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Chamamento ao amor
DEZ/14 – pág. 60
“(…) E à ciência temperança, e à temperança paciência e à paciência piedade” – Pedro (II Pedro, 1:6)
Vejamos inicialmente o significado das palavras citadas: “ciência” é conhecimento; “temperança” significa sobriedade, parcimônia; qualidade ou virtude de quem é moderado; “paciência” é a qualidade de quem suporta males ou incômodos, sem se queixar. E “piedade” é o sentimento despertado pelos sofrimentos alheios e que nos leva a mitigá-los ou a desejar remediá-los.
Temos então, que é importante a busca da ciência, aprender sempre, instruir-nos, abrilhantar o pensamento, aprender a nos expressar, saber analisar situações, buscar a verdade. Não podemos prescindir de usar as faculdades com as quais o Pai nos dotou, como: razão, inteligência, livre-arbítrio. É desenvolvendo essas faculdades e amadurecendo o senso moral que evoluímos.
Entretanto, como lembra Emmanuel (lição 121 de “Palavras de Vida Eterna”), não ficarmos só na cultura em sentido único. Para a evolução espiritual são necessárias as duas asas: sabedoria e amor; inteligência e sentimento; teoria e prática. Necessário juntar ao saber a piedade, o amor. Juntar ao conhecimento a sobriedade, moderar apetites e paixões. Saber suportar as dificuldades sem se queixar, procurando remediar, os sofrimentos do próximo. Hoje diríamos: não basta conhecer, é preciso fazer. Não só desenvolver a inteligência, mas praticar a caridade, amor em ação em favor do próximo.
Conhecer, não há dúvida, é de capital importância. Alguém já disse que todos os males vêm da ignorância. Mas o conhecimento sem o amor é incompleto; diríamos ser um saber pela metade. Aquele que só cultiva a inteligência desconhece talvez a parte mais importante da verdadeira sabedoria. A própria diplomacia, como lembra Emmanuel (lição citada), “sempre venerável, embora resida nos cimos da suavidade e da tolerância, pelos gestos de sobriedade e cortesia com que se manifesta, em muitos casos não é senão a arte de contemporizar com o rancor existente entre as nações, segurando o estopim do ódio e da belicosidade para a respectiva explosão, na época que julga oportuna a calamitosas conflagrações”.
E assim como ocorre entre nações, há também a diplomacia das pessoas. Aqueles que são de trato agradável, gentis, porém por conveniência. Apenas para obter melhores resultados em suas relações. Seja com interesse comercial, ou interesses outros, às vezes, se faz uso da gentileza, da “diplomacia” para se conseguir melhores resultados. Nesses casos não há piedade, nem amor. O que há é interesse; não se respeita o outro, mas se usa o outro para obter vantagens.
No setor do conhecimento, da ciência, temos realizado grande progresso, mas, no que tange ao amor, à fraternidade, à solidariedade, não temos logrado o mesmo resultado. Não temos dado à asa do amor a mesma atenção que damos à do conhecimento. E aquela é tão importante quanto esta, pois só com uma asa não se realiza o voo para o mais alto.
Para agir corretamente é preciso saber; quando sabemos, com firmeza, o caminho; quando temos convicção, temos mais forças para buscar o objetivo desejado. Porém não devemos ficar só na teoria, buscando sempre saber mais, sem experimentar, sem praticar o que se aprendeu. Por comodismo, por egoísmo, temos permanecido mais na teoria. Ensinamos para os outros, o que julgamos bom, mas pouco praticamos.
Esquecemo-nos de que o melhor fator de convencimento é o exemplo. Se sabemos o caminho é imprescindível nos dispormos a realizar o trajeto, mesmo porque, há detalhes da estrada, que só vão clareando quando nos aproximamos deles, à medida que avançamos. Em Doutrina Espírita que revive e restaura o Cristianismo, a ação é fundamental. Ouvimos um expositor tratar do assunto, citando como exemplo, um banho de rio. Se não sabemos o que seja um banho de rio, podemos obter informações, fazer pesquisas, sobre os mais variados aspectos do que seja um banho de rio. Mas não temos a experiência; na verdade não sabemos exatamente o que seja tal banho. Quando entramos no rio, tomamos ali o banho, aí sim, sabemos por experiência própria o que seja um banho de rio. Assim a experiência religiosa, a vivência do amor. Só sabe verdadeiramente o que ela seja, aquele que a vivencia. O referido expositor foi mais além, afirmando: Às vezes uma parada cardíaca, a morte iminente, vale mais para o reposicionamento da pessoa, para mudar o modo de proceder, do que dezenas de anos de estudos, teoria sem prática. Necessário sair do discurso, da simples teoria, e partir para a aplicação, para a experiência. Aí é que se constata se, realmente, o ideal funciona.
José Argemiro da Silveira
Autor do livro: Luzes do
Evangelho, Edições USE