Doce de Mãe – Entrevista com os autores e diretores Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo

Doce de Mãe – Entrevista com os autores e diretores Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo

Sócios na Casa de Cinema de Porto Alegre, os premiados diretores e roteiristas Jorge Furtado, de “O Homem que Copiava”, e Ana Luiza Azevedo, de “Antes que o Mundo Acabe”, escreveram ‘Doce de Mãe’ sabendo que a obra poderia se estender. A ideia era mesmo que o especial de fim de ano de 2012, exibido como telefilme, virasse o piloto de um seriado em torno das questões que envolvem a velhice. Agora, em coprodução com a Globo, eles abordam, a cada episódio e de forma bem-humorada, assuntos atuais que atingem não só o idoso, mas toda a sua família.

O seriado

Jorge Furtado (Foto: Marcos Pacheco)
Jorge Furtado (Foto: Marcos Pacheco)

Jorge Furtado: “‘Doce de Mãe’ é uma comédia lírica, com um pé na realidade e outro na fantasia. É um seriado bem humorado, mas com muita humanidade, valorizando as relações familiares. Picucha tem uma família grande, que, como qualquer outra, briga, discute, se desentende, mas que se gosta e, no fim, faz as pazes. A família é o núcleo por onde sempre recomeçamos, mesmo com todas as desavenças. O laço familiar é mais forte que tudo.”


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Ana Luiza Azevedo: “A Picucha se vê dentro de situações limitantes, mas sai delas sem dramatizar, ajudando até mesmo a resolver os problemas dos filhos. A família de Picucha é uma família muito atual. Os filhos se ligam o tempo todo para falar da mãe, para falar de suas vidas. Eles estão separados, vivem em casas diferentes, mas continuam muito unidos. Talvez até mais do que quando viviam juntos. Não é como a família dos anos 60, em que os parentes buscavam viver perto um do outro. Este é o retrato da atual família de classe média.”

A mensagem

Ana Luiza Azevedo: “O que fazer com nossos idosos? Essa é a grande questão da trama e creio que, por isso, tanta gente se identifique com a história dessa família. Não há a demagogia de que a terceira idade é a melhor. A própria Picucha reconhece isso. Ela sabe que a idade lhe impõe limitações, mas não se abala. A questão maior está na cabeça dos filhos que não sabem o que fazer com a mãe, onde abrigá-la.”

Jorge Furtado: “Os velhos nunca são tão velhos quanto os jovens pensam que eles são. É uma memória que tem que ser preservada. A velhice é um mérito. Quem chega bem aos 80 anos fez por merecer isso. A velhice não pode ser encarada como um castigo. Há uma certa ditadura da juventude; vende-se a ideia de que as coisas novas são as melhores, quando, na verdade, ter experiência é uma excelente qualidade. O seriado vai mostrar isso.”

A protagonista

Jorge: “A Picucha é quase o ‘não tente fazer isso em casa’. Digo quase porque ela sempre se envolve em confusão, mas acaba se saindo bem no final das contas. Ela sempre tem razão, mesmo fazendo tudo de forma atravessada. No fim, dá certo porque ela mesma encontra uma solução para o problema. É uma mistura de Mary Poppins com Mr. Magoo. Picucha é uma mulher que não se deu por vencida. Lá pelo episódio 13, ela compra um piano porque quer aprender a tocar o instrumento. Continua com esse olhar curioso sobre a vida, querendo aprender sempre, sem medo de falar sobre a morte.”

Ana Luiza Azevedo (Foto: Netun Lima/Divulgacao)
Ana Luiza Azevedo (Foto: Netun Lima/Divulgacao)

Ana Luiza: “Ela sabe que não tem muito tempo para ficar enrolando, por isso mesmo é a mais moderna e ousada da família. Picucha tem mais facilidade de entender os netos do que seus filhos. Tem cabeça aberta, é mais tolerante. É também uma cidadã ativa: vai lutar contra a poluição visual de uma forma muito moderna. Na geriatria, ela se dá conta de que está envelhecendo longe da família porque o velho precisa conviver com todos.”

A Grande Atriz

Jorge: “A obra foi escrita para a Fernanda Montenegro. Nosso projeto, desde o início, foi pensado para ela. Agora não poderia ser diferente. A Fernanda Montenegro continua como nossa querida Picucha, ela é um acontecimento. Tem um potencial impressionante para a comédia. E, para esta especificamente, que tem momentos fortes de emoção, ela é perfeita: vai do drama ao humor com muita facilidade e, principalmente, com muita verdade. Nunca nos deixa cair no óbvio. O melhor é perceber o quanto ela gosta e se sente à vontade com a personagem.”

Ana Luiza: “Estávamos finalizando o primeiro mês de gravação, em Porto Alegre, e recebemos a maravilhosa notícia de que a Fernanda havia ganhado o Emmy de Melhor Atriz pelo papel de Picucha. Foi uma emoção geral. Ficamos muito felizes. Já recebi alguns prêmios, mas não sei se senti uma felicidade tão grande como essa. Ela é uma atriz fantástica, recebeu por total merecimento dela, mas o fato de ter sido por uma personagem criada por nós tem um sabor especial. Foi a prova de que valia a pena continuar com a obra.”

A entrada de Drica Moraes

Jorge: “A grande novidade agora é a entrada da médica Rosa na trama. Essa busca pela verdade sobre a Rosa é uma história de folhetim, é o lado mais humanista de Picucha aparecendo. Ela não vai atrás da verdade por vingança, mas por senso de justiça. Ela quer compensar essa possível filha, nem que seja materialmente. A Rosa vai movimentar bastante a trama, vai se se interessar por Silvio e, com isso, preocupar Picucha.”

Ana Luiza: “Quando criamos a personagem e escrevemos a história da Rosa, pensamos de cara na Drica. Ela é uma atriz incrível, com quem já trabalhamos algumas vezes e queríamos voltar a gravar. A Drica passeia muito bem pela comédia e pelo drama. Foi um grande acerto.”

A música de Picucha

Jorge: “O programa tem muita música, especialmente por causa da protagonista. Fizemos uma seleção de músicas brasileiras de diversos gêneros como samba, axé, chorinho, mas agora há também outras variações, como o tango, que casam bem com determinadas cenas. A música costura todos os episódios. A Picucha está sempre de fones de ouvido, escutando um bom samba, dançando.”

Porto Alegre

Ana Luiza: “Agora, no seriado, está mais claro que a trama se passa em Porto Alegre (RS). Gravamos quase todas as externas lá em novembro e devemos voltar em fevereiro para finalizar as gravações. A escolha das locações mostra um pouco nossa relação com a cidade. Não mostramos obrigatoriamente o que é turístico, não tivemos essa preocupação porque não queremos que o olhar seja esse. Queremos que o telespectador conheça também lugares especiais da cidade, que falam muito da capital gaúcha e que são pouco conhecidos. Filmamos na primavera, quando os jacarandás da cidade estão floridos e isso é bacana de mostrar.”



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