Rubens Barrichello participa da “Florida Cup Indoor Kart”

Rubens Barrichello participa da “Florida Cup Indoor Kart”

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JAN/2017 – pág. 35 e 36

O piloto esteve no “I-Drive NASCAR Indoor Kart Racing”, em Orlando, e proferiu palestra abordando a carreira e os desafios do automobilismo no Brasil. O ídolo Ayrton Senna, e o acidente na “Fórmula 1” que o levou à morte por seis minutos

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Com a participação de convidados, representantes dos times que disputam a “Florida Cup” e mascotes, aconteceu no último dia 11 de janeiro, em Orlando, a “Florida Cup Indoor Kart Challenge – 2017”, nas pistas do “I-Drive NASCAR Indoor Kart Racing”, mobilizando um bom público. Posteriormente foi oferecido um almoço aos participantes, ocasião em que aconteceu a palestra do piloto Rubens Barrichello que falou sobre o início da carreira, das dificuldades e dos desafios que o tornaram um dos grandes corredores de “Fórmula 1”. Carismático e verdadeiro, Barrichello emocionou a todos ao lembrar Ayrton Senna, do apoio dos pais e do momento que decidiu realizar o voo solo. Ele fala de Felipe Massa e promete levantar o automobilismo no Brasil através da ABPA (Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo), da qual faz parte. “O que falta no Brasil é apoio por parte da Confederação Brasileira de Automobilismo e das Federações um pouco menos de vaidade. Cada um deve fazer a sua parte e estou fazendo a minha”, alfineta o piloto.


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“A minha história com a velocidade começou muito cedo, aos seis anos de idade, quando o meu avô ligou para o meu pai e disse que tinha um presente para mim que era um passarinho. Aí fiquei pensando em como seria libertar o passarinho porque ele teria de ficar preso na gaiola. E quando cheguei à casa do meu avô, que morava em Interlagos, toda família residia em Interlagos, para a minha surpresa era um kart. Lembro que fomos até o kartódromo e estava fechado, então andei no estacionamento. Foi amor à primeira vista”, lembra Rubinho emocionado.

“O meu pai percebeu que os meus olhos brilharam quando guiei um kart pela primeira vez. Então ele propôs me ajudar. Ele recomendou que eu dormisse e estudasse, o restante ele faria por mim. O meu pai é dono de uma casa de materiais de construção em Interlagos. E a minha história com o kart foi essa, sempre tive vontade de ir à frente e realizar um sonho”, relata o piloto. “E eu andei de kart de 82 a 88, participando de campeonatos, corri junto com o Chistian Fittipaldi e foi muito bom pela projeção que tive na imprensa. Aos dezesseis anos o meu pai disse que era hora de mudar e sugeriu que eu participasse da ´Fórmula Ford´ porque poderia dirigir um Ford com dezesseis anos”.

“E o melhor da história da minha vida foi quando compramos um Ford, mais barato, porque o meu pai não tinha dinheiro. O carro tinha levado duas ´porradas´, o que chamamos de ´correu o espigão´, é quando o caminhão anda na estrada pendendo de um lado, com as rodas tortas e dianteira caída, assim era o meu Ford (sorri com saudosismo). E foi um sacrifício porque a primeira vez que tentei andar nele, fiquei das oito da manhã até as seis da tarde tentando fazer o carro funcionar, e ele não pegou. E foi aí que descobrimos que o cabo da bateria estava trocado. Foi um dia que ficou marcado”, ressalta Rubinho.

“E no final do campeonato, em 88, a Ford sugeriu ao meu pai em alugar o nosso carro para disputar as finais, propondo ainda uma pintura no veículo para as competições do ano seguinte. E como não tínhamos aonde cair morto, aceitamos, claro. Uma pintura no carro, mais o dinheiro do aluguel estava ótimo para nós. E quando o veículo estava voltando para São Paulo, depois das competições, ele caiu do caminhão e deu perda total, com isso, ganhei um carro zero (risos). E quando falo que essa foi a melhor história da minha vida porque trabalhar com esporte exige raça, muita luta para realizar os nossos sonhos. E as coisas surpreendentes podem acontecer, sem dúvida, porque eu ganhei a primeira prova da ´Fórmula Ford´ com aquele carro”, fala com entusiasmo.

“Quando ganhei a minha primeira prova na ´Fórmula Um´, no ano de dois mil, eu chorei no pódio me lembrando dessa história, do Ford. Talvez, se não tivesse acontecido o que aconteceu, eu não teria chegado na ´Fórmula Um´. Algo que me abriu as portas para o mundo”, Rubinho Barrichello fica visivelmente emocionado.

“É muito bom esta aqui hoje, reunido com todos vocês. Muito legal essa nossa aliança de estar trazendo um pouco de esporte, um pouco de velocidade. E todos vocês que lutaram para chegar onde estão, e o empenho para trazer todos esses times maravilhosos que hoje estão aqui – se referindo aos jogadores que disputam o “Flórida Cup” -, é uma luta. A gente acha que a vida é difícil, mas se formos analisar todas as outras situações, entendemos que têm dificuldades”, enfoca.

“…estava dentro do meu carro, vejo Ayrton Senna saindo do boxe”

Indagado sobre Ayrton Senna, o que ele significou, e se foi o melhor piloto da história, Rubinho Barrichello foi enfático na sua colocação: “como brasileiro o Ayrton Senna foi um grande piloto, mas para mim, enquanto piloto, diria que foi o maior piloto da história, sem dúvida alguma. E a minha história com ele foi quando eu cheguei à África do Sul, em 1993, e o Senna estava nessa competição. Na condição de fã, não sabia onde me situar. E o melhor momento foi quando eu estava dentro do meu carro, esperando a hora da largada para a classificação, eu olho na tevê e vejo o Ayrton Senna saindo do boxe dele. Levaria entre dois a três segundos para ele passar na minha frente e eu não sabia se continuava vendo na televisão ou se olhava ao vivo”, ressalta Barrichello. “Ele é o maior ídolo das pistas, e tentei me beliscar naquele momento para ter a certeza de que estava vendo o meu ídolo, um grande amigo”.

Quanto saída de pilotos brasileiros de “Fórmula 1” do Brasil, buscando alternativas em outros países, Rubinho Barrichello entende como um procedimento natural. “Fundamentalmente vamos ter a saída de pilotos do Brasil porque a ´Fórmula Um´ é fora. Nós não temos a ´Fórmula 1´ no Brasil e, no final vamos ter de exportar os nossos pilotos. O que falta no Brasil é apoio por parte da Confederação Brasileira de Automobilismo, e das Federações um pouco menos de vaidade, porque é um querendo derrubar o outro. Hoje eu faço parte da ABPA (Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo), que é para levantar o esporte. Por que isso? Quando o meu filho começou a correr no kart há cinco anos, vi em Brasília que o mesmo guard rail que eu corri em 1989 estava lá colocado. Se eu batesse ali, naquela pista, pegaria um tétano (risos). Foi então decidi ajudar a erguer o esporte. E estou falando de Brasília sem a intenção de denegrir a imagem da cidade, mas para mostrar que o automobilismo há muito tempo está abandonado”, alfineta o piloto.

“Cada um deve fazer a sua parte e estou fazendo a minha. E a minha parte é tentar melhorar o automobilismo não só para os meus filhos, para que esse guard rail possa ser trocado para que a gente possa ter segurança. Nós precisamos de categorias no Brasil. Hoje a maior categoria que temos lá é o stock car. Têm crianças que não têm condições de chegar à ´Fórmula Um´ e estão sonhando com a stock car, mas esse talento poderia ser aproveitado também na ´Fórmula 1”, alerta Rubinho.

Consultado se acompanha os jogos de futebol, e se torce por algum time específico, o piloto arrancou aplausos ao confessar que é torcedor incondicional do Corinthians. “Eu posto muita pouca coisa no Instagram porque futebol e religião são polêmicos e quando você fala nas redes sociais, que torce para este ou para aquele time, é massacrado. Isso eu não acho legal. O meu avô era corintiano e passou isso para os filhos e para os netos. Eu tenho uma paixão ainda maior de quando o meu pai me levou ao estádio pela primeira vez para assistir ao jogo do Corinthians. O meu pequeno (filho caçula), o Fernando, é viciado em futebol, mas ele guia melhor do que joga, e já o avisei disso (risos). O futebol é uma paixão nacional, coisa de brasileiro”.

Falando do apoio de sua mãe no automobilismo, Rubinho Barrichello relata que sempre recebeu incentivo. “Sou da época em que o cronômetro era na mão e a minha mãe desenvolveu um método interessante: todos os pilotos que passavam na pista ela ia anotando. Anotava o tempo de cada um, ao lado dos respectivos nomes, e, no final, fazia a subtração e obtinha o tempo de cada piloto na pista. Foi muito especial à contribuição dela. Hoje, quando terminam os treinos a assessoria apresenta os dados necessários para o piloto”, comenta.

“Sempre tive o apoio dos meus pais, mas chega um momento que o pássaro precisar voar sozinho. E foi o que eu fiz quando fui para o Brasil correr em Interlagos. Eu tinha vinte e dois anos e uma cobrança muito grande em defender o Brasil, enfim, naquele momento eu sofri muito. E o meu pai tentou me acalmar, pedindo para que eu desse tempo ao tempo porque ainda não tinha o equipamento necessário. Foi quando falei ao meu pai que eu queria ir sozinho para a prova do Canadá, sem a família. E eu cheguei ao pódio nessa corrida do Canadá. A partir daí eles nunca mais quiseram me acompanharam (risos). Vão de vez em quando, mas sabem que o passarinho precisa voar mesmo”, diz o piloto.

“Os pais são apegados aos filhos, não tem jeito. Eu voltei a correr de kart porque a primeira vez que vi os meus filhos na pista de kart eu chorei de emoção. Era um pedacinho de mim que estava na pista, fazendo exatamente o que eu gosto de fazer”, enfatiza.

Comentando sobre Felipe Massa, que se despediu da “Fórmula 1”, deixando o Brasil sem grandes pilotos para as competições, Rubinho Barrichello aposta na volta do brasileiro às pistas. “Eu espero que o Felipe realmente volte porque foi uma notícia que pegou a todos nós de surpresa. Torço para que ele esteja esse ano nas competições para que o Brasil esteja representado no mundial. Mas vamos unir forças e com a ajuda da ABPA e da Confederação de Automobilismo vamos incentivar novos pilotos. Kartistas bons não faltam no Brasil. Entre cem pilotos, vinte têm chances de chegar à ´Fórmula Um´, sem dúvida. Em três anos vamos ter muitos talentos na ´Fórmula Um”, aposta o piloto.

“Fiz 326 corridas e cada uma delas representa algo especial na minha vida”

Perguntado sobre a sua carreira duradoura na “Fórmula 1”, obtendo destaque no mundial, disse Barrichello que, “em primeiro lugar é o amor pelo que se faz. Hoje em dia você vê tantas brigas, o cara está mal humorado porque trabalha com quem ele não gosta. E ele faz porque está ganhando um bom dinheiro. Isso é um grande erro. O mundo diz que você precisa ir atrás do dinheiro para ter a felicidade. Eu venho de uma família aonde o meu pai chegou certa vez para mim e disse que eu não poderia correr naquele ano por falta de dinheiro. Ele não tinha de onde tirar o dinheiro”, conta. “E o meu pai vendeu o carro para que eu pudesse participar do ´Campeonato Brasileiro´, quando ganhei o campeonato. É diferente quando você tem essas dificuldades porque você busca lá de dentro. E quando você está derrubado você se lembra do quanto foi difícil chegar lá e do quanto às pessoas gostariam de estar lá. É isso que te faz permanecer. Fiz 326 corridas e cada uma delas representa algo muito especial na minha vida, uma paixão”, confessa.

Quanto à segurança dos pilotos na “Fórmula 1” e se a tecnologia tem sido um fator fundamental para evitar acidentes mais graves, lembra Rubinho Barrichello do acidente que sofreu em 1994. “A segurança hoje mudou muito. Mas a pancada que eu dei em 94, muitos devem se lembrar disso, foi irresponsabilidade de minha parte. Eu entrei numa curva com irresponsabilidade, estava com pneu novo, e sabia que a curva poderia ser feita com cautela. A batida foi tão forte que eu engoli a língua e, segundo o médico, eu morri por seis minutos. Hoje em dia a batida não teria tido tanto impacto porque a tecnologia mudou muito e protege o piloto. Mas com a nova tecnologia ficou muito mais rápido, e com a introdução de pneus mais largos isso complica”, informa.

Se referindo ao layout do “I-Drive Nascar Indoor Kart Racing”, em Orlando, onde acorreu a “Florida Cup Indoor Kart Challenge – 2017”, Rubens Barrichello elogiou o espaço disponibilizado: “é sensacional. O espaço é utilizado de uma forma muito boa. O Alejandro Pezzini – executivo do AMP Grupo – falou inclusive em mudar o que for necessário, mas não vejo essa necessidade. O ´I-Drive Nascar Indoor Kart Racing´ é muito técnico e você tem curvas em sequência, não tem uma curva sozinha, e se você errar na primeira curva vai errar até o final da volta, e eu gosto muito disso”, enfatiza Rubinho.


WaltherAlvarenga

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