Guilherme Canaes: A música, aonde quer que ela esteja – continuação

Guilherme Canaes: A música, aonde quer que ela esteja – continuação

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FEV/2017 – pág. 50 e 51

Continuação da edição 118


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NG – Quais os trabalhos mais interessantes que realizou com a música ‘ao vivo’? Porque?

GC – Todos os shows e trabalhos ao vivo são especiais, porque só deixam registro na memória. Hoje em dia as pessoas até filmam um pouco e publicam nas redes sociais, e então conseguimos reviver alguma coisa. Porém, existem aqueles shows que marcam de tal forma que nunca mais nos desligamos dele. Foi assim um show do Angra em meados de 1998, no Bataclan, em Paris. Aquele lugar tem uma aura mágica, é quase um templo do espetáculo com mais de 150 anos, onde se apresentaram os maiores nomes do espetáculo mundial, com direito até a Edit Piaf. Desde os anos 70 o Bataclan é um teatro de Rock, e foi lá um dos melhores shows de todos que já fiz com o Angra. Em 2015 fizemos uma tour no Japão que também foi muito marcante. Recentemente em tour com o SymphonyX fizemos shows memoráveis. No Barby Club de Tel Aviv foi muito especial, pois em Israel o público é carente de Heavy Metal ao vivo, e estavam todos enlouquecidos. O legal de mixar shows de Heavy Metal é que a audiência desse tipo de música é muito crítica e informada. Normalmente são pessoas de um nível intelectual mais elevado e conhecem muito da música que está sendo apresentada, além de saberem o que você está fazendo ali. Sendo assim, parece que existe uma interação com a plateia, e eles percebem quando você está dando o seu melhor e está proporcionando a todos a possibilidade de desfrutar ao máximo a música de que eles tanto gostam. É, sem dúvida, muito gratificante.

NG – Você já trabalhou em palcos por todo o mundo, inclusive muitas vezes aqui nos Estados Unidos. Ser profissional de áudio fora do Brasil é menos difícil?

GC – Trabalhar no Japão é sempre muito bom. Lá eles tem um simples cuidado que faz toda a diferença, que é tech meeting, ou seja, um encontro que acontece geralmente um dia antes do primeiro show. Nessa ocasião tudo é checado e todas as necessidades, já requisitadas anteriormente nos riders, são levantadas e revisadas a tempo de ser providenciada alguma coisa que tenha faltado. Se você esquecer algo nesta reunião é melhor nem pedir depois. Você será cobrado por não ter lembrado daquilo no momento certo. Esta prática te deixa muito seguro e no dia do show tudo estará sempre adiantado. Na Alemanha e em toda a Europa tudo funciona muito bem. Sempre onde se encontram profissionais comprometidos, o trabalho flui com facilidade. Dificuldades ou facilidades existem muito mais em função do status que o artista tem do que propriamente onde ele se apresenta. Em grandes festivais, como Rock in Rio, Wacken e Bloodstock entre outros, só os headliners têm uma passagem de som adequada. Já os artistas e bandas figurantes fazem apenas um linecheck e atacam muitas vezes sem a chance, sequer, de dizer um ‘alô’ antes de começar. Isto faz muita diferença no resultado final, mesmo que haja a maior boa vontade das equipes envolvidas. Já os artistas brasileiros que vem aos Estados Unidos tocar no circuito ‘brasileiro’ enfrentam dificuldades inimagináveis. Na verdade as condições são muito piores daquelas acostumadas no Brasil. Foi essa a minha experiência em trabalhar nos Estados Unidos, pois só vim para cá trabalhar com artistas brasileiros. Neste circuito, os promotores sempre usam equipes sem o menor preparo. Claro que esta não é a realidade nos Estados Unidos. Aqui é o lugar mais fácil para você conseguir um equipamento de primeira e gente boa para trabalhar, mas os promotores do circuito brasileiro não conhecem as pessoas certas, e para baixar o custo, pecam muito na escolha de suas equipes. Uma vez questionei um produtor o porquê ele não usava uma equipe americana e competente para trabalhar com a gente, em vez de uma equipe precária. A resposta dele foi ‘porque eu não conheço outra equipe’. Isso justifica a dificuldade trabalhar no circuito brasileiro nos Estados Unidos. É muito mais difícil que trabalhar no Brasil.

eMixing

NG – Nós acabamos de trabalhar juntos no Cd Origem, e não tenho dúvidas que mesmo distantes alguns milhares de quilômetros, foi como se estivéssemos no mesmo ambiente de estúdio. Esse ainda é um recurso novo para os brasileiros?

GC – Sim, mas cada vez mais trabalho neste formato, mesmo as vezes estando até na mesma cidade. Sempre que pego uma mix para fazer em casa, deixo o cliente ciente que ele ficar junto a mim ou se locomover para ficar comigo durante todo o processo pode ser desnecessário e até antiprodutivo, pois antes de começar a mix efetivamente, gosto de preparar tudo e deixar o ambiente da mixagem apropriado, para que eu me concentre onde minha atenção é realmente necessária. Nessa fase de preparação pode ser inquietante para quem está ao meu lado aguardando a mix começar. Como falei anteriormente, começo a mixar quando muitos acham que já está pronto. Assim, se o artista estiver comigo, ficará inquieto querendo participar antes mesmo que a mix tenha sido revelada.

O melhor é antes de tudo fazer uma audição de todo o material, conversar bastante, falar de referências e expectativas, para daí então começar a mixar. Neste ponto, prefiro deixar a mix pronta para meu gosto e aí receber o artista em casa para ouvir e fazer as alterações que ele julgar necessárias. Vale dizer que eu não me apego a nada que eu tenha feito, mesmo porque o produto final não é meu. Se o artista não puder estar fisicamente comigo, hoje em dia é muito fácil conversar por Skype ou até mesmo pela chamada com imagem. Sendo assim, não há mais uma grande necessidade de se estar junto com o cliente.

NG – O trabalho que realizamos em seu estúdio atendeu todas as necessidades que o projeto exigia. Você já recebeu material para realizar o eMixing também em outros estúdios?

GC – Sim, já recebi o trabalho de uma banda que quis a participação de um artista com quem eu tenho familiaridade e então pediu para que eu gravasse e fizesse a mix em um estúdio de minha preferência. Foi muito fácil e ficaram todos muito satisfeitos, mesmo sem ter estado de corpo presente no estúdio.

Capa

NG – Quais outros trabalhos foi utilizado o eMixing?

GC – Recentemente as seis músicas do Fernando Deluqui que estão tocando uma barbaridade nas rádios pelo Brasil afora. Ele vem conseguindo isso somente com o trabalho de divulgação que ele está fazendo por conta própria, e é muito legal ver isso acontecendo.

NG – Quais as principais vantagens que o recurso oferece a serem consideradas pelo cliente?

GC – Trabalhei em grandes estúdios que sempre tiveram grandes engenheiros de som. Quando esses engenheiros já não estavam mais disponíveis, a qualidade, a aura e principalmente o resultado destes estúdios tiveram uma mudança drástica, e assim muitos fecharam e outros estão mal das pernas. Já os estúdios os quais os proprietários são engenheiros de som, esses continuam bem e não sofrem com as mudanças que vem acontecendo. Isto é a prova de que muito mais importante que o estúdio e seu equipamento, é sim quem está no comando de tudo aquilo. Hoje em dia, com todos os recursos que temos nas nossas plataformas digitais, o equipamento de um estúdio grande não agrega melhoria substancial a sua música na mixagem. Eu diria até que é muito pequena essa melhora, se comparado ao custo extremamente mais elevado e, na maioria das vezes, impraticável. Já com o eMixing, o cliente pode escolher o artista de áudio que julgar mais adequado ao seu estilo, eliminando o custo de um estúdio grande, e inclusive remunerando adequadamente o trabalho do artista de áudio.

NG – Ao utilizar o eMixing, o CD Origem foi o primeiro onde atuou como co-produtor?

GC – Do CD inteiro sim, e devo isso a sua generosidade. Você fez tudo antes, e assim peguei a bola na posição ideal e só a empurrei pro gol. Nesse último trabalho do Deluqui teve uma faixa que mudou tanto do que ele havia me mandado – Vai Ser Bom Te Encontrar – que ele fez questão de me colocar como produtor. Nesta faixa realmente gravei coisas, modifiquei outras, mexi muito e ficou muito legal.

Projetos Futuros

NG – O mercado norte-americano de música é gigantesco, com diferentes possibilidades. Existe o interesse em viver fora do Brasil?

GC – Todo o interesse, principalmente agora com meu filho de um ano e dois meses. Me assusta pensar em ver ele crescendo e se educando aqui onde moro, em São Paulo, no Baixo Augusta.

NG – Que tipo de trabalho você ainda não realizou e agora, se pudesse, realizaria?

GC – Gostaria de excursionar com uma banda dos meus sonhos ou com um artista top mundial, mas as bandas dos meus sonhos estão todas acabando, e dessa forma está cada dia mais difícil realizar esse sonho. Já com um artista top mundial pode e deve rolar, e isso só depende de mim. O Symphony X é top no seu estilo, e eu realmente gosto demais da música deles – inclusive meu toque do celular é a intro de “To Hell and Back”, que é composição deles! Assim mesmo, o Heavy Metal que eles tocam pertence a um nicho pequeno até mesmo dentro do Heavy Metal.

NG – Quais seus projetos para 2017?

GC – Continuar o que tenho feito, com ênfase nos trabalhos fora do Brasil e, se tudo der certo, após resolver algumas coisas que tenho no Brasil, me mudar com minha família em definitivo para os Estados Unidos.


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Músico, produtor musical e bacharel em Publicidade e Propaganda, membro do Latin Grammy. Autor do Manual Prático de Produção Musical.



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