Brasil: o complicado caminho de volta

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Por Walther Alvarenga

A chamada crise americana, que desencadeou o desemprego e abriu questionamentos quanto ao futuro dos Estados Unidos no volátil Mercado Financeiro Internacional, motivou a volta para casa de parte considerável da Comunidade Brasileira estabelecida no país. No Sul de Minas Gerais, por exemplo, cerca de quatro mil mineiros abriram mão do sonho americano e voltaram para os seus lares, tendo como meta recomeçar a vida no local – cidade – de origem. Mero engano. Aconteceu que a maioria dos emigrantes que regressou perdeu investimentos, deparando-se com uma realidade totalmente destorcida. O mercado de trabalho discrimina os que passaram dos 40 anos de idade, sem contar com o desacerto entre famílias – filhos rejeitam os pais. E o que parecia atrativo para o recomeço em solo tupiniquim transformou-se em frustração e prejuízo.

O brasileiro fora do Brasil é alvo da síndrome do pensamento alternativo, ou seja, “se algo der errado aqui, volto para o meu país (Brasil)”. Na verdade, o que vem dando errado – para uma maioria reclamante – é o retorno impensado para o Brasil. Quando agimos com ímpeto, motivado pela decisão de trilhar o caminho de volta, podemos ser vítimas da armadilha preparada pela falta de planejamento. O sujeito tem dinheiro, mas não sabe em que investir para assegurar o seu patrimônio.


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Por outro lado, há os que voltam para o Brasil sem bens ou dinheiro, mas que acreditam recuperar aqui o que perderam no exterior. O salário do trabalhador brasileiro é relativamente baixo – comparado aos ganhos nos Estados Unidos – levando o sujeito ao comparativo constante, outra realidade que não lhe permitirá ter o mesmo padrão de vida como acontecia em território americano.

Percalços no Brasil

8Tornou-se comum, em Minas Gerais, encontrar pelas ruas de Poços de Caldas, por exemplo, pessoas que viveram nos Estados Unidos e que, atualmente, encontram-se desmotivadas. Elas compraram a casa do sonho, reencontraram amigos e familiares, mais isso não foi o bastante. Está faltando algo e isso as deixa insatisfeitas. “Eu estava muito bem nos Estados Unidos e agora me sinto um peixe fora d’água. Pior que não tenho como voltar”, desabafou José Adauto Medeiros, da cidade de Botelhos – MG. Durante 15 anos, ele morou ilegalmente na cidade de Newark –NJ. Para a mineira Lorena de Abreu Salgado, de 56 anos, o retorno lhe trouxe depressão. Ela quase não sai de casa e a reclamação é única: falta de ter o que fazer. “Aqui, no Brasil, você passa dos 40 anos e está fora do mercado de trabalho. Morei 10 anos em Mount Vernon (NY) e nunca fiquei em casa. Desde que cheguei a minha cidade – Poços de Caldas – estou encostada. Ninguém me dá trabalho. Isso aqui é um tédio. Eu quero voltar para os Estados Unidos porque lá tenho os meus amigos e o meu trabalho que é sagrado”, disse.

Os emigrantes que voltaram para o Brasil têm encontrado barreiras – se passaram dos 40 anos – pois a política dos 40 anos é sagaz e acaba frustrando quem volta disposto a recomeçar com garra, exceto aqueles que montam o seu próprio negócio. Entretanto, nem sempre os investimentos em negócios – sem um devido planejamento – deram certo.

O jovem Érico Barbosa Couto, de 30 anos, perdeu cerca de meio milhão de reais em apenas seis meses. O motivo? Investimentos em área não condizente ao seu conhecimento de trabalho. Tudo por culpa de alguns de seus familiares que o fizeram apostar em algo nebuloso. Resultado: “foi um desastre total”, lembrou Érico. “Vi o meu dinheiro escoar pelo ralo. Tudo o que ganhei em anos de trabalho nos Estados Unidos acabou em nada”.

Os economistas alertam os investidores brasileiros, que chegam ao país dispostos a abrirem o próprio negócio, que pesquisem a área em que pretendem operar. É importante a sondagem do local antes de aplicar dinheiro. É necessário ter precaução para evitar as surpresas que podem gerar prejuízos.

Estatísticas: em Minas gerais, a volta de brasileiros tem sido avassaladora. É o inverso dos anos oitenta, quando milhares de jovens mineiros deixaram o Brasil para conquistarem o sonho americano. O efeito contrário trouxe para o Brasil cerca de quatro mil pessoas, entre julho de 2011 e dezembro de 2012 – isso no Sul do Estado. Mas os números continuam crescendo, o que leva as autoridades a repensarem a questão dos emigrantes.

Estranho no ninho: outro fator bombástico é o retorno em família. Muitos pais, que moraram durante anos no exterior, não são aceitos pelos filhos. A relação tem sido evasiva, pois os jovens os ignoram numa espécie de vingança tardia, pelo fato de terem sido “abandonados” quando crianças. Os presentes e o dinheiro, enviados dos Estados Unidos, não conseguirão amenizar a crise familiar.

Há, inclusive, esposas que reclamam pela volta dos maridos pelo fato de perder o dinheiro no final de mês. Com a volta do amado, acabou-se a pensão dolarizada. Ou seja, menos dinheiro para os seus gastos pessoais. E agora? O marido acaba sendo hostilizado no próprio “lar doce lar”.

Walking in airportEm Brasília, por exemplo, cogita-se a criação da Secretaria Nacional do Emigrante, com intuito de estudar a questão com mais prudência. Disponibilizar mecanismos para que o brasileiro fora do país faça consultas, tendo a orientação devida antes de investir o seu ganho.

Muitos dos emigrantes têm entrado em contato com o Brasil, pedindo orientação de pais e amigos para investimentos, mas nem sempre as opiniões resultam em ganhos. Os emigrantes que moram nos Estados Unidos e que têm metas para viver no Brasil futuramente devem – e precisam – consultar profissionais no setor de investimentos. Pesquisar o mercado de trabalho antes de “bater o martelo”. É imprescindível ter a noção exata para nortear os seus negócios futuros.

Antes de afivelar as malas e voar para território brasileiro, é necessário ter os pés no chão para fazer valer a pena os anos de trabalho no exterior. A verdade é uma só: todos os que regressam ao Brasil querem ser patrões. Indistintamente, almejam comandar o seu projeto de vida com sucesso e segurança. Mas, para isso, tem de haver planejamento.

Para evitar entrar para a fila dos arrependidos do Brasil, é preciso ser minucioso e detalhista nas suas escolhas profissionais. Que haja cautela e olhos de águia, com isso, valorizando a volta para casa. Não transforme seu sonho em amargo regresso!



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