Cerca de 4,2 milhões de brasileiros buscam EUA e Portugal como rota de fuga

A debandada de brasileiros para os EUA e Portugal é reflexo da alta da inflação e alta do dólar

Com a alta do dólar e o aumento da inflação no Brasil, cresce a busca de brasileiros para viver nos EUA e Portugal. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, houve alta de 16% no total de brasileiros no exterior entre 2018 e o ano passado: de 3,6 milhões para 4,2 milhões

Da Redação

A busca de brasileiros para viver no exterior cresceu consideravelmente, principalmente em países como os EUA e Portugal. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, houve alta de 16% no total de brasileiros no exterior entre 2018 e o ano passado: de 3,6 milhões para 4,2 milhões. Em uma década, o número aumentou 36%. Especialistas dizem ser difícil comparar o movimento dos últimos anos com períodos anteriores, mas veem aumento fora da curva.


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“Esse movimento nos últimos anos é inédito e, de fato, representa a maior diáspora da história brasileira para os nossos padrões, um país que, historicamente, sempre recebeu imigrantes”, avalia Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

E se analisar apenas as solicitações de visto para estudos ou abertura de processos de dupla cidadania, o salto é ainda maior: de 299,5 mil no 2º semestre do ano passado para 693 mil no mesmo período deste ano. Para Giselle Oliveira de Barros, presidente do CNB, os dados expõem essa saída de mão de obra mais qualificada.

Já a consultora especializada em imigração, a advogada Isabel Nardon diz que a reabertura de fronteiras causada pelo avanço da vacinação – agora abalada com a variante ômicron, mais contagiosa –, elevou a procura para Portugal. Segundo ela, o perfil dos que miram a residência lusa é de pessoas com poder aquisitivo: investidores e aposentados que têm como comprovar renda no Brasil, mas temem pelo futuro aqui.

A debandada aparece também no movimento de remessas financeiras. Só na corretora de câmbio “B&T”, que tem mais de 200 pontos e atua em mais de 180 países, dados apontam aumento da movimentação no exterior. E segundo registros da “B&T” até outubro, o volume de operações de transferências de moeda de Portugal para o Brasil, por exemplo, mais do que quadruplicou em 2021 ante o ano anterior.

O médico Carlos Eduardo Siqueira, professor da Universidade de Massachusetts, de Boston, diz que há migração significativa, mas acredita que os dados do Itamaraty são superestimados. Nos EUA, pelos dados oficiais, há 1,7 milhão de brasileiros — 360 mil estão em Boston, atrás de Nova York (450 mil) e Miami (410 mil).

Siqueira, porém, estima que a comunidade brasileira em Boston não supere 100 mil. “A imigração brasileira para os EUA é contínua, mas não é constante.” Para ele, o Brasil viveu fase similar de desalento e migrações na gestão Fernando Collor (1990-1992).

Dados equivocados

Já para Guilherme Otero, do programa da “Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas”, os dados do Itamaraty podem estar subestimados. Ele diz que muita gente sai de forma irregular. Ou vai para o exterior para ficar seis meses regulares, como no caso dos EUA, mas não retorna. Além disso, destaca, há brasileiros com dupla cidadania que, quando migram, preferem o direito de usar o passaporte da outra nacionalidade.

 Para Pedro Brites, da FGV, o dinheiro escasso está por trás do êxodo. “A questão econômica é o fator propulsor para qualquer tomada de decisão desse tipo, e o Brasil não atravessa um período exitoso há alguns anos. Isso efetivamente tira a perspectiva de oportunidades para boa parte da população.”

O que se atesta, na verdade, é que com a alta do dólar a busca de brasileiros pelos EUA cresceu supreendentemente. E com a reabertura das fronteiras, a debandada até meados de abril de 2022 será recorde. Nas agências de viagens a procura por passagens triplicou nas últimas semanas, com passageiros que tendem a permanecer nos EUA após a viagem de férias.



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