O índice de brasileiros tentando entrar nos EUA pelo deserto do México com a ajuda de “coiotes” é alarmante. Os resultados são catastróficos – Jessiane Schneider, de 24 anos, foi sequestrada e violentada na fronteira; a enfermeira Lenilda Oliveira dos Santos, de 49 anos, foi encontrada morta no deserto
Walther Alvarenga
E mais uma vez, o brasileiro é o centro da tragédia, na tentativa de atravessar ilegalmente a fronteira entre México e os EUA – orientado por “coiotes”. A meta, evidente, é chegar ao país de Joe Biden, e não importa o preço que se pague por isso – pode custar à própria vida. Desta vez, a vítima é Jessiane Schneider, de 24 anos, que foi sequestrada e violentada na fronteira, e não fosse à solidariedade de um fazendeiro, que a encontrou em estado crítico, estaria na estatística de mortos na fronteira.
Jessiane viveu momentos de desespero, sob a mira de homens inescrupulosos – sem compromisso algum com a ética. Ela sofreu abusos, fisicamente e mentalmente, à mercê de “coiotes”, diria, de bandidos do deserto, que roubam, sequestram e matam se lhes for conveniente. E quando achada, estava amordaçada e com tiras em volta do pescoço, na mais humilhante situação para uma jovem de sua idade.
Qual o parâmetro dessa questão tão degradante, que empurra pessoas inocentes para o precipício? A cada semana, chegam informações de brasileiros que negociam a travessia pelo deserto para entrar nos EUA. Uma barganha inescrupulosa – a custa de dólares que muitos não dispõem de momento. O trato é feito ainda assim, para acertar depois. Mas não há garantia alguma de que essas pessoas cheguem ao seu destino.
Vale lembrar o caso mais recente – antecedendo a tragédia de Jessiane Schneider –, da também brasileira, a enfermeira Lenilda Oliveira dos Santos, de 49 anos, da cidade Vale do Paraíso, em Rondônia, que morreu de sede e de fome no deserto do México. Ela foi abandonada pelos coiotes e seu corpo encontrado pela polícia americana de imigração.
Afinal, por que tantos brasileiros – famílias –, deixam o país para seguir para os EUA de forma clandestina? Seriam os próprios brasileiros, imprudentes, responsáveis por essa calamidade frequente, que selam os seus respectivos destinos? Há os conseguem driblar o caos e entrar pelas portas dos fundos em terras americanas. No entanto, um número expressivo desses brasileiros fica no meio do caminho.
Qual o motivo para se expor ao risco? Fala-se da falta de segurança do Brasil. Das desastrosas condições políticas do país que colocam a população na condição de imprevisibilidade. Alta do dólar também é um fator preponderante. Enfim, motivos que não justificam colocar o pescoço na guilhotina.
É fato que Jessiane Schneider está hospitalizada em Ciudad Juarez , no México, desde 5 de dezembro. Também é fato que, mesmo com os alertas sobre os perigos da travessia do deserto, das consequências irreparáveis, famílias continuam se aventurando, se arriscando para entrar nos EUA. Um desejo desenfreado que se soma às estatísticas de mortos e desaparecidos na fronteira.
Não há como apontar um culpado se o direito de escolha prevalece, mesmo que aponte para o caminho errado. A travessia pelo deserto do México, para entrar nos EUA, é uma prática que perdura, e vidas foram ceifadas ao longo dessa trajetória que aniquila sonhos e separa famílias. Sim, trata-se de um erro e isso tem que parar! O Brasil não pode – e não deve – permitir que seus cidadãos continuem correndo, se escondendo, para chegar a lugar nenhum!
Nota do Itamaraty
O Itamaraty disse em comunicado ter conhecimento do caso de Jessiane Schneider, e que “vem prestando assistência à nacional e à sua família, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.” O MRE (Ministério das Relações Exteriores) também informou que “em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.”