Atentado contra crianças no Paquistão causa a indignação de ativistas da paz

Atentado contra crianças no Paquistão causa a indignação de ativistas da paz

Malala Yousafzai, ganhadora este ano do Prêmio Nobel da Paz, qualificou o atentado como “atroz e covarde”. Disse que seu coração está destroçado por esse ataque sem sentido e a sangue frio cometido em Peshawar

Foto: A Majeed/AFP
Foto: A Majeed/AFP

Pessoas em várias partes do mundo mostraram-se indignadas com um dos ataques mais violentos da história do Paquistão, liderado por um grupo de seis militantes do Talibã, que matou com requintes de crueldade cerca 149 pessoas (número divulgado até o fechamento desta edição), a grande maioria crianças de uma escola administrada pelo Exército na cidade de Peshawar, no noroeste do país. Um episódio lamentável, em tempos de introspecção, com a aproximação de 2015. E depois de cinco horas de combates, as forças de segurança deram por finalizado o resgate e anunciaram que os seis agressores foram mortos.

Eram 11 da manhã (horário do Paquistão), quando homens armados escalaram o muro da escola frequentada principalmente por filhos de militares paquistaneses, com idades entre cinco e 16 anos. Um menor que sobreviveu ao ataque descreveu os agressores: “Estavam vestidos de branco, eram jovens e quando entraram começaram a atirar indiscriminadamente”. De acordo com a informação oficial, houve uma primeira explosão, que pode ter sido provocada por um homem-bomba. A explosão causou a maioria das vítimas. A seguir os agressores começaram a exterminar as crianças a tiros. Quando o Exército chegou, os militantes tomaram alguns dos menores como reféns.

Ejaz Khan, funcionário do hospital Lady Reading, para onde as vítimas foram levadas, disse que muitos meninos estão sendo operados. “A maioria das vítimas levou tiros na cabeça”, afirmou.


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Um porta-voz do Talibã, Muhammed Umar Khorasani, reivindicou o atentado alegando que, “Queremos que sintam dor. Escolhemos a escola do Exército para o ataque porque o Governo está escolhendo nossas famílias”, dizia. Os analistas concordam que o ataque é uma vingança à operação contra o Talibã do Paquistão. Nesta ofensiva, iniciada em junho nas áreas tribais do norte do Waziristão, o Exército recuperou grandes extensões territoriais que tinham sido tomadas pelo grupo e matou pelo menos 1.250 militantes. Embora o Paquistão sofra constantes atos terroristas, o recente ataque causou comoção no país por sua dimensão e por ter crianças como alvo. Analistas apontam que o Talibã costuma atacar escolas fechadas para destruir os edifícios. Desta vez, no entanto, atacaram antes do meio-dia, quando todos os estudantes se encontravam no local.

Talat Massood, general aposentado e reconhecido analista de defesa, condenou os ataques às crianças e adolescentes: “Este ataque covarde foi um ato de desespero do Talibã. Por outro lado, é uma falha grave das forças de segurança e da inteligência, que não puderam preveni-lo”, afirmou em ressentido desabafo. Massood disse que agora a estratégia do Exército deve ser intensificar a operação, e acredita que a opinião pública vai apoiar essa estratégia depois dos últimos acontecimentos. Nas áreas do Paquistão próximas à fronteira com o Afeganistão muita gente hesita entre apoiar as forças armadas ou os extremistas. Alguns estão a favor do Talibã como repúdio aos ataques com drones lançados em conjunto por Estados Unidos e Paquistão.

Guerra do Talibã

O Talibã começou no início dos anos 1990 na fronteira entre o Paquistão e Afeganistão, durante a guerra deste último país contra os soviéticos. Sua intenção sempre foi fortalecer sua versão da sharia, ou lei islâmica, e para isso usaram a violência, tanto em execuções por razões morais, como em ataques suicidas contra escolas, edifícios oficiais e minorias religiosas. Nas operações recentes contra o terrorismo comandadas por Washington e Islamabad, alguns dos líderes do Talibã foram exterminados. Hakimullah Meshud, antigo líder do grupo no Paquistão e ligado ao Talibã do Afeganistão e à Al Qaeda, morreu no ataque de um drone em novembro de 2013. Acredita-se que o líder atual, Maulana Fazlullah, tenha sido morto em outro ataque com drone em novembro de 2014, mas a informação ainda não foi confirmada.

Os sangrentos ataques à escola em Peshawar foram interpretados pelos analistas de forma ambígua: alguns o veem como um ato de desespero derivado de uma impressão de fraqueza; outros, pelo contrário, como um sinal de que não perderam sua capacidade de semear o terror. O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, repudiou o atentado. “É uma tragédia nacional desencadeada por selvagens. Estes eram meus meninos. Esta é minha perda. Esta é uma perda da nação”, disse exaltado.

USA condenam os ataques

O Governo dos Estados Unidos condenou o ataque de milicianos do Talibã, e reiterou seu compromisso na luta contra o terrorismo. “Nossos corações e preces estão com as vítimas, suas famílias e entes queridos. Ao atirar em estudantes e professores nesse ataque atroz, os terroristas voltaram a mostrar sua depravação”, afirmou o Presidente Barack Obama em um comunicado difundido pela Casa Branca. “Estamos junto ao povo do Paquistão e reiteramos o compromisso dos Estados Unidos de apoiar o Governo em seus esforços para combater o terrorismo e o extremismo e para promover a paz e a estabilidade na região”, agregou o presidente.

Richard Olson, embaixador norte-americano em Islamabad, definiu o ataque como “desumano e sem sentido”. “Poucos sofreram mais em mãos de terroristas e extremistas do que os paquistaneses”, recordou o diplomata. A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora este ano do Prêmio Nobel da Paz, qualificou o atentado como “atroz e covarde”. “Tenho o coração destroçado por esse ataque sem sentido e a sangue frio cometido em Peshawar”, afirmou a ativista de 17 anos, que em 2012 esteve a ponto de morrer pelo ataque de um militante do Talibã que disparou em sua cabeça por causa de sua defesa da educação feminina. “Condeno esse ato e apoio o Governo do Paquistão no esforço de enfrentar esse problema”, declarou Malala. A jovem lamentou a morte das crianças, às quais chamou de “irmãos e irmãs”, e disse que esse tipo de ato nunca destruirá sua determinação.



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