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A bebida do Brasil
Conversa de bebidas e drinks com estrangeiros normalmente rendem um comentário e/ou pergunta sobre “a bebida do Brasil” – e automaticamente sabemos que estão falando da icônica cachaça. E se você pensa que cachaça é água, você está correto: toda cachaça é aguardente. Mas nem toda aguardente é cachaça… Intrigado? Aprenda mais sobre essa bebida tipicamente brasileira na coluna de Vinhos e Gastronomia deste mês, bem em clima de Copa do Mundo
Edição de junho/2018 – p. 42
Pinga, caninha, marvada, amansa-corno, mé, katia, trago, suor-de-alambique, purinha, canjebrina, danada, branquinha, goró, birita… os apelidos são muitos, e variam de acordo com a região brasileira onde ela é produzida (ou consumida), mas o fato é que esse destilado há anos saiu dos limites geográficos do Brasil e se tornou um nome conhecido em bares e restaurantes celebrados em todo o mundo. A caipirinha é certamente o maior vetor dessa conquista global, mas a cachaça por si só é um destilado que pode apresentar tantas nuances quanto seus “primos” famosos.
Comecemos então por aí: qual a diferença entre a cachaça e os demais destilados feitos de cana-de-açúcar, como rum ou aguardente? A cachaça é feita do suco fermentado da cana-de-açúcar, mais popularmente conhecido como garapa. O rum por sua vez é feito desse suco fermentado e “cozido”, ou seja, o molasses. Existe também uma versão híbrida no Caribe chamada “Rhum Agricole” que é feita a partir da destilação do suco “fresco” da cana. Por fim, a aguardente é qualquer bebida alcoólica cujo teor de álcool esteja entre 29% e 60%. Por isso cachaças, que normalmente registram 38% a 48%, são aguardentes. Mas nesse grupo também podemos incluir desde as aguardentes latinas até algumas grappas italianas.
No Brasil, a cachaça passou a ser produzida praticamente desde a introdução portuguesa da cana-de-açúcar no país. Estados costeiros tendem a ter o maior número de alambiques, porém em sua maioria, micro-produtores. As grandes exceções são Ceará e Pernambuco, sede das renomadas Ypióca e Pitú, respectivamente. O maior estado produtor é São Paulo, de onde vem a famosa Pirassununga 51, e também Velho Barreiro. Essas são indubitavelmente as marcas mais conhecidas (e encontradas) dentro e fora do Brasil, com grandes índices de exportação registrados para os Estados Unidos, Alemanha, Paraguai, França e Portugal.
Porém é no Brasil que encontramos as maiores variedades e opções mais exclusivas da bebida. O estado de Minas Gerais merece ênfase, afinal é lá que são produzidas muitas das cachaças mais condecoradas da atualidade. Vale também lembrar a relevância de alguns pequenos produtores do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo, que recorrentemente têm seus produtos em destaque por todo o país.
Assim como no caso de muitas vinícolas, alambiques menores tendem a gerar um produto superior, pois maior atenção é dada à qualidade dos ingredientes e ao processo de fermentação, e maturação (no caso das cachaças ouro). Aliás, vale aqui a distinção entre as cachaças branca e amarela/ouro: a branca não é envelhecida, enquanto a ouro fica até 12 meses em barricas. As versões premium e ultra-premium requerem um armazenamento entre 3 a 15 anos. As madeiras utilizadas para o envelhecimento normalmente variam de acordo com a região onde são produzidas, sendo comum a utilização de ipê, jequitibá e carvalho. Cachaças não envelhecidas comumente tem notas mais frescas e herbáceas, enquanto as envelhecidas apresentam nuances similares às encontradas em uísques, como laranja, canela e caramelo.
Apesar de não haver uma regra determinante, as cachaças brancas são mais comumente utilizadas para drinks e batidas. Nos Estados Unidos, além dos famosos rótulos citados anteriormente, é comum encontrarmos cachaça Leblon e Sagatiba em bares, restaurantes e lojas especializadas como as principais opções de cachaças brancas. Misturadas com sabores tropicais e cítricos, elas são fórmula certeiras para refrescar churrascos e festas no calor do verão, sendo ótimas substitutas ao rum em mojitos. Já old fashioneds e manhattans podem ser elevados no inverno, se substituirmos o uísque por uma cachaça ouro.
E a caipirinha? Nem ousaremos falar dela aqui… Estamos seguros que vocês são especialistas no drink e não precisam de sommeliers dando orientações ou receitas, mas agradecemos e aceitamos dicas personalizadas – prometemos testar/tomar todas! Cheers!