Entrevistando Paulo Ricardo

Entrevistando Paulo Ricardo

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OUT/15 – pág. 63 e 64

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São Paulo, década de 80.


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Em 1982 Paulo Ricardo começava sua carreira como crítico musical, enquanto Luiz Schiavon, um pianista clássico, buscava novos rumos musicais. A banda Aura foi a primeira oportunidade de Paulo e Schiavon tocarem juntos, e a mesma parceria seria, anos mais tarde, responsável pela formação do RPM.

O Fenômeno RPM

O RPM não nasceu simplesmente com mais uma banda de rock no cenário paulistano. Já nos primeiros anos, a parceria entre Paulo Ricardo e Luiz Schiavon foi responsável pela composição de hits como Olhar 43, A Cruz e A Espada e principalmente Revoluções Por Minuto – a música que deu origem ao nome da banda. Já com o nome de RPM, assinaram contrato com a gravadora Sony Music e lançaram um compacto, trazendo as faixas Louras Geladas e Revoluções Por Minuto.

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Tamanho foi o sucesso do compacto, que a banda foi convidada a gravar um álbum de estréia com a mesma formação que mantém até hoje, sendo Paulo Ricardo (vocal e baixo), Luiz Schiavon (teclados), Paulo P.A. Pagni (bateria) e Fernando Deluqui (guitarra).

Segundo o empresário Manoel Poladian, que trabalhou com o RPM durante os anos 80, nenhuma outra banda de rock no Brasil faturou tanto quanto o RPM. O álbum Rádio Pirata Ao Vivo, por exemplo, atingiu a marca de 2,7 milhões de unidades vendidas – enquanto nos palcos a banda lotava estádios nas principais capitais brasileiras e tinha suas músicas na lista das mais tocadas nas rádios de todo o país. Os muitos shows – as vezes mais de um por dia! – deixavam a banda cada vez melhor, e em pouco tempo o RPM consagrou-se a maior banda de rock do Brasil.

Sucesso na Carreira Solo

Em meados deste ano Paulo Ricardo apresentou o repertório de sua carreira solo em shows por cidades norte-americanas, com ingressos bastante disputados e casas lotadas. Paralelamente aos shows, Paulo prepara o lançamento de Novo Álbum, trabalho solo mais recente com produção de Marcelo Sussekind e João Paulo Mendonça.

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Para falar sobre o fenômeno RPM, carreira solo, produção musical e Brasil, o Nossa Gente traz entrevista exclusiva com Paulo Ricardo. Confira!

NG – Aos 30 anos de carreira, quais são os planos da banda?

PR – Comemoramos 30 anos este ano, uma vez que o LP Revoluções Por Minuto foi lançado em 1985. Continuamos com a turnê Elektra, um grande sucesso, e paralelamente estamos preparando um DVD documentário. Temos cerca de cinco músicas inéditas que deverão ficar para ano que vem.

NG – Você sempre foi ligado ao rock clássico, inclusive participando de AeroJams – no extinto Aeroanta -, prestando tributo a bandas como Genesis dentre outras. O Aura, sua primeira banda, tinha essa e muitas outras influências musicais. O RPM também recebeu essas influências?

PR – Com certeza. Com tanta onda retrô, os anos 80 estão mais presentes do que nunca. O desafio é não se acomodar e estar sempre aberto às coisas novas.

NG – Ainda nos anos 80 o RPM quebrou todos os records de venda de discos, com o lançamento de Rádio Pirata Ao Vivo, quando as vendas foram superiores a 2.5 milhões de discos. Esse episódio foi resultado da música certa, no momento certo, e uma ação de marketing impecável?

PR – Este é um bom resumo, mas foi muito mais que isso. Além de, naquele momento, eu já trabalhar há mais de sete anos com o Schiavon, havia acabado de voltar de uma temporada em Londres, e assim incorporamos o que havia de mais moderno no pop rock. Desbravamos a cena indie por mais de um ano até sermos contratados por uma grande gravadora. Louras Geladas já era um grande sucesso quando fomos procurados pelo empresário Manoel Poladian, que investiu na superprodução de nosso show e viabilizou a direção de Ney Matogrosso. Tudo isso aliado a um grande repertório e um grande momento para o rock nacional. O livro Revelações por Minuto, de Marcelo Leite de Moraes, traz em detalhes toda a história da banda.

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NG – Ao contrario de artistas de MPB, da música erudita ou da música instrumental, que desenvolveram carreira também no exterior, os artistas brasileiros de música pop ou rock pouco investiram em carreira internacional. O RPM fez nome em Portugal e França, mas tinha – e tem! – potencial para ir ainda mais longe. De um modo geral, porque o rock/pop brasileiro se limitou ao mercado brasileiro?

PR – O rock é anglo-saxão. O rock local só interessa à cena local. Essa é uma desvantagem que temos. Em minha carreira solo, por exemplo, tive muito mais sucesso no exterior, lançando o CD La Cruz y La Espada, em espanhol, em 36 países de língua hispânica. Mas uma carreira no exterior demanda muito tempo e dedicação, e o RPM acabou voltando. Mas quem sabe, num futuro próximo…

NG – Depois do colapso das gravadoras e da falência da música como produto de consumo, como você vê o futuro da música gravada? Um novo formato para a comercialização de música deve surgir ou a música vai se limitar ao formato ao vivo?

PR – Nunca houve uma falência da música. O que há é uma transição lenta e dolorosa do analógico para o digital. Mas nunca se consumiu tanta música. Com os smartphones, a música está em todo lugar.

Carreira Solo

NG – Quais os planos para sua carreira solo?

PR – No mês de outubro lanço novo CD, intitulado Novo Álbum (durante o fechamento desta edição, a faixa Isabela, de 4:22 minutos foi lançada).

NG – Quem assina a produção de Novo Álbum?

PR – Novo Álbum é um CD de músicas inéditas, a ser lançado pela Som Livre, onde divido a produção com Marcelo Sussekind e João Paulo Mendonça, ambos da Globo.

NG – Você voltou a se apresentar nos Estados Unidos meses atrás. A iniciativa é parte de um projeto de investimento em sua carreira internacional ou foram shows isolados, sem compromisso com um projeto internacional?

PR – Um projeto internacional passa necessariamente por um álbum em espanhol. Sim, há planos para que isso aconteça.

NG – O direcionamento artístico de sua carreira solo é voltado para desenvolver músicas que não caberiam no RPM ou apenas a necessidade de ter controle total sobre o direcionamento artístico?

PR – Hoje nossos projetos individuais, não apenas o meu, se adaptam ao RPM. Estamos fechando um ciclo, e então este é um momento propício. Mas as coisas vão acontecendo naturalmente. Ninguém tem mais saco para brigas (risos).

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Produção Musical

NG – Ainda na década de 80 o RPM lançou seu próprio selo – RPM Records – que lançou o Cabine C. Essa iniciativa foi sua ou da banda? Porque não foi para frente?

PR – Não foi para frente por conta do fim do Plano Cruzado e nosso caos administrativo, além do fim daquela era de ouro do rock nacional, quando tudo dava certo. Tivemos um enorme prejuízo, mas aprendemos muito o que não fazer (risos).

NG – Você também se envolve com o aspecto técnico das produções, ou seja, gravando, escolhendo equipamentos e softwares?

PR – Sou muito preciso em relação aos sons e à vibe que estou buscando. Conheço o básico, mas o (Guilherme) Canaes é meu braço direito em minhas produções, que assinamos juntos.

NG – No novo cenário musical, sem gravadoras ou com muito poucas, o artista de um modo geral está preparado para ser dono de sua obra, seja gravando, realizando os procedimentos de registros e até distribuindo o trabalho pronto?

PR – Tem que estar. Não tem outro jeito. Dá mais trabalho, mas por outro lado, temos mais autonomia. É uma tendência irreversível.

NG – Por ter sido crítico musical e colaborador para revistas musicais, escrever ainda faz parte de sua rotina? Você tem planos para um projeto de autobiografia?

PR – Adoro escrever e o faço sempre que solicitado, mas confesso que não tenho interesse, por enquanto, numa autobiografia. Acredito que o melhor está por vir.

Brasil

NG – Como você vê o cenário artístico do Brasil atualmente?

PR – Em mutação.

NG – Depois de ter vivido na França e Inglaterra, você voltaria a viver fora do Brasil?

PR– Estou com filhos pequenos, mas se uma carreira no exterior assim o exigisse, moraria em Miami com o maior prazer.


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Músico, produtor musical e bacharel em Publicidade e Propaganda, membro do Latin Grammy. Autor do Manual Prático de Produção Musical.



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