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As crianças com 2 e 3 anos de idade apresentam maior estabilidade no crescimento, devido à diminuição da velocidade de ganho de peso e estatura, o que condiciona diminuição do apetite. Por isso, as demandas de energia e de proteínas por quilo de peso diminuem em comparação com as necessidades durante o primeiro ano de vida.
Nesta fase, o infante está desenvolvendo sua coordenação motora, com destaque à aquisição da capacidade de se alimentar sozinho. O estabelecimento de horários regulares para as refeições e a seleção de utensílios (copos, pratos e talheres) adequados para cada idade apresentam-se como condição importante para a aceitação e experimentação dos alimentos. Como refeições intermediárias, os lanches devem ser saudáveis, pois, nesta idade, os hábitos alimentares estão em formação.
O apetite da criança de 2 a 3 anos é irregular e pode variar de um dia para o outro. Assim, em um dia ela pode aceitar determinado alimento e no outro recusá-lo, atitude que pode originar ansiedade na família e nas pessoas responsáveis pelo seu cuidado.
Recomenda-se fazer a introdução de novos alimentos e preparações de forma gradual, respeitando-se os interesses da criança e auxiliando no aprendizado do consumo de uma dieta equilibrada. A criança, ao experimentar e aceitar o alimento, apresenta grande chance de aprová-lo e incluí-lo em seus hábitos alimentares.
Conduzir de forma apropriada a alimentação da criança requer cuidados relacionados aos aspectos sensoriais (apresentação visual, cores, formatos atrativos), à forma de preparo dos alimentos (temperos suaves, preparações simples e alimentos básicos), às porções adequadas à capacidade gástrica restrita e ao ambiente onde serão realizadas as refeições, que são fatores a serem considerados, visando à satisfação de necessidades nutricionais, emocionais e sociais, para a promoção de uma qualidade de vida saudável.
A alimentação, envolvida por emoções e sensações, apresenta-se como um ato de convívio social, em que os alimentos são fortes representações psicológicas, criadas em cada indivíduo, a partir do seu relacionamento único e intransferível com os produtos a serem ingeridos por ele. Essas experiências são conduzidas desde o nascimento, com o aleitamento materno e, posteriormente, com ações e reações diante dos alimentos, e influenciadas constantemente pela forma como eles são oferecidos.
Habilidades alimentares:
- come sozinho;
- tem vontade de escolher o que vai comer (mas escolhe só algumas coisas).
O que oferecer:
- leite integral ou semidesnatado, dependendo do biotipo da criança e da orientação do pediatra;
- outros derivados de leite (queijo derretido ou em pedaços; iogurte integral ou desnatado; requeijão; pudins e sobremesas lácteas);
- cereais fortificados com ferro (matinais ou em forma de mingau);
- grãos/carboidratos (pães brancos e integrais, bolachas, torradas, arroz, macarrão, bolos simples);
- todas as frutas, frescas, na forma de sucos ou como ingrediente de sobremesas e bolos caseiros;
- hortaliças cruas ou cozidas (salada, tomate, chuchu, espinafre, brócolis, couve-flor etc.);
- proteína (ovos, carne de frango, boi ou porco picada ou moída, peixe sem espinho, feijão, tofu, fígado e miúdos, creme de amendoim);
- comidas mais sofisticadas como lasanha, pizza, estrogonofe etc.;
- sucos de fruta e hortaliças.
Pirâmide Alimentar: com a finalidade de promover orientação nutricional e hábitos alimentares saudáveis para crianças de 2 a 3 anos de idade, fez-se a adaptação da Pirâmide Alimentar. A pirâmide foi baseada em dieta padrão (1.300kcal) com seis refeições, calculada de acordo com as recomendações para a idade. As porções e os equivalentes foram estabelecidos de acordo com o total de energia de cada alimento utilizando-se o software Virtual Nutri. Foi avaliada a distribuição percentual dos macronutrientes em relação ao valor energético total, obtendo-se 15% para proteínas, 59% para carboidratos e 26% para lipídios. Foram calculados, ainda, os valores para ferro total e ferro biodisponível.
Os alimentos estão organizados em oito grupos: arroz, pão, massa, batata, mandioca (5 porções), verduras e legumes (3 porções), frutas (3 porções), carnes e ovos (2 porções), leite, queijo e iogurte (3 porções), feijões (1 porção), óleos e gorduras (1 porção) e açúcares e doces (1 porção). A pirâmide alimentar apresenta-se como um instrumento importante para orientação nutricional, servindo como guia para o planejamento de uma alimentação saudável para crianças de 2 a 3 anos de idade.
A pirâmide alimentar é dividida em 4 níveis e esses níveis em 8 grupos. Nenhum grupo pode ser utilizado como única fonte dos nutrientes, porque nenhum grupo contém todos os nutrientes necessários à manutenção da saúde.
A base larga indica os alimentos mais necessários e que devem ser mais consumidos, à medida que vai encurtando, vai diminuindo a necessidade do consumo, chegando até a ponta da pirâmide que indica alimentos que devem ser ingeridos em pouca quantidade.
A dieta foi elaborada com alimentos típicos e do hábito alimentar, distribuídos em seis refeições (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite).
Com relação à distribuição das refeições, 19% do valor calórico total (VCT) diário concentram-se no café da manhã; 23%, no almoço; e 24%, no jantar. O restante se distribui entre os lanches intermediários, sendo cerca de 10% em cada um.
Quanto de cada coisa por dia: uma porção de alimentos para uma criança desta idade equivale a cerca de 1/4 da porção para um adulto.
– Laticínios: 3 porções (1 porção = meio copo de leite; 10-20 gramas de queijo; 1 pote pequeno de iogurte; 1/4 de xícara de pudim).
– Grãos/carboidratos:5 porções (1 porção = meia fatia de pão de forma; 1 ou 2 bolachas; meia xícara de arroz ou macarrão; meia xícara de cereal).
– Frutas: 3 porções (1 porção = meia fruta média fresca, como banana ou maçã, ou meio copo de suco natural).
– Hortaliças (verduras e legumes): 3 porções (1 porção = 2 a 3 colheres de sopa).
– Proteína: pelo menos 2 porções (1 porção = 2 colheres de sopa de carne picada ou moída, de frango, boi, porco ou peixe; 1 ovo; 1/4 de xícara de feijão ou tofu; 1 colher de sopa de creme de amendoim ou de avelã).
A pirâmide ilustrada pode ajudar a entender, montar e fazer o cardápio. Sempre tentando incluir novos alimentos, levando sempre em conta as preferências individuais, os hábitos familiares e regionais e nunca se esquecendo de consumir todos os grupos alimentares. Leve sempre em conta que os hábitos alimentares são construídos diariamente e devem refletir a alimentação da família na qual a criança está inserida. Monte cardápios com pratos coloridos, em formatos interessantes, construa personagens e não se esqueça de incluir a criança em tarefas em que ela seja capaz de colaborar. Escolha objetos adequados à idade, tais como talheres, pratos e copos, e deixe a criança comer sozinha.
Dicas: para poder ficar de olho em possíveis reações alérgicas, não dê muitas comidas novas ao mesmo tempo; os engasgos ainda são um risco; é provável que seu filho pareça estar comendo menos do que antes. Isso é normal nesta idade. Se você quiser ter uma ideia, pode usar a diretriz da Academia Americana de Pediatria como guia: para cada centímetro de altura da criança, ela deve consumir 15 calorias ao dia. Se seu filho mede 90 cm, uma boa medida é comer 1.350 calorias diárias.
Conclusão: a pirâmide alimentar desenvolvida para crianças de 2 a 3 anos de idade apresenta-se como um instrumento para orientação de pais, educadores e profissionais da área da saúde sobre a melhor forma de conduzir a alimentação infantil, servindo como guia para uma alimentação saudável.
Para a elaboração de a pirâmide alimentar, foram considerados fatores como a disponibilidade e a presença de alimentos que fazem parte do hábito da família. O tamanho das porções está adaptado às características da idade da criança, às variações do apetite e à limitada capacidade gástrica, possibilitando também fácil entendimento e aplicação.
É importante que a pirâmide alimentar seja sempre avaliada e adaptada em função dos objetivos propostos e da população a ser atingida, respeitando-se a disponibilidade de alimentos regionais e os hábitos alimentares, pois assim ela pode se tornar um guia prático de orientação nutricional.
Elaine Peleje Vac
elaine@nossagente.net
(Médica no Brasil)
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