internet. Meu novo CD Origem, recém-gravado e em processo de fabricação, foi produzido em parceria com Guilherme e mixado por ele no Brasil, utilizando o recurso de eMixing. O resultado, como não poderia deixar de ser, foi perfeito sob todos os aspectos.

Em entrevista exclusiva ao Nossa Gente, Guilherme Canaes fala sobre sua carreira, conquistas, bem como pelos projetos que vem realizando via eMixing. Confira!

Nossa Gente – Como você se envolveu com a área técnica da música, ou seja, com o trabalho de gravação em estúdio?

Guilherme Canaes – Eu estava na faculdade de composição e regência sem ter certeza de que era aquilo que eu queria. O curso parecia perfeito para eu me tornar apenas um bom professor de música, até que conversando com um amigo, ele falou dos estúdios de gravação onde seu pai realizava produções para publicidade. Me interessei na hora, até porque eu mal sabia que existiam estúdios no Brasil e muito menos todos perto da minha casa. Visitei vários, mas nenhum tinha vaga para um novato. Dentre tantos, acreditei que um deles, o Vice-Versa, seria era “o” estúdio para começar, e lá insisti até que me ofereceram vaga para office boy. Aceitei imediatamente, com a condição de poder ficar nos estúdios se não estivesse na rua. Em menos de dois meses me deram aumento e promoção para o cargo de ‘assistente de estúdio’, mas após um ano fui demitido, por corte de verbas. Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, porque que saltei de lá para o estúdio Transamérica, recém-inaugurado, e recebendo o dobro do salário. Lá pude desenvolver meus conhecimentos de uma maneira nunca antes imaginada, pois a gerência do estúdio queria que eu praticasse. Eu ficava com a chave do estúdio, e esse foi um período excelente para meu aprendizado.

NG – Como não existiam recursos, como os vídeos e as escolas de áudio, quem foi o principal responsável por sua formação profissional?

GC – No Vice-Versa foi o saudoso Luiz Augusto Botelho, que me ofereceu aulas depois do expediente e me presenteou com livros impossíveis de se conseguir no Brasil. Engenheiros que eram meus chefes, como o Paulo Farat, Mica e Vitor Correa também foram os responsáveis por minha formação. Já no Transamérica tive dois chefes fantásticos, que foram Roberto Marques, para mim um dos grandes mestres que jamais vi trabalhar, e Carlos Dutweller, o grande projetista de estúdios. Todos foram professores maravilhosos.

NG – Seu trabalho como músico sempre andou paralelamente a engenharia de áudio?

GC – De forma indireta, sim. Como músico trabalhei com o Paulo Ricardo no primeiro álbum solo, após o RPM, e na tour em consequência desse trabalho. Fiz shows com o Zero, com o Rock Memory e com Fernando Deluqui, mas realmente o que eu escolhi desenvolver foram minhas aptidões dentro do estúdio e nos shows, mixando o P.A. ou até mesmo o monitor. Sinto meu trabalho como uma espécie de regência de todos os sons, com os quais temos que lidar inclusive com a sensibilidade musical. Normalmente começo a mixar quando a maioria das pessoas considera que a mix já está pronta, e se me deixarem trabalhar, eu não paro enquanto não extrair da música o máximo de emoção possível, mesmo que seja uma faixa ‘gélida e engessada’. Acho que meu trabalho é justamente detectar onde tudo pode melhorar e fazer o máximo possível para isso. Considero essa busca algo muito mais musical do que técnico, e então acho que meu trabalho como músico está presente o tempo todo “tocando” os diversos sons de uma música.

NG – Como engenheiro de som, gravando ou mixando discos, seu nome está ligado a diferentes gêneros musicais, do Heavy Metal ao Pop. Você tem preferência por trabalhar com algum gênero musical?

GC – Sim, definitivamente com Heavy Metal. E claro, todos os gêneros e subgêneros do Rock, Pop e outros. Nasci e cresci ouvindo de tudo, mas o que me ferve o sangue é o Rock. Me enfiei nesta vida por causa dele. Gosto do Heavy Metal mais melódico, mais progressivo do que trash, assim como o das bandas Angra, Shaman, Mindflow e, recentemente, dos norte-americanos do Symphony X. No entanto, toda música de qualidade é boa para se trabalhar, mesmo que não seja um gênero do qual eu seja familiar. Adoro gravar orquestras completas, jazz e tudo o que é tocado junto me dá muita satisfação. Por outro lado também gosto de trabalhar modernamente, em um computador, sozinho, e em qualquer lugar imaginável onde eu possa levar um pequeno setup.

Mixando-P.A.,-em-grandes-festivais

NG – Recentemente você gravou a trilha do filme “Elis”, que inclusive conta com uma orquestra. O desafio é maior quando envolve a gravação de orquestras?

GC – Sim, principalmente porque existe tempo, dinheiro e muitas pessoas envolvidas, geralmente as melhores em suas áreas. Isso cria uma pressão positiva para se fazer o melhor, sem chance de errar, e com a responsabilidade de extrair o máximo da performance. Não dá pra ficar passando som nem pedindo pra fazer de novo, simplesmente porque você não gostou de alguma coisa. Claro que existem variáveis, mas o esperado é que você saiba o que está fazendo e faça perfeitamente ‘de primeira’, assim como se espera o mesmo dos músicos e do maestro.

NG – O que não pode faltar a um engenheiro de som?

GC – Paciência, disponibilidade e inteligência emocional. O conhecimento é apenas o ingrediente básico.

No Palco

NG – Paralelamente ao trabalho em estúdio, você tem bastante envolvimento com a música ao vivo. Quais as principais diferenças entre o trabalho em estúdio e ‘ao vivo’, e qual deles você tem preferência?

GC – Primeiro responderei a segunda pergunta. Não tenho absolutamente preferência por nenhuma das situações. Gosto igualmente dos dois trabalhos. Pode ser um grande concerto, para cem mil pessoas, ou um showzinho em um boteco. Pode ser uma gravação em um grande estúdio ou uma mix no laptop. Tudo me dá uma satisfação muito grande. A música ao vivo é ouvida por uma audiência que provavelmente a conhece através de gravações, e portanto o cara que está pilotando a mix ao vivo tem que ter enorme familiaridade com estas gravações, a fim de reproduzir o mais fielmente possível o que já existe e criar, no mínimo, a mesma emoção que a gravação original transmite. Normalmente, ao ser convidado para mixar um P.A., além do input list, mapa de palco e outros, eu peço o set list. A partir de então monto um playlist no meu celular e fico ouvindo exaustivamente. Dessa forma não perco um solo ou uma passagem marcante, o que poderia frustrar a audiência caso não fosse ouvida em seu nível adequado. Já em estúdio o trabalho está nascendo, está sendo criado, e então temos maior participação na criação e também a responsabilidade de trazer o melhor que cada elemento pode acrescentar a esta música que vem surgindo. É um processo muito delicado, onde a captação de uma voz ou um solo, por exemplo, pode ser a chave do sucesso ou da indiferença de uma faixa, e assim a mixagem de tudo o que foi gravado deve permitir que essa música seja reconhecida em seu estilo como uma nova referência. Essa deve ser a busca, sempre.

NG – Ao contrário da música gravada em estúdio, que permite retoques, a música ‘ao vivo’ não conta com esse recurso. Os recursos tecnológicos, como as consoles digitais, por exemplo, facilitam esse tipo de trabalho?

GC – As consoles digitais colocam à disposição tudo o que o artista de áudio julgar necessário para fazer a mixagem ao vivo, mas não existe recurso que ‘retoque’ uma performance pobre. Se o cantor desafinar, por exemplo, não há recurso ao vivo que corrija essa desafinação, assim como não há remédio para um erro do baterista ou de qualquer outro músico. O que vem acontecendo frequentemente são os playbacks em multicanal rodando junto à performance ao vivo, onde tudo pode ser utilizado, desde solos importantes, passagens muito altas de voz, naipes, orquestras e outras coisas ‘difíceis’ de se reproduzir ao vivo. Tudo isso é simplesmente substituído pela gravação que roda junto a apresentação ao vivo. ‘That`s sad, but true’… Uma das grandes coisas do Heavy Metal é que nesse gênero musical isso não existe. Pode até ser usado uma linha de teclado previamente gravada, para não se levar um tecladista em tour, mas fora uma situação assim, tudo é tocado de verdade. No Brasil, que eu saiba, só a dupla Chrystian e Ralf toca e canta tudo ao vivo, de verdade. De resto, praticamente todo mundo usa recursos gravados.

continua na próxima edição


Salla-Foto-New-Bossa-PearlSallaberry
Músico, produtor musical e bacharel em Publicidade e Propaganda, membro do Latin Grammy. Autor do Manual Prático de Produção Musical.



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