O Brasil não deve ficar no banco de reservas

Por Walther Alvarenga

brasilAs atenções do mundo se voltam para o Brasil, com o início da 38ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro – cidade escolhida pelo Vaticano – reunindo jovens atletas, de várias partes do planeta, que se enfrentam a partir do dia 23 de junho – estendendo-se até dia 28 do mesmo mês. O Brasil já “arregaça as mangas”, pois tem exaustivo trabalho pela frente, principalmente na questão segurança, afinal, é chegada a hora de mostrarmos competência, caso contrário, o prestígio brasileiro ficará relegado a críticas depreciativas, comprometendo a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O país está no “olho do furacão” e não podemos falhar diante da impassividade das nações convidadas.

Já dizia o filósofo Zenão de Elea: “É necessário arrumarmos a casa para então recebermos os nossos convidados”. E pelo andar da carruagem, o Brasil está descompassado em vários seguimentos de massa, como, por exemplo, nos aeroportos que incidem em falhas técnicas e humanas. No Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos – SP, os passageiros reclamam das constantes falhas nas esteiras de bagagens e da falta de seguranças no saguão de embarque, pois roubos de laptops e de mochilas ocorrem com frequência. Basta o desavisado parar no balcão para tomar um cafezinho que o prejuízo, infelizmente, acaba sendo consumado.


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Outro episódio lamentável ocorreu na chegada de turistas estrangeiros a São Paulo, que perderam voos de conexão em virtude da ineficiência de funcionários de companhias aéreas brasileiras, que não falam o inglês. Quem chegava não sabia perguntar. Quem recebia desconhecia o idioma dos visitantes. Foi um caos. E, novamente, o questionamento: estamos mesmo preparados para tamanha responsabilidade?

Os aeroportos que representam a porta de entrada e saída para o mundo carecem de melhorias nas salas de imigração, pois os espaços são pequenos em relação ao montante de turistas estrangeiros que desembarcam. Não há passarelas eletrônicas e o fluxo de visitantes fica comprometido. Investiram-se bilhões na construção de estádios e as melhorias e adequações aeroportuárias ficaram relegadas ao segundo plano.

O Brasil caminha a passos largos para a expansão e a mundialização, mas necessita preparar – investir – pessoas e equipar-se o necessário para corresponder-se como anfitrião de mega evento. O brasileiro ocupa o topo do ranking em simpatia e hospitalidade, entretanto, peca em situações básicas, que arriscam a reputação do país. Exemplo? É o mesmo que ir à casa do vizinho e ele pedir desculpas porque faltou guardanapo no jantar. Meramente compreensível, mas os lábios ficam gordurosos e as mãos ressentidas.
O que ocorre, na altura dos acontecimentos, é que não dá mais para recuar. O Brasil precisa seguir em frente, aconteça o que tiver de acontecer. Temos de aparar arestas e mostrar desempenho, afinal, os convidados estão chegando para a festa, portanto, comida, bebida e acomodação não poderão faltar, ou seja, eficácia nos mecanismos de segurança.

Copa de 2014

Estádio Arena das Dunas, em Natal/RN. Ao fim de fevereiro de 2013, a Arena das Dunas, em Natal, estava 57% concluída.
Estádio Arena das Dunas, em Natal/RN. Ao fim de fevereiro de 2013, a Arena das Dunas, em Natal, estava 57% concluída.

Em meio a tentativas de acertos para os próximos mega eventos, o Brasil acelera o passo e tenta impressionar com a construção de estádios que chegam a custar 1,6 bilhão – preço do estádio construído em Brasília. Tudo erguido a peso de ouro, incluindo a reforma do Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, orçada em 1,4 bilhão. Altos investimentos para um país que não vive apenas de futebol. Temos outros compromissos importantes com a Saúde e a Educação. Em alguns estados, o povo tem fome e não podemos viver apenas de Copa e de Estádios. Obras faraônicas geram empregos e são sugestionáveis aos olhos da população, no entanto, um meio prático para desviar verbas públicas. Tudo perfeitamente justificável, mas subfaturado.

E não para por aí: o governo do Rio de Janeiro já anunciou que as obras para a despoluição da Baia da Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas e das lagoas da Barra da Tijuca, onde ocorrerão provas esportivas, nas Olimpíadas de 2016, vão custar R$ 2 bilhões aos cofres públicos. O objetivo da obra, segundo adiantou o presidente da Companhia Estadual de Águas e Esgotos, Wagner Victor, é garantir qualidade ambiental para os atletas e os moradores locais.

Nunca se falou antes em gastos tão exorbitantes. Há quem diga que esta é mesmo a Copa dos bilhões, pois a quantia que o país vem desembolsando, nos últimos meses, é algo para causar inveja nos países vizinhos. Com isso, cresce a invasão de bolivianos, equatorianos e peruanos que desembarcam em terras tupiniquins em busca de oportunidades. E fica uma segunda questão: o Brasil está mesmo com essa corda toda?

Eventos que se transformaram em assunto eleitoreiro. Há uma lista de homens do poder que disputam a luz da mídia para contar vantagens e mostrar ao mundo um Brasil diferente. Foi, inclusive, criado o slogan “O País de Chuteiras”, numa referência aos sucessivos eventos esportivos, enaltecendo a Copa de 2014, óbvio. Tudo muito certo, mas a realidade infiltra-se pelas frestas do egocentrismo, revelando um país que tenta “tapar o sol com a peneira”. Os hospitais estão abarrotados de pessoas relegadas ao descaso, muitos desses pacientes vêm sendo atendidos nos corredores, pois faltam leitos e médicos. Do lado de fora, a violência desafia o bom senso e aterroriza cidadãos brasileiros, reféns de facções criminosas.

Na questão de transportes públicos, o Brasil está carente de estrada de ferro, interligando as cidades sedes, facilitando a locomoção dos visitantes em massa. Temos metrôs, mas faltam trens. Muito se discutiu quanto à possibilidade do trem bala, nas Olimpíadas de 2016, unificando São Paulo – Rio, mas o projeto continua engavetado. Foi um blá-blá-blá e não se chegou a um consenso.

A segurança do papa
vaticano_papa_francisco_missa_celebracao_quinta0Quanto à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, existe a preocupação redobrada com a segurança do Papa Francisco, que chega ao país, no dia 28 de junho próximo, e terá uma verdadeira peregrinação em meio à onda de violência na cidade. Ele irá percorrer o trajeto do Copacabana Palace até Leme, pela Avenida Atlântica, com peregrinos de várias nacionalidades, carregando a cruz. Famosos e convidados vão auxiliar na tarefa. Homens fortemente armados estarão espalhados por toda parte, dividindo-se entre a segurança papal e a proteção dos atletas estrangeiros que estarão disputando as provas.

Por outro lado, visando à Copa do Mundo, há um grupo de soldados e bombeiros que vêm sendo treinado para detectar bombas e possíveis atentados. O Brasil não tem um histórico de terrorismo, mas representantes de várias nações estarão lado a lado, o que requer total atenção por parte das autoridades. Uma tarefa astuta e minuciosa, garantindo o brilho das competições.
O país está calçando as chuteiras, aquecendo-se para o primeiro tempo, e, apesar dos percalços, confiante em elaborar bons mega eventos. Claro, há uma grande torcida para que isso ocorra, mas não se deve omitir a gravidade dos fatos. Afinal, é preciso ter fôlego e raça para correr os noventa minutos de partida e não ser mandado para o banco de reservas.

Fotos: Divulgação



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