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Entenda relação do brasileiro com religião na Central Flórida
Foram seis meses de pesquisa com emigrantes, e Kelly Thaysy Lopes Nascimento, formada em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba, traz resultados surpreendentes na relação entre brasileiro e religião na Central Flórida
Edição de janeiro/2019 – p. 17
Entenda relação do brasileiro com religião na Central Flórida
Qual a importância da religião na trajetória do emigrante? O que difere na vida do cidadão brasileiro quando recebe apoio da igreja de sua comunidade? Questões relevantes são abordadas na tese de doutorado de Kelly Thaysy Lopes Nascimento, formada em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba, após seis meses de pesquisas na Central Flórida. Um trabalho minucioso, com depoimentos de brasileiros em várias faixas etárias, relatando suas respectivas experiências religiosas no âmbito social, familiar e de trabalho. Os resultados são surpreendentes, segundo a pesquisadora, que dá significativo embasamento ao seu estudo intitulado, “A Experiência Religiosa de Imigrantes Brasileiros na Central Flórida”, que vai virar livro. “São histórias de superação, e quero que todos saibam como se processa a conexão do brasileiro com a religião na Central Flórida. As igrejas aqui são muito fortes, e desempenham um papel fundamental junto às famílias. A igreja fortifica o sonho e cria espaços que motivam a fé e impulsiona o brasileiro a seguir em frente”, relata Thaysy Lopes.
“Longe da família e dos amigos no Brasil, o emigrante constrói uma nova família na igreja. Um espaço de incentivo e que ajuda o brasileiro em todas as buscas da sua caminhada. Por exemplo, são espaços onde se consegue trabalho, novos amigos, superando os inconvenientes porque a pessoa fica fragilizada emocionalmente. Na igreja ela encontra a saída para questões importantes da sua vida. A igreja é um amparo, um apoio emocional, pois o brasileiro tem saudade de casa e quando está reunido com a sua comunidade – na igreja – se sente fortalecido, agradecido a Deus pelo conforto espiritual”, analisa a pesquisadora.
“Foram seis meses de pesquisa e não foi nada fácil, pois encontrei resistência por parte de alguns brasileiros, os mais arredios. A minha tese de doutorado mostra a realidade de quem vive fora de casa, e neste contexto verifiquei que há características que diferenciam o brasileiro que frequenta igreja, daqueles que não seguem uma doutrina religiosa”, aponta Thaysy. “Quem está fora da igreja é mais arredio, são pessoas desconfiadas, que questionam quando são abordadas. Isso fica evidente, ao passo que o brasileiro que vai à igreja é bem mais receptivo, seguro”, conta.
Quanto ao comportamento do brasileiro indocumentado, que aguarda na fila de espera a legalização, adianta Kelly Thaysy que está calcado na fé, o que lhe permite confiar em Deus o seu destino no país. “Mesmo sem documentos, as pessoas que estão na igreja exercem o poder da sua fé, e dizem que só Deus irá tirá-las dos Estados Unidos. E que só mesmo pela vontade de Deus elas vão voltar para o Brasil”, evidencia o estudo. “Há uma força descomunal que alenta esses brasileiros que se mantêm convictos no amparo religioso”.
Indagada sobre a posição e a reação dos jovens mediante ao seu estudo, disse Thaysy que, na faixa etária entre 20 a 25 anos, os entrevistados frequentadores da igreja demonstram positivismo e confiança quanto às metas no país. “O que pude perceber é que os jovens denotam confiança no que pretendem galgar nos Estados Unidos, embasados no apoio que recebem da igreja. São convictos e não medem esforços para atingir os seus objetivos. Esse é um dado muito positivo, pois se trata de uma geração que fortalece o propósito da comunidade brasileira que chegou a esse país com o intuito de vencer, de abrir novos caminhos”.
Mas a expectativa entre os brasileiros acima dos 40 anos – que vão à igreja –, indica a pesquisa, vislumbram consolidar metas com segurança, seja na área empresarial, do trabalho e familiar. “Um dado curioso é que pessoas que nem eram ligadas à igreja hoje frequentam a igreja, exercendo a sua fé junto da família. E os ganhos que esses brasileiros têm, a partir da religião, são benéficos, principalmente no contato com outras famílias. Para essas pessoas, como é sempre dito, a igreja é um incentivo para continuar, seja lá o que venha pela frente”, acrescenta a pesquisadora.
O tio, exemplo de desafio
A escolha do tema para defender a sua tese em junho de 2020, no Brasil, revela Thaysy, foi com intuito de dar visibilidade ao brasileiro que reside na Central Flórida, de explanar a sua realidade religiosa. A pesquisadora cita o seu tio, que reside em Orlando, “que é um exemplo de superação”. “O meu tio não é religioso, veio aos Estados Unidos para dar uma vida melhor à família no Brasil. Ele está aqui para trabalhar, e trabalha na construção civil. O meu tio é um exemplo de desafio, e percebo a vontade dele de estar com a família no Brasil, junto dos filhos e da esposa, mas sabe precisa ficar. Ele foi o início de tudo. E não tem sido fácil porque ele trabalha muito, está só nesse país, longe das pessoas que mais ama, mas é preciso seguir em frente, não esmorecer”, se emociona.
“E se no Brasil eu tinha uma suposta ideia do que é a vida do brasileiro na Central Flórida, hoje sou convicta de que a realidade é bem diferente. Aqui, vi a grandiosidade do emigrante que luta com vontade, transpondo barreiras. Tenho pleno entendimento da importância da igreja, do quanto ela é essencial na vida do brasileiro no seu dia a dia. Posso dizer que os brasileiros são heróis, fortes e determinados”, enaltece a comunidade.
Natural de João Pessoa, na Paraíba, explica Kelly Thaysy que paralela à sua pesquisa religiosa vem desenvolvendo um trabalho junto às mulheres brasileiras da Central Flórida, evidenciando o empreendedorismo e a participação ativa na comunidade. “Estou em contato com grupos de mulheres que se unem para trabalhos comunitários, de ajuda essencial, e de tantas atividades importantes. São mulheres empreendedoras, que recebem prêmios e que premiam os que se destacam na sua comunidade”, reforça sem detalhar o novo projeto.
A pesquisadora enalteceu o trabalho de apoio do Pastor Oséias Moreira e de sua esposa, Gabriela Moreira, do “Ministério Semeador de Boas Vindas”, durante o período de sua pesquisa na Central Flórida. “O Pastor Oséias disse que Deus olha por estas pessoas que têm fé e o amparo espiritual. Quero agradecê-lo pela ajuda primordial durante os seis meses de pesquisa. Também agradeço à sua esposa, Gabriela, que não mediu esforços para me ajudar”, enfoca.
Thaysy estende agradecimentos aos integrantes da Igreja First Baptist Orlando – Ministério Brasileiro, a equipe do Little Brasil, Igreja Católica da Ressurreição, ao Grupo de Mulheres, à Luciana Genro, e os demais apoiadores. “O meu trabalho de pesquisa teve o incentivo da Universidade Federal da Paraíba, que agradeço por ter possibilitado a realização deste estudo, que será tese do meu doutorado, e será qualificada em junho do próximo ano. Foram dias maravilhosos, mas também desafiadores. Aprendi muito com os emigrantes e sei qual o real preço de um sonho quando estamos determinados a vencer fora de casa. Os depoimentos são esclarecedores e levo para o Brasil informações preciosas, de como as coisas funcionam melhor quando estamos amparados na fé em Deus. Será a minha primeira defesa de tese que pretendo publicar em livro”, finaliza a pesquisadora – ela retorna ao Brasil no próximo dia 26 de janeiro.