Dismenorreia (Cólica menstrual)

Dismenorreia (Cólica menstrual)

Edição de junho/2018 – p. 36

Dismenorreia (Cólica menstrual)

Cólicas, irritação, mal-estar e sensação de desconforto no baixo ventre nos dias que antecedem a menstruação, não são poucas as mulheres a reclamar desses incômodos que entram em regressão já no primeiro dia de sangramento menstrual.

Mas, há aquelas que apresentam cólicas fortes acompanhadas de náuseas, enxaqueca, dificuldades respiratórias, fadiga, irritabilidade e depressão psicológica que se instalam dias antes e invadem o período menstrual: são as portadoras do distúrbio conhecido como dismenorreia, termo derivado do grego, que significa menstruação difícil.


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As dismenorreias são divididas em dois grupos: primárias ou essenciais e secundárias.

1 – Dismenorreia essencial ou primária

Constitui a maioria dos casos. São classificadas como primárias, quando os sintomas estão relacionados com o próprio útero durante os eventos que antecedem a menstruação. Nelas, não há interferência de outras enfermidades, ginecológicas ou não.

As dismenorreias primárias, caracteristicamente, ocorrem em mulheres que ovulam.

2 – Dismenorreia extrínseca ou secundária

Quando os sintomas surgem como consequência de um distúrbio ginecológico extrínseco. São exemplos de causas extrínsecas:

2.1 – Miomas que modificam a forma do útero de modo a interferir com as contrações ou exercer efeito compressivo sobre as estruturas vizinhas, provocando dores no baixo ventre que, geralmente, se irradiam para a raiz das coxas e para a região lombar;

2.2 – Endometriose: enfermidade causada por proliferação de células do endométrio (camada que reveste a parte interna do útero) na cavidade abdominal e em outras localizações anômalas ao redor do aparelho ginecológico que, em geral, se manifesta na fase reprodutiva com quadro de dores nos 5 a 7 dias que antecedem o período menstrual e à qual pode ser atribuída a dificuldade para engravidar;

2.3 – Doença inflamatória pélvica, causada por processos inflamatórios/infecciosos que podem acometer qualquer porção do aparelho ginecológico, causando dor no baixo ventre, corrimento vaginal, mal-estar geral e, eventualmente, febre;

2.4 – Tumores pélvicos que comprimem o útero;

2.5 – Malformações uterinas que interferem com o mecanismo de contração do órgão;

2.6 – Estenose cervical, processo em que ocorre oclusão parcial do canal situado no colo do útero, dificultando o escoamento do sangue menstrual e provocando dor em cólica.

Causas

Nas dismenorreias secundárias, a causa é extrínseca e passível de identificação por meio das técnicas de diagnóstico clássicas: toque vaginal, ultrassonografia, tomografia computadorizada, videolaparoscopia, etc.

Nas primárias, como não são encontradas doenças que justifiquem os sintomas, tradicionalmente as causas eram atribuídas a “fatores psicossomáticos”.

Embora seja impossível afastar interferências emocionais em qualquer quadro de dor, atualmente sabemos que as dismenorreias primárias estão associadas à produção anômala de prostaglandinas no interior do útero. As prostaglandinas são substâncias produzidas na membrana que reveste a parte interna do útero (endométrio), envolvidas no processo de contração das fibras musculares uterinas e oclusão dos vasos sanguíneos que irrigam o endométrio. Quando produzidas em quantidades inadequadas, podem provocar cólicas uterinas e contração dos vasos sanguíneos, prejudicando a oxigenação dos tecidos e acentuando a dor.

Sintomas

A cólica é o sintoma dominante. Costuma instalar-se na véspera ou algumas horas antes da menstruação e crescer de intensidade no dia que se segue. Pode estar localizada na parte inferior do abdômen ou ser difusa, semelhante à dos movimentos intestinais. Do baixo ventre, as cólicas se irradiam para a raiz das coxas e para a região lombar, de modo a confundir-se com as dores na coluna. Em cerca de metade dos casos, a dor vem acompanhada de outras queixas: cefaleia (que pode ser persistente e do tipo enxaqueca), náuseas, vômitos, diarreia, irritabilidade, depressão psicológica, fadiga, dificuldade de convívio social. Fatores emocionais podem intensificar o quadro.

Diagnóstico

O diagnóstico de dismenorreia primária é de exclusão, isto é, só pode ser feito quando causas extrínsecas foram afastadas. De modo geral, quando a mulher se queixa de que os sintomas surgiram na adolescência, quando começou a menstruar, é mais provável que se trate de dismenorreia primária. A instalação tardia do quadro sugere a presença de fatores secundários que exigem esclarecimento obtido por meio de exames complementares. Em caso de dúvida, o médico pode empregar o “teste da pílula” descrito pelo professor S. Piato: prescrever anticoncepcional oral nos mesmos esquemas empregados para contracepção. Como a pílula impede a ovulação e a dismenorreia primária praticamente só ocorre em mulheres que ovulam, as dores devem diminuir ou desaparecer. Caso contrário, a suspeita recai sobre a presença de fatores extrínsecos.

Tratamentos

1) Medidas gerais:

1.1 – Evitar vida sedentária: exercícios aeróbicos moderados que provocam liberação de endorfinas podem trazer sensação de bem estar, de autoconfiança, e aumentar a resistência à dor;

1.2 – Calor local: a aplicação de bolsa de água quente na região abdominal acometida pelas dores, medida adotada desde os tempos de nossas avós, é sempre indicada;

1.3 – Dieta: alimentos gordurosos que retardam o trânsito intestinal e alimentos que provocam fermentação devem ser evitados, especialmente nos períodos pré-menstruais. A dieta deve ser rica em frutas e em vegetais com fibras para assegurar trânsito intestinal adequado;

1.4 – Hidratação: a ingestão de quantidades insuficientes de água pode causar ressecamento do bolo fecal e obstipação, que contribui para agravar quadros de dismenorreia.

2) Tratamento cirúrgico

A cirurgia pode ser necessária nos casos de dismenorreia extrínseca (presença de grandes miomas, de tumores malignos ou de focos de endometriose) ou nas pacientes em que o tratamento conservador não foi eficaz para controle dos sintomas ou do sangramento uterino.

3) Tratamento medicamentoso

3.1 – Anticoncepcionais: como os hormônios contidos nos anticoncepcionais provocam atrofia do endométrio, local de produção de prostaglandinas, a pílula está indicada nos casos de dismenorreia primária em mulheres com vida sexual ativa que não desejam engravidar.

3.2 – Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs/coxibes): os AINEs/coxibes representaram uma revolução no tratamento das dismenorreias. Uma análise conjunta (metanálise) de diversos estudos publicados recentemente mostrou que o emprego de AINEs/coxibes provoca alívio dos sintomas em cerca de 90% das pacientes tratadas. O uso de AINES nos casos de dismenorreia tem ainda uma vantagem para algumas mulheres, porque diminuem o fluxo de sangramento durante a menstruação.

O uso de anti-inflamatórios não deve ser indiscriminado: é necessário acompanhamento médico.

Fonte: drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/dismenorreia-colica-menstrual



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