Aprovado em três universidades dos EUA faz campanha para pagar curso

Aprovado em três universidades dos EUA faz campanha para pagar curso

Caio Silveira optou por estudar engenharia aeroespacial, na Florida Tech. Ele ganhou bolsa, mas ainda precisa desembolsar R$ 82 mil por ano.

Caio mostra carta de aprovação da Florida Tech: 'Emocionante' (Foto: Arquivo pessoal)
Caio mostra carta de aprovação da Florida
Tech: ‘Emocionante’ (Foto: Arquivo pessoal)

O estudante Caio Henrique Silveira, 18 anos, lançou uma campanha na internet para angariar fundos e conseguir realizar o sonho de estudar engenharia aeroespacial no exterior. Ele foi aprovado em três universidades nos Estados Unidos, sendo que em uma delas, a Florida Institute of Technology (Florida Tech), ganhou uma bolsa no valor de US$ 16 mil ao ano. No entanto, a família tem de custear o restante do curso, o que gira em torno de R$ 82 mil anuais. “Não temos esse dinheiro. Por isso, decidi mostrar minha história para que as pessoas possam me ajudar”, explicou o rapaz em entrevista ao G1.

Ao lado do pai, o professor universitário Delson da Silveira, 41 anos, Caio, que sempre estudou em escolas públicas de Goiás, passou a pensar em uma forma de conseguir angariar fundos para os estudos. “Infelizmente, não temos recursos para arcar com todos os custos, mas estamos em busca de ajuda. É muito difícil conseguir essa aprovação e não podemos desperdiçar. Aí surgiu a ideia da campanha na internet, pois se até políticos condenados por corrupção conseguem verba para pagar multas, por que um estudante não poderia ter ajuda?”, disse o pai do jovem.

Caio precisa confirmar a matrícula na Florida Tech até o dia 1º de maio, quando tem de efetuar um depósito no valor de US$ 300. O curso é de quatro anos, com custo total de R$ 329 mil, sem contar as bolsas de estudo de US$ 16 mil anuais. A conversão dos valores foi feita pelo próprio estudante juntamente ao Banco DayCoval e pode sofrer alterações. O embarque em definitivo deve acontecer em julho, pois o ano letivo tem início em agosto deste ano.


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Todas as informações sobre a história do rapaz e as formas de doação estão reunidas no site “Help Caio”, lançado na semana passada. “Pretendo manter esse espaço ao longo dos meus estudos, pois será uma forma de prestar contas para as pessoas que me ajudaram”, ressaltou o estudante. Até as 8h desta segunda-feira (17), ele havia conseguido R$ 720 em doações.

Trajetória
Caio nasceu em Jacareí, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo e, aos 11 anos, mudou-se com a família para Goiânia. Ele terminou o ensino fundamental e cursou o ensino médio no Colégio da Polícia Militar do Estado de Goiás Polivalente Modelo Vasco dos Reis, localizado no Setor Oeste da capital. O estudante sempre teve boas notas e, por dois anos, foi considerado como “aluno padrão”. Além disso, ele acumula vários certificados de proficiência em inglês e títulos em competições. “Sempre estudei em escola pública e isso mostra que quem se dedica de verdade consegue alcançar objetivos”, afirmou.

O rapaz afirma que seu sonho de infância era ser piloto de avião. No entanto, em um exame foi constatado que ele é daltônico (tem incapacidade de distinguir cores pela visão,  principalmente o verde e o vermelho) e, por isso, nunca poderia comandar uma aeronave. “Fiquei muito triste com essa notícia e comecei a me informar sobre quais seriam minhas possibilidades. Aí, durante uma viagem aos Estados Unidos para participar de um congresso de voluntariado, em agosto do ano passado, vi o ônibus espacial Endeavour em uma exposição e tive a certeza do que quero fazer para o resto da vida”, explicou o estudante.

Em 2013, enquanto ainda estava no colégio militar, Caio participou do antigo Prep Program, atualPersonal Prep Scholars, que é um programa gratuito que ajuda os alunos brasileiros que querem estudar no exterior. “De 75 estudantes que cursavam o 3º ano do ensino médio, eu fui um dos aprovados”, lembra Caio. O feito lhe rendeu a Comenda Pedro Ludovico Teixeira, que é a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa de Goiás a um cidadão. “Eu me senti muito prestigiado, pois não é todo mundo que tem essa honra”, ressaltou.

E o estudante continuou se preparando para conseguir cursar engenharia aeroespacial. Ele fez exames para atestar sua proficiência em inglês e o Scholastic Assessment Test (SATs) – teste de avaliação escolar, na tradução livre -, que é uma espécie de Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dos EUA para ingresso nas universidades, quando obteve a aprovação.

“Durante os testes, o histórico escolar do aluno também é importante e, por isso, sempre me dediquei a participar de competições. Em uma delas, a Olimpíada Internacional de Matemática Sem Fronteiras, em maio de 2013, com participantes de todo o país, obtive a medalha de ouro”, relatou Caio.

Em novembro do mesmo ano, o estudante foi escolhido como um dos seis representantes do colégio militar para a 19ª Competição Internacional de Ciências, Matemática, Habilidade Mental e Eletrônica, realizada na Índia. Na ocasião, Caio participou de um debate, em inglês, no qual discursou para cerca de 700 pessoas. “Foi uma experiência inesquecível e pude amadurecer ainda mais os meus ideais”, diz ele.

Florida Tech
Antes mesmo de concluir o ensino médio, Caio tinha a certeza de qual graduação queria cursar. Ele passou a pesquisar e, por meio da EducationUSA, uma fundação que destaca programas de estudo nos Estados Unidos, conheceu as universidades que disponibilizavam o curso de engenharia aeroespacial.

Segundo o estudante, o foco dele sempre foi a Florida Tech, que fica na cidade de Melbourne, no estado da Flórida. “A universidade é considerada como referência em pesquisa nacional e ainda está inserida no Space Coast, que é um polo aeroespacial que inclui o Centro Espacial Kennedy e o Cabo Canaveral, e tem boas relações com a Nasa [agência espacial norte-americana]. Lá é o lugar certo para adquirir os conhecimentos e poder colocá-los em prática”, disse o jovem.

Para conseguir estudar no exterior, ele acabou se inscrevendo em oito processos seletivos nos Estados Unidos, por meio do Institute of International Education (IIE/IBEU). Ele já recebeu resposta positiva da Flórida Tech, do Rochester Institute of Technology, em Nova York, e da Embry-Riddle Aeronautical University – Prescott, no Arizona.

“O programa do IBEU  tem o foco de fazer a ponte entre os estudantes e as universidades norte-americanas e selecionou 18 jovens brasileiros. Fiz quase tudo de Goiânia mesmo, gratuitamente, e só precisei viajar até o Rio de Janeiro na última etapa, quando passei por uma entrevista. Depois, meus pedidos foram enviados para as instituições. Quando recebi as cartas de aprovação, foi emocinante”, relatou Caio.

Antes de receber as respostas, Caio decidiu prestar vestibular em universidades brasileiras neste ano, pois, caso não fosse aprovado, poderia dar sequencia aos estudos. Ele foi aprovado para cursar física médica na Universidade Federal de Goiás (UFG) e  engenharia aeronáutica e espaço na Universidade do Vale do Paraíba (UniVap), em São José dos Campos (SP).

“Acabei optando pela UniVap, pois esse é o curso que mais se aproxima do que eu quero. A diferença do que ele oferece do exterior, é que o curso daqui foca a questão aeronáutica, voltada a aviões navais, e o de engenharia aeroespacial, da Florida Tech, é voltado aos satélites e ônibus espaciais”, explicou Caio.

O estudante fez a matrícula para o curso da UniVap, com custo mensal de R$ 1.200, mas não chegou a frequentar as aulas, pois, em 28 de janeiro deste ano, recebeu a carta de aceitação da Florida Tech. “Eu e minha família paramos para analisar, pois o meu sonho está nos EUA. Então, decidimos que era melhor parar de arcar com esse custo, economizar e tentar unir forças para ir ao exterior. Por enquanto, estou dando aulas de inglês para tentar conseguir algum dinheiro”, explicou o rapaz.

O pai do rapaz afirma que, além do site, está montando um projeto, que será apresentado para empresas que queiram ajudar o jovem. “As doações feitas poderão ser deduzidas do Imposto de Renda. Sendo assim, parceiros podem ajudar a realizar o sonho do Caio e ter algum benefício de volta”, destacou Delson.

Para o professor universitário, os resultados obtidos pelo filho são motivos de orgulho. “Para quem sempre estudou na rede pública de ensino, é algo impressionante e mostra o quão dedicado ele é. Mas também quero ressaltar que a presença da família durante a vida escolar, pois a mãe dele e eu sempre estivemos ativamente presentes”, contou o pai.

Segundo Delson, a família está fazendo de tudo para que Caio vá para a Florida Tech. “Na verdade, até o impossível. Esse é o sonho dele e, enquanto tivermos forças, vamos lutar. Por isso, pedimos que quem puder, contribua”, destacou.

E Caio garante que, após se formar, voltará ao Brasil para trabalhar. “Trarei de volta todos os conhecimentos que obtiver na universidade, pois o setor aeroespacial do país ainda está engatinhando e precisa de mais profissionais qualificados. Vou dar tudo de mim”, prometeu.

Fonte: g1.globo.com



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