Brasileiros falam de desafios após os ataques em Paris

Brasileiros falam de desafios após os ataques em Paris

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NOV/15 – pág. 18

O Jornal Nossa Gente conversou com exclusividade com brasileiros que residem em Paris e Toulouse, quarta cidade mais importante da França, depois da ação dos terroristas no país

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O clima de medo e apreensão continua em Paris, após os ataques terroristas em série, no último dia 13 de novembro, que culminaram na morte de 129 pessoas e deixou cerca de 350 feridos, entre eles, três brasileiros. A França declarou guerra ao terror e se aliou à Rússia e aos EUA, bombardeando a cidade de Raqqa, no norte da Síria, que é uma das bases do grupo extremista autodenominado “Estado Islâmico” (EI), autor da catástrofe. O presidente francês François Hollande afirmou que a França não terá “misericórdia” em sua resposta ao grupo, prometendo “usar todos os recursos possíveis dentro da lei”. Mas como ficam os brasileiros que moram em reduto francês? O que poderá ocorrer em meio ao panorama de medo e incerteza? O Jornal “Nossa Gente” conversou com imigrantes residentes em Paris e Toulouse, avaliando a situação da Comunidade nas respectivas cidades, após a tragédia.


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Contatamos o guia turístico José Geraldo Caetano, da “Eurotours”, em Paris, que recepciona turistas brasileiros que vão à cidade Luz, e ele explica que o trabalho de sua empresa foi afetado, após os ataques do dia 13 de novembro. “Noventa por cento dos turistas cancelaram a viagem a Paris. A maioria desistiu temendo novos ataques e isso comprometeu o turismo. No ataque ao Jornal ´Charlie Abdo´, em janeiro, tivemos uma queda de setenta por cento em nosso trabalho, foi difícil, mas agora a situação complicou mesmo. O turismo morreu em Paris”, enfatiza. “O meu trabalho é levar turistas aos museus e locais estratégicos para conhecer, mas os monumentos estiveram fechados”, comenta. “A situação na cidade é crítica”.
Indagado sobre a Comunidade Brasileira em Paris, após os ataques terroristas, disse Caetano que o seu convívio com brasileiros residentes no país é escasso. “Tenho muito pouco contato com a Comunidade Brasileira aqui. Os meus amigos são franceses, mas, entre eles, há um clima de preocupação, embora o povo francês seja tolerante. A cultura francesa é tolerante. A Constituição da França promove tolerância religiosa. Em Paris, há muçulmanos em todas as partes, a maioria com nacionalidade francesa, mas sinto que a Comunidade árabe sumiu de lugares público, envergonhada pelo o que aconteceu”, revela o guia turístico. “É aquela história: os poucos maus fazem muitos bons pagarem por seus atos”, conclui.

Já Mariana Silva, de Poços de Caldas (MG), que reside em Paris e trabalha em uma loja de roupas masculinas na área central da capital francesa, próximo ao Museu do Louvre, contou ao “Nossa Gente” que o temor é evidente. “As pessoas andam assustadas e desconfiadas pelas ruas de Paris”, comenta. “Desde os atentados no jornal Charlie Hebdo (que matou doze jornalistas) que Paris vive em clima de apreensão. Todo mundo tem medo e isso é evidente. E se antes a situação era preocupante agora se intensificou, após a barbárie na sexta-feira 13. Estamos tentando voltar à vida normal, mas ainda é tudo muito recente. Eu mesmo fico assustada quando saio de casa, principalmente quando estou em locais de grande concentração de massa como metrô, supermercados. Mas a vida continua, é preciso voltar ao trabalho e seguir em frente”, avalia a brasileira. “Uso o metrô todos os dias. Não gosto nem de pensar em um possível novo atentado. Isso seria o fim”, fala com apreensão.

Brasileiros em Toulouse

Em Toulouse, a quarta maior cidade da França, com mais de 1 milhão de habitantes, concentra-se uma forte Comunidade Brasileira. Localizada nas margens do rio Garonne, a meia distância entre o Atlântico e o Mediterrâneo, a cidade também abriga uma poderosa comunidade muçulmana, que atua no setor de restaurantes. O polo industrial e universitário deixa vida noturna bastante agitada. Entretanto, após a série de ataques terroristas em Paris, o policiamento por lá está ostensivo, inclusive, com abordagens a imigrantes nas estações de trens e demais locais públicos. Conversamos com o brasileiro Dione Siqueira, natural da cidade de Campestre (MG), que reside em Toulouse há sete anos, e ele disse que a situação ficou complicada para os brasileiros. “Os policiais nos olham com desconfiança. A gente quando sai de casa não pode esquecer os documentos em hipótese alguma. Outro dia, indo para o meu trabalho – construção civil -, fui parado na entrada do metrô e me fizeram uma série de perguntas. Fiquei ali parado, entre três policiais, por quase dez minutos”, relata. “Foi uma tortura psicológica porque a princípio eles queriam ir até a minha casa investigar, mas depois desistiram quando falei do meu trabalho e disse que era brasileiro”, conta.

A brasileira Marta Nunes Gonçalves, de Poços de Caldas (MG), que mora e trabalha em Toulouse relata que sente medo quando entra no metrô. Ela trabalha como faxineira em um banco na área central da cidade. “Vou trabalhar por volta das seis horas da manhã, todos os dias, e tenho que pegar o metrô. É muito difícil porque você não sabe quem é quem. Fico muito preocupada, mas peço a Deus que me proteja, temo pelos meus filhos e pelo meu marido que ficam em casa”, afirma. “Eu não posso desistir do meu trabalho porque faço faxina no banco há dois anos. Todos lá gostam muito de mim e não teria motivos para deixar o meu trabalho. Temos que enfrentar o medo e seguir em frente. Essa a nossa vida de imigrante”, conclui.

Os atentados que a França sofreu nos últimos meses deixou o mundo consternado. Desde os ataques contra o Jornal contra o Charlie Hebdo, como na matança de sexta-feira – 13 de novembro, havia irmãos implicados – de origem muçulmana -, que recebem treinamentos quando na viagem à Síria, ao Líbano ou ao Afeganistão. Com isso, a Europa se transformou na maior ameaça em sua história recente, obrigando o continente a rever as regras tradicionais do combate ao terrorismo. E hipóteses vêm sendo discutidas entre os líderes da União Europeia, na tentativa de conter a onda de violência contra inocentes, inclusive, em colocar um bracelete eletrônico ou prender quem estiver se radicalizando, ou seja, ameaçando a segurança.

Olimpíadas 2016 – Em meio a esse contexto de especulação e estratégias, o Brasil encontra-se em um fogo cruzado com a realização das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Atletas de várias partes do mundo, inclusive franceses, vão desembarcar no país, portanto, se antes dos atentados ocorridos em Paris a responsabilidade já era grande, agora ainda mais. O evento, que ocorre entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016, contará com 206 países participantes e tem previsão de receber mais de doze mil atletas. Justamente devido à pluralidade de nações e atletas, a atenção precisa ser redobrada.

No passado, os Jogos Olímpicos já foram alvo do terrorismo. Em 1972, cinco atletas israelenses e mais seis treinadores foram sequestrados e posteriormente assassinados no atentado que ficou conhecido como Massacre de Munique. Além deste ataque emblemático, em 1996 um outro atentado deixou dois mortos e 111 feridos vítimas da explosão de uma bomba nas proximidades dos locais onde eram realizados os jogos, em Atlanta (EUA). Em declaração à imprensa, José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, garantiu: “Podemos ficar seguros que tudo aquilo que pode ser feito está sendo feito no Brasil para a segurança na Olimpíada. O êxito da segurança pública na Copa do Mundo se repetirá agora”.


WaltherAlvarenga

Walther Alvarenga



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