A filosofia do coração na obra de Perola Halikman

A filosofia do coração na obra de Perola Halikman

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JUL/2016 – pág. 16 e 18

Aos 76 anos, “Pearl” sensibiliza com pinturas em forma de mãos que ela traduz como “as mãos de Deus”. A artista exalta sua proeza no quadro enigmático em homenagem às vítimas da Boate Pulse, mostrado com exclusividade pelo Jornal Nossa Gente

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Não há como explicar a sensibilidade aguçada de um artista plástico, que extrapola o lado comum no seu processo de criação. Um artesanato artístico que demarca histórias da geração do seu tempo, com mensagens abstratas, suscetíveis ao olhar analítico. Mãos que desenham a realidade em cores e formatos às vezes inimagináveis, dando vida e estilo às telas. Aos 76 anos, a pintora Perola “Pearl” Halikman sensibiliza com suas obras, a maioria em forma de mãos, que ela traduz como “as mãos de Deus”. Traços marcantes – estilo impressionista -, que a coloca em posição de destaque dentre os pintores autodidatas contemporâneos. Recentemente, “Pearl” exaltou a sua proeza ao pintar um quadro enigmático, mas memorável, em homenagem às vítimas da Boate Pulse, em Orlando, mostrado com exclusividade pelo Jornal Nossa Gente. “Eu decidi fazer um tributo aos que morreram naquela catástrofe. Comecei pintando com as cores do arco-íris, que denomina o movimento gay, depois adicionei a cor preta no arco-íris retratando amor e suspense”, relata. “Quase perdi uma amiga especial – Lisa Frias -, que estava na boate Pulse com três amigas naquela noite horrível. A Lisa escapou dos tiros, mas as amigas morreram na barbárie”, lembra consternada.


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“Conheço a Lisa há dois anos. Sempre foi muito gentil comigo nos problemas que tive com minha linha telefônica. Ela é funcionária da Telefônica e me socorreu nos momentos que pedi a sua ajuda”, lembra Perola. “E quando a Lisa ficou sabendo que eu pintava, ela viu os meus quadros na rede social, adorou. Em retribuição às suas gentilezas, fiz um quadro especial para ela e entreguei pessoalmente. Quando recebeu o quadro, agradeceu emocionada. Disse a ela que o quadro iria protegê-la. Naquele mesmo dia, durante a noite, ela foi à boate Pulse com três amigas. E no momento do tiroteio Lisa conseguiu se livrar dos tiros, escapou ilesa, mas as amigas morreram. Foi difícil quando soube o que tinha acontecido, então resolvi pintar o quadro em homenagem às vítimas que morreram naquela madrugada”, ressalta. “Mostrei o quadro para Lisa ela se emocionou, muito. O meu marido ficou emocionado quando viu a tela”, relata. “A minha irmã quando veio me visitar gostou do quadro. Ela também se emocionou. O meu filho adorou. É uma obra muito especial”, complementa. “Vou doar o quadro”, comenta.

“A pintura me traz paz, é um grande prazer”, acrescenta a artista plástica. “Sou autodidata, nunca fiz curso de pintura. É uma mensagem espiritual porque coloco minha alma nas minhas obras, mentalizo coisas positivas para quem as adquirir. Quem compra meus quadros tem boa sorte. A filosofia do coração passa pelas minhas mãos”, enfatiza. “A pintura hoje substitui a profissão de cabeleireira que me trouxe prestígio e me aproximou de pessoas importantes nesse país”, fala com saudosismo. Perola “Pearl” Halikman, brasileira, de Recife (PE), experimentou os desafios de uma vida preponderante nos Estados Unidos e hoje reside em Orlando com o esposo, o americano King Willian (com 83 anos), consolidando um casamento de 58 anos, e com a cachorrinha poodle, Gypsy Rose Lee.

Trajetória de amor e desafios

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Os sonhos não determinam o lugar onde você pode chegar, mas produzem a força necessária para tirá-lo do lugar comum. Assim ocorreu na trajetória de Perola quando desembarcou no Flórida, ainda adolescente, em 1963, acompanhada do marido, o americano King Willian – engenheiro eletrônico que trabalhava para a RCA – Radio Corporation Of América -, no controle de radares – um sistema de testes de bordo de foguetes de Cabo Canaveral; de dois filhos e da irmã mais velha, Lucika. A jovem que adorava assistir aos filmes exibidos no Cine Eldorado, na sua cidade, que dançava frevo e curtia rock ‘n’ roll tinha pela frente missão das mais audaciosas. Transformou-se em recata cabeleireira do luxuoso Sheraton Hotel, cortando cabelos de celebridades, dos astronautas Gordon Cooper e Jon MacBride; da atriz Barbara Eden, a Jeannie do seriado “Jeannie é um Gênio” (I Dream Of Jeannie); de Tedd Kennedy, entre outras personalidades. Em 1978 foi agraciada com o título de “Melhor cabeleireira do Ano”, na Flórida, competição que reuniu profissionais de outros estados americanos. Escreveu o livro “Humor Embaixo do Secador”, narrando episódios hilários de suas clientes. Trabalhou como voluntária do “American Cancer Society”, produzindo perucas para mulheres em tratamento de câncer, mais tarde recebendo o prêmio “Jefferson Awards – Public Service”, da “Jefferson Foundation”, idealizada por Jacqueline Kennedy Onassis e senadores.

Para alguns pensadores, não existe o destino, mas um círculo de encontros determinados. Diante disso, não há coincidências. No caso da então adolescente, “Pearl”, com 17 anos, o convite da irmã Lucika para ir ao aniversário de uma amiga mudaria para sempre a sua história de vida. Foi nessa noite que conheceu o jovem americano King Willian, com 23 anos, que não falava o português, mas extremamente cortês, e que seria o companheiro de uma vida. “O Willian estava a serviço da Radio Corporation of America, que operava radares de foguetes em navios que saíam da Costa da Flórida e vinham para o Brasil, em Fernando de Noronha, no Recife. Engenheiros que davam suporte nas missões espaciais que saíam de Cabo Canaveral. Na naquela época não existia a tecnologia de hoje. Eram sessenta e três radares monitorados”, lembra Perola. “E na noite do aniversário, dançamos frevo, rock, foi muito divertido. E o meu primo, que falava o inglês, se dispôs a levar o King para o local onde estava hospedado. O King era lindo, parecia o ator James Dean. As meninas ficavam ouriçadas. E quando começamos a namorar elas ficaram com ciúmes. O meu primo convidou o Willian para almoçar no dia seguinte, domingo, na minha casa. Ele foi. A minha avó falava o alemão conversou muito com o King que tinha aprendido o idioma quando trabalhou na base da Força Aérea Americana, na Alemanha. No início, só nos comunicávamos por gestos”, fala com saudosismo.

Mas, o amor entre Perola e o jovem americano falou mais alto. “Nos conhecemos em novembro, noivamos em fevereiro e nos casamos no mês de junho”, conta. “Tivemos dois filhos – Gregório e Farlen -, e quando Willian terminou o seu trabalho no Brasil, viemos para Cocoa Beach, na Flórida, em sessenta e três. A minha mãe na ocasião não queria que eu viesse sozinha porque era muito jovem, então a minha irmã veio comigo. Ela namorava um engenheiro, amigo do Willian, com quem se casou aqui nos Estados Unidos”, lembra. “O curioso é que a maioria dos jovens americanos, que estava a serviço no Brasil, casou com brasileiras. E nós, mulheres brasileiras, nos reuníamos com frequência em Cocoa Beach, realizando vários eventos. Inclusive, quando o então presidente do Brasil, o militar Artur da Costa e Silva veio visitar a base Militar em Cocoa Beach, fomos recepcioná-lo no aeroporto”, enfatiza Perola.

Salão de beleza e celebridades

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“Quando vim morar nos Estados Unidos eu mesma me penteava porque os cabeleireiros na época não eram tão bons. Os penteados na época eram bufantes, altos, e eu gostava de me pentear. Também penteava os cabelos de minha irmã e de várias amigas. Nunca tinha estudado, mas era um dom natural. Todas amigas adoravam e voltavam para eu penteá-las. Sempre gostei de artes, algo natural em mim, e os cabelos eram como uma obra de arte. Foi quando entrei para uma escola profissional de cabeleireiros e fiz curso durante um ano. Quando me formei cabeleireira, fui convidada para trabalhar no luxuoso salão de beleza do Sheraton Hotel, frequentado por altos executivos, políticos, celebridades do cinema e astronautas. Conheci muita gente importante, fiz ótimas amizades”, relata. “Eu cortei os cabelos do astronauta Jon MacBride antes de ele viajar para o espaço. Ele foi muito gentil comigo durante uma transmissão, ao vivo, do espaço, quando penteou os cabelos diante das câmeras. Tinha dito a ele para não parecer com os cabelos arrepiados e que penteasse os cabelos. Ele penteou os cabelos diante das câmeras e me agradeceu com um gesto fraternal, fiquei muito feliz”.

Em 1971, Perola abriu o seu próprio salão de beleza, em Cocoa Beach, o “Copacabana Hair Design”, muito bem frequentado. “As clientes vinham de vários lugares para se pentearem comigo. O salão tinha manicure, pedicure, oferecendo comodidade aos frequentadores”, salienta. E, em meio às tantas histórias hilárias que ouviu das clientes, resolveu escrever o livro “Humor embaixo do Secador”, relatando alguns fatos curiosos. Entretanto, sentindo na pele o drama de clientes que perdiam os cabelos durante as sessões de quimioterapia, em tratamento do câncer, a então empresária resolveu ir para Nova York para fazer o curso de perucas no renomado, Jacqueline International. “Aprendi a trabalhar com perucas. Eram muito bem feitas, quase que imperceptíveis, atendendo as mulheres que enfrentavam o tratamento do câncer”, enfoca.

Com o número crescente de mulheres, vítimas do câncer, Perola foi trabalhar como voluntária do “American Cancer Society”, entidade que atende pessoas com câncer, oferecendo perucas de graça às pacientes de baixa renda. “As pessoas que podiam comprar as perucas, pagavam, mas as mulheres sem renda recebiam perucas gratuitamente”, ressalta. “Eu trabalhei como voluntária de oitenta e oito até dois mil e sete”. E no dia treze de Julho de 2007, a cabeleireira teve o seu trabalho reconhecido ao ser agraciada com o prêmio “Jefferson Awards – Public Service”, outorgado pela “Jefferson Foundation”, idealizada por Jacqueline Kennedy Onassis e senadores. Vale ressaltar que em 1978, Perola recebeu o título de “Melhor cabeleireira do Ano”, na Flórida, competição que reuniu os grandes profissionais da ocasião, incluindo de outros estados americanos.

Residindo em Orlando

Em 1995, Perola fechou o seu salão em Cocoa Beach e mudou-se para Orlando com o esposo, ocasião em que sua nora, de 32 anos, teve derrame cerebral – AVC. “A minha nora ficou muito doente e o meu filho precisava muito do meu apoio, pois tinha dois filhos para criar. Eu ajudei a criar os meus netos durante doze anos. Meu marido deixou o emprego e veio para Orlando. Foi um período de muito trabalho e, quando tudo ficou resolvido, doze anos depois, decidi que era hora de voltar para Cocoa Beach e reabrir o meu salão”, conta. “Mas o meu segundo filho, que também mora em Orlando, se divorciou da esposa com quatro filhos para criar. Eles tinham seis filhos, mas dois filhos foram morar com a mãe. Desisti de reabrir o salão e resolvi continuar em Orlando para criar os meus quatro netos. Mas hoje, graças a Deus, todos os meus netos estão criados, os meus filhos estão bem e estou livre para seguir a minha vida”, sorri. “Aqui (se referindo à sua casa), mora eu, o meu marido (hoje com 83 anos) e minha cachorrinha, a Gypsy Rose Lee. Mas sou uma pessoa ativa, faço ginástica, cuido do meu jardim. A gente tem de continuar. Cada dia, um novo dia”, determina.

Mas, em se tratando de uma senhora extremamente surpreendente, dinâmica, o inesperado ocorre, inevitavelmente. No final da entrevista, outro relato admirável. “Tem algo que preciso lhe contar. Escrevi uma carta para a Nasa, quando ainda mantinha contato com os astronautas, indagando sobre a possibilidade de eu ir para o espaço, pois desejava estudar as reações capilares no espaço. Queria saber como reagia o couro cabeludo e o porquê dos cabelos ficarem arrepiados fora da atmosfera terrestre. Queria saber se os cabelos crescem fora das órbita terrestre. Eu pretendia, a partir da viagem ao espaço, desenvolver um produto para assentar os cabelos no espaço. E qual não foi a minha surpresa quando a Nasa respondeu ao meu pedido dizendo que tinha interesse em me convocar para uma missão no espaço. Fiquei feliz, mas o inesperado aconteceu. Eu ia começar os testes na Nasa quando o ônibus espacial Challenger explodiu (o acidente ocorreu no dia 28 de janeiro de 1986, 73 segundos após a decolagem, matando todos os seus ocupantes). Depois do acidente a Nasa cancelou todos os testes de voo e perdi uma grande chance de conhecer o espaço. Mas quem adorou a notícia foi minha mãe, que estava preocupadíssima com a ideia de sua filha ir para o espaço”, finaliza Perola.

Serviço

Perola Halikman

Telefone: 407-748-6597

pearlhman@gmail.com

Facebook.com/copacabanaart


WaltherAlvarenga

Walther Alvarenga



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